Segundo as leis da probabilidade (ou da natureza, dirão alguns), pais morrem antes de seus filhos. Infelizmente, isso não é verdade absoluta. Tão ou mais dramático do que uma mulher morrer no parto é a mãe e o pai perderem seu filho, recém-chegado ao mundo ou “homem feito”, com algumas décadas de vida.
A morte do jovem é a ruptura de paradigmas nos quais aprendemos a acreditar. Violência urbana, acidentes de toda espécie, doenças que ainda não sabemos curar ou a pura falta de assistência digna de saúde, esses são apenas alguns dos motivos que levam jovens ao óbito precoce.
O sofrimento no luto tem tamanho?
Há quem diga que enfrentar uma enfermidade prolongada dolorosamente prepara o espírito dos pais para lidarem com a perda que se avizinha, em contraponto à morte súbita, a qual surpreende, destroça nosso coração, nos deixa sem palavras. Há controvérsias, é provável que se perguntássemos aos pais de ambos os grupos sobre seu sofrimento não conseguiríamos encontrar tantas diferenças ou quantificá-las de modo preciso.
É fato que, como terapeuta, é preciso levar em conta todo o conhecimento científico acerca dos processos de luto nas famílias, e parece mesmo que algumas variáveis agravam ou amenizam o processo de luto nas famílias. Entretanto, isso posto, voltamos ao ponto de partida: cada um sentirá a dor da perda do jeito que as condições lhe permitirem. Não há dor maior ou menor que outra, seja física ou psíquica. Para alguém com problema no dedinho do pé esquerdo, o mundo se transforma num sofrimento, caminhar fica difícil, o problema atrapalha dormir, calçar o sapato é tortura. Outra pessoa tem a articulação do quadril profundamente desgastada pelo tempo, e isso lhe doerá infernalmente, de forma ininterrupta. Tanto quanto o dedinho do outro.
Então não vale tentar confortar um pai ou mãe enlutados contando-lhes histórias de perdas aparentemente mais trágicas (a família que perdeu três crianças de uma vez só no ônibus escolar que capotou, os gêmeos prematuros que morreram na UTI neonatal, etc.). Dor é dor. Ponto final. Nunca conseguiremos sentir com precisão tudo que atravessa a mente e o coração dos pais que vivenciam a perda. Resta-nos respeitar, acolher e apoiar.