O luto só acontece por morte?
No desenvolvimento do ser humano, há períodos mais significativos, que precisam ser vividos para que novas experiências possam acontecer. Não mais brincar de boneca, ter que assumir maiores responsabilidades, ser aceito por um grupo, estas são experiências que marcam a passagem para a adolescência. O corpo se transforma, não é mais possível identificar nele as características que tinha faz tão pouco tempo, ao mesmo tempo que ainda não estão definidas suas novas características. Algo semelhante acontece com as idéias, sonhos e interesses do adolescente. A infância fica para trás, para que a adolescência tome lugar e, depois, a vida adulta.
Sem perceber, o adolescente está enlutado por essas transformações, ao mesmo tempo necessárias e dolorosas. Às vezes fica confuso, com vontade de brincar com as coisas que já considera de criança pequena, envergonha-se por ter alguns medos que pensava ter superado e, ao mesmo tempo, alegra-se com a possibilidade de novas conquistas.
Este é um luto natural, próprio do crescimento e do desenvolvimento. Nem por isso, deixa de ser uma experiência difícil.
Como o adolescente identifica que está enlutado?
Há muitas maneiras de amar, assim como há muitas pessoas diferentes para serem amadas. Consequentemente, há muitas maneiras de ficarmos de luto e de identificarmos o luto que ocorre quando uma relação significativa é rompida, seja por morte ou outra causa, como separação ou mudança.
As reações típicas do luto são: tristeza, revolta, vontade de ficar sozinho, choro (muitas vezes repentino, que deixa o enlutado muito envergonhado, por não controlar suas emoções), sentimento de culpa. Algumas pessoas passam a ter problemas para dormir, outras para comer, enquanto outras ainda fazem uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de drogas, inclusive tranquilizantes. Algumas pessoas ficam doentes.
No entanto, essas reações tendem a desaparecer, à medida que a pessoa enlutada vai se dando conta da realidade da perda, pode contar com apoio de seus amigos e familiares e se propõe a enfrentar a vida, sem aquele ou aquela que perdeu. É encontrado um novo jeito de viver, no qual a pessoa que morreu não é esquecida e sim, transformada em uma memória, da qual se lembra e se fala com saudade, da qual se guardam recordações, boas e más.
Existe um tipo de perda mais difícil ou um luto pior?
Há fatores mais propícios para o luto chamado complicado. Estes fatores estão relacionados ao tipo de morte (se foi repentina, violenta, após longo período de doença), à relação que havia entre o enlutado e a pessoa que morreu, às características de personalidade do enlutado e sua experiência prévia com perdas, ao tipo de apoio que o enlutado recebe dos que lhe estão próximos (amigos, familiares, vizinhos, professores, por exemplo) .
Os pesquisadores do tema afirmam que o luto mais difícil de ser enfrentado e superado está relacionado à morte de um filho ou uma filha, de maneira repentina e violenta. Ou seja: suicídio de filho traz consigo essas características e suas consequências para a família enlutada são de longa duração, podendo mesmo causar efeitos muito danosos ao relacionamento familiar. Há aqueles que dizem que a morte de um filho dura para sempre.
O que posso fazer para ajudar meu amigo enlutado?
É importante destacar que tudo o que se sabe sobre luto não é suficiente para descrever uma reação de uma pessoa em particular. Ou seja: cada pessoa vai viver a perda da sua própria maneira, muitas vezes parecendo incompreensível, estranha, difícil de conviver.
Para ajudar seu amigo, pode ser muito útil você perguntar a ele como ele quer ser ajudado. Talvez ele não saiba dizer. Talvez ele diga que quer apenas ficar sozinho. Ou que não quer ser um estraga-prazeres, que vai ser uma companhia ruim. Procure mostrar a ele que vocês são amigos para todas as horas, as boas e as más, e que você está disposto a mostrar isto a ele. Mas só diga isto se for realmente o que você sente. Muitas vezes, uma companhia, mesmo que silenciosa, que saiba ouvir e oferecer o ombro, é muito mais valiosa que muitas palavras e conselhos sábios.
Às vezes penso que poderia ter sido eu no lugar dele...
Pode ocorrer de o jovem se comportar de maneira a desafiar limites, pensando que nada irá lhe acontecer, que ele sabe bem como sair dos problemas, ou que tem controle sobre todas as situações. Pode ocorrer também que nada disso aconteça e esse jovem se dê mal. Um acidente de carro, um uso exagerado de bebida alcoólica ou de alguma droga, a prática de um esporte sem os cuidados necessários. Uma brincadeira que depois a gente acha que foi boba... desnecessária... tudo isso pode levar o adolescente à morte.
Os amigos ficam chocados, não conseguem acreditar no que aconteceu e se sentem impotentes para fazer alguma coisa com seus próprios sentimentos e os de outras pessoas que também sofrem: os outros amigos, a família, os professores.
Nessas horas, é muito importante que os amigos possam se reunir e falar sobre o acontecido. Vão notar que as pessoas têm reações diferentes, às vezes parecem ser até mesmo reações incompreensíveis, diferentes daquilo que seria esperado. Não se assuste: o luto mostra-se por meio de muitas caras, pode mesmo ser confundido com indiferença, raiva, problemas na escola, nos relacionamentos. Alguns dias são mais difíceis, em especial as datas comemorativas, como o aniversário da pessoa que morreu e, ainda mais especialmente, o aniversário da morte.
De que maneira posso ajudar meus amigos que perderam alguém?
As maneiras são muitas e, ao mesmo tempo, uma só. Estranho? Pois pense um pouco: há muito o que você pode fazer: convidar seu amigo para sair, para viajar; sentar com ele e ouvi-lo; permitir que ele expresse os sentimentos em relação ao morto, a si mesmo e a demais pessoas envolvidas, por mais estranhos que esses sentimentos pareçam; ajudá-lo em tarefas práticas; dar-lhe tempo e atenção. A melhor coisa, porém, será a que ele escolher, que ele pedir. Portanto, não deixe de perguntar a ele o que ele quer que você faça. Ele sabe o que é melhor para ele, pode acontecer de ele não saber pedir e você vai ajudá-lo nisso.