Embora a morte represente a elevação da alma para um nível mais alto, mesmo assim continua sendo uma experiência dolorosa para os sobreviventes. Ao mesmo tempo, deve servir – como devem todas as experiências na vida – como uma lição. Devemos ver a morte não como uma força negativa, mas como uma oportunidade de crescimento.
Como a morte provoca emoções tão fortes, devemos ter uma canal livre através do qual as expressamos, para que a dor cicatrize de maneira construtiva. Quando morre um ente querido, surgem duas emoções fortes e conflitantes: a tristeza pela perda e confusão sobre o futuro. Os Sábios nos ensinam que seria bárbaro não prantear, mas que não devemos prantear por mais tempo que o necessário. Uma semana de luto é suficiente; de outra forma, a morte da pessoa se torna uma presença em si, continuamente nos entristecendo e impedindo nosso progresso na vida.
Mas por que devemos refrear nosso sofrimento e tristeza naturais pela morte de um ente querido? A dor é um sentimento, afinal, e os sentimentos não podem ser controlados, podem? Não é errado estabelecer limites em nossa dor, ou tentar canalizá-la para uma determinada direção?
Sim, sentimentos são sentimentos, mas podemos escolher se vamos senti-los de maneira produtiva ou destrutiva. A chave neste caso é entender a morte pelo que ela é, celebrar seu elemento positivo: um enlutado deve perceber que a alma de seu ente querido agora chegou a um local ainda mais elevado do que aquele que ocupava na terra, e que continuará a se elevar.
É este ato de reconciliar esta percepção positiva contra nossa dor que pode transformar a morte de uma experiência traumática numa catarse.
Diminuir nossa expressão de dor é inadequado e doentio, mas permitir que nosso sofrimento nos domine é esquecer de maneira egoísta o verdadeiro significado da morte – o fato de que a alma de um justo encontrou um lar ainda mais justo.
Como o forte vínculo entre uma mãe e filha ou entre marido e mulher é espiritual, permanece forte depois da morte.
O luto também nos ajuda a reter este vínculo, pois a alma de uma pessoa que partiu, eterna e intacta, vigia as pessoas com as quais era próxima. Todo ato de bondade lhe dá grande prazer e satisfação, especialmente quando estas ações são feitas na maneira que ela ensinou, seja por instrução ou exemplo.
A alma está plenamente cônscia daquilo que está acontecendo aos amigos e parentes que ela deixou para trás. A alma fica triste quando eles passam por sofrimento ou depressão indevidos, e se alegra quando eles seguem em frente, além do sofrimento inicial e continuam a construir suas vidas e a inspirar aqueles que os rodeiam.
Não há maneira de substituir um ente querido que se foi, pois cada pessoa é um mundo completo. Porém há uma maneira de ajudar a preencher o vazio. Quando a família e os amigos suplementam seus costumeiros atos de bondade com ainda mais atos de bondade em nome do falecido, eles continuam s obra de sua alma. Ao realizar estas ações em memória de um ente querido, podemos construir realmente um memorial vivo.
Porém depois que tudo foi feito e dito, a morte pode ser uma experiência incompreensível, devastadora, para aqueles que são deixados para trás. Apesar de todas as racionalizações, todas as explicações, o coração ainda chora. E deveria chorar.
Quando um amigo ou parente está lamentando por um ente querido, não tente explicar: apenas esteja ali com ele. Procure consolá-lo, e chore com ele. Não há nada que você possa realmente dizer, pois não importa o quanto tentemos, devemos aceitar que muitas vezes não entendemos os caminhos misteriosos de D’us.
Peça a D’us para que chegue finalmente o dia em que não haverá mais a morte, quando “a morte será engolida para sempre e D’us enxugará as lágrimas de todas as faces” (Yeshayáhu 25:8).
Fonte: chabad.org.br