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 'Já me demitiram de um cemitério por sorrir muito', diz coveira de Arujá


Foi pensando na baixa concorrência feminina para o cargo, que Andréa Magalhães, de 36 anos, decidiu prestar concurso para coveiro em Arujá. E a tática deu certo. Dos mais de 300 candidatos para as cinco vagas disponíveis, havia apenas cinco mulheres concorrendo. Andréa passou em 6º lugar no concurso, e após a desistência de um dos aprovados, foi chamada. Atualmente, ela é a única mulher a ocupar a vaga predominantemente masculina nos cemitérios públicos da região do Alto Tietê, na Grande São Paulo. Apesar do serviço pesado, ela trabalha sorrindo e contagia o ambiente dos cemitérios municipais da cidade com o seu toque feminino.

Eu já trabalhei na recepção de um cemitério particular da cidade, onde não parava ninguém porque o clima é muito triste. Fiquei três meses, mas fui demitida porque sorria muito. Decidi prestar concurso público para ter estabilidade. Quando abriu a seleção em 2011, procurei uma vaga que fosse quase certeza de que passaria. Vi que havia cinco vagas para coveiro e não tive dúvidas. Sabia que não é todo mundo que gosta desse trabalho e haveria poucas mulheres concorrendo. Não tenho medo dos mortos, então pra mim é tranquilo. Eu queria muito estar aqui trabalhando e consegui”, contou.

A maquiagem, os brincos grandes e as unhas feitas e decoradas fazem parte do visual da coveira durante o trabalho. “Mesmo trabalhando com terra, faço questão de me arrumar todos os dias. Pela manhã estou impecável. Dependendo de quantos enterros tem, fico meio descabelada, mas tudo bem”, brinca. Ela faz, em média, oito enterros por semana. “Em épocas de festas, aumenta bastante. No carnaval tivemos sete enterros em um único dia. Ai é enterrar e ir correndo tomar um banho em seguida”, declarou.

O trabalho exige muito esforço físico. Às vezes um caixão chega a pesar mais de 100 quilos. “Cavar a cova também exige braço. Eu larguei a academia depois que comecei a trabalhar aqui, porque chego em casa exausta. Mas dou conta”, garante.

Para ela, o esforço físico não é nada comparado às exumações. Engana-se quem pensa que Andrea pede socorro aos companheiros de trabalho quando o serviço está pesado. “Só peço ajuda dos meninos quando vejo uma barata. Tenho pânico, muito medo delas. Por isso ainda não consegui entrar em um túmulo. Os meninos entram primeiro, espantam as baratas e depois eu faço a exumação”.

O lado emotivo também fica mais evidente dependendo da história do enterro. "Quando é criança, a gente sente mais. O que me corta o coração também são as mães. Elas sofrem muito enterrando os filhos, fico chateada quando vejo. Mas o que me consola é que de certa forma estou podendo ajudar aquela pessoa em um momento díficil."

A coveira diz que nunca passou por uma situação de preconceito. “Os meninos que trabalham comigo nunca fizeram piadinhas ou duvidaram de que eu conseguiria fazer o serviço. Muito pelo contrário, me tratam de igual para igual! Na verdade, é comum a família do morto me dar parabéns pelo trabalho. Falam que tem muito homem que não faz o serviço que eu faço”, comentou.
A família também se acostumou. "Antes eles falavam para eu não trabalhar com isso. Agora, que já faz um ano que estou trabalhando, eles estão mais acostumados", conclui.


Fonte: Do G1 Mogi das Cruzes e Suzano


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