Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre
Carlos Drummond de Andrade
Final de ano, tempo de balanço, reflexão e intenções para o ano vindouro. Nós, que trabalhamos com a morte, sabemos o quão doloroso e nostálgico é esse momento na vida das famílias enlutadas. Contudo, não podemos perder de vista o quanto o segmento de cemitérios, crematórios e funerárias têm investido para atender e compreender cada vez mais esse processo junto com os familiares.
Já discutimos em textos anteriores o quanto somos privilegiados por poder trabalhar com a morte e voltar todos os dias para nossas casas e para nossas famílias, contudo não estamos livres dela, que mais cedo ou mais tarde, anunciará o fim de nosso ciclo.
A verdade é que todos somos parte de um grande e misterioso ciclo vital. Essa é nossa condição humana: sabemos muito de algumas coisas e nada de outras.
Embora saibamos pouco sobre o ciclo da vida, é nossa tarefa saber muito sobre a morte naquilo que ela tem de mais concreto: um corpo morto, uma família em sofrimento e um ritual por fazer.
Em 2007, escrevemos sobre a importância de o segmento olhar para seus colaboradores como profissionais que precisam de formação especializada e de investimentos cada vez mais consistentes no que se refere à formação e treinamento adequado. Temos tido a oportunidade de acompanhar algumas ações neste sentido e colher bons resultados.
Mais uma vez colocamos como projeto para 2010 que as instituições que lidam direta ou indiretamente com a morte possam investir na profissionalização de seus colaboradores. Persistimos em nossa crença acerca da capacitação dos funcionários como forma de contribuir significativamente para a mudança de imagem do setor funerário em nossa sociedade. Acreditamos que ao invés de "papa-defuntos" os agentes poderão, em um futuro próximo, serem chamados de aconselhadores ou agentes de apoio à família em luto. Há muito que aprender e ensinar no que diz respeito ao trabalho com a morte, desde questões de ordem administrativa, àquelas relativas ao relacionamento humano.
No balanço de 2009, tivemos boas notícias quanto a caminhada no sentido da profissionalização do segmento.
O SINCEP- Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil, capacitou cerca de 100 pessoas e o desenvolvimento do setor funerário vem a cada dia se modernizando e procurando excelência no atendimento às famílias enlutadas.
Recentemente fizemos contato com Portugal, que abriu a primeira escola para Agentes Funerários.
Visitamos vários estados para fazer treinamento e discutir questões de importância crucial. Há uma enorme preocupação em preparar os profissionais e uma grande ênfase nessa formação é a psicologia do luto.
Sabemos das dificuldades que esse segmento enfrenta e reafirmamos nossa intenção de que esse setor, tão marginalizado, possa ser visto por ações diferenciadas que leve em consideração a ética e a humanização.
Como diz nosso poeta Drummond, "não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-la na gaveta" basta ter metas e ações bem delineadas para o ano novo que se inicia.
Em 2010, esperamos que as empresas do setor funerário reconheçam cada vez mais, a importância da qualificação de seus funcionários para o desenvolvimento de um atendimento ético e humanizado, voltado para as famílias enlutadas. Lembrando que o capital humano continuará sendo o maior diferencial que sua empresa poderá oferecer.
Boas festas!
Fonte: Ana Lúcia Naletto e Lélia Faleiros Oliveira são psicólogas do Centro Maiêutica e desenvolvem trabalhos na área de luto em cemitérios, crematórios e funerárias.
www.centromaieutica.com.br