A flexibilidade é uma das competências mais exigidas pelo mercado de trabalho. Aqueles que almejam ascender na carreira não devem se esquecer de exercê-la sem, contudo, abrir mão do equilíbrio.
Com os avanços tecnológicos, temos a impressão de que o tempo hoje passa com uma rapidez vertiginosa. Isso nos força a ter uma certa agilidade na tomada de decisões e nas reações às circunstâncias que nos cercam.
Quando nossa personalidade é rígida em excesso, ficamos seriamente prejudicados em nossos relacionamentos e ações. Aprender, então, a exercitar o famoso "jogo de cintura" é mais que necessário.
Para exercitar a flexibilidade com equilíbrio, o primeiro passo é se lançar a um mergulho dentro de si mesmo, buscando identificar a deficiência da rigidez, um dos maiores sabotadores de sua vida pessoal e profissional.
O grande humanista González Pecotche, criador da Logosofia, nos mostra com clareza ímpar as mazelas da rigidez e de que forma ela atua, fechando as portas àqueles que a têm como marca do temperamento.
Assim ele a descreve: "A rigidez conduz os seres à intransigência pelo endurecimento que promove nos condutos sensíveis. Todo o sentimento de conciliação é anulado pela força dessa falha temperamental, que raramente se abranda, nem mesmo ante às exigências da realidade".
Prossegue ele: "É próprio do rígido o excesso de zelo no desempenho de suas funções, sendo isso causa de sua inflexibilidade com os que estejam sob suas ordens. A rigidez induz e até obriga o ser a confiar unicamente em seu juízo. Dificilmente concorda em considerar viáveis outras opiniões que não sejam as próprias. Ela paralisa a ação dos pensamentos construtivos, que necessitam se mover com liberdade. A rigidez inabilita o ser para superar as limitações do seu juízo, condenando-o ao equívoco".
Nem sempre os rígidos se dão conta de que possuem essa falha. Ela atua de modo sutil e levando-os ao engano de tachar o semelhante de rígido, sem perceber que estão projetando no outro sua própria deficiência. Uma pesquisa realizada com cerca de 10 mil executivos constatou que pelo menos 75% tinham baixos níveis de flexibilidade. Em certas organizações, este percentual atingiu os 90%.
Identificando-se como uma pessoa rígida, saiba que certamente sua inflexibilidade o está impedindo de buscar novos caminhos de melhoria e está engessando seus relacionamentos.
Para combater a rigidez colocando em seu lugar a flexibilidade, você deve procurar exercitar em seu cotidiano a condescendência, a tolerância e a conciliação. Busque sempre entrar num consenso com os seus colaboradores e colegas de trabalho.
Ser flexível faz você enxergar as coisas pelo melhor ângulo. Não paralisa suas ações e decisões. Faz com que você ouça as pessoas sem interrompê-las, não se achando o dono da verdade. Amplia os seus horizontes, libertando–o da armadilha de suas idéias pré-concebidas.
A flexibilidade abre diante de você a perspectiva do novo, que promoverá a renovação em sua vida. Ela o auxiliará a eliminar atitudes forçadas e estereotipadas, comportamentos travados e pouco produtivos, revisão de conceitos errôneos que minam seus relacionamentos.
Fazendo um balanço de sua vida até o momento presente, tente se lembrar das coisas que você perdeu, das tristezas que causou nas outras pessoas e das portas que fechou atrás de si mesmo por não admitir que pudesse estar errado.
Eliminando definitivamente a rigidez você irá liberar o seu lado criativo, freqüentemente embotado pelo seu excesso de censura íntima. Também os negociadores devem ter em mente que a flexibilidade do "conceder agora para conquistar depois" pode levar ao tão almejado "ganha-ganha". Aqueles que ocupam cargos de liderança devem ter a flexibilidade como qualidade fundamental. Assim, estarão sempre abertos à quebra de paradigmas e às idéias criativas de seus liderados, levando-os ao crescimento.
Em ambientes econômicos muito instáveis, como os países emergentes, os executivos se vêem às voltas com instabilidades constantes: trocas de moedas, planos econômicos mirabolantes, reformas políticas e fiscais, câmbio fragilizado. Isso os impele a uma maior flexibilidade no estilo de gestão. Suas decisões devem acompanhar as mudanças conjunturais. Em contextos econômicos mais estabilizados, os executivos podem cultivar um estilo mais cuidadoso, pois mudanças bruscas de direcionamento podem causar efeitos desastrosos nas organizações que pilotam.
Ser uma pessoa flexível não significa que você se tornará volúvel ou "Maria vai com as outras". Ser flexível é saber dizer "Sim" e "Não" no momento oportuno. É saber falar e também saber calar. Ser flexível é adaptar o seu discurso aos mais variados tipos de interlocutores. Ser flexível é ser empático, tentando ver as coisas também pelo foco do semelhante, e fazer um balanço entre o que possa ter valor e o que deva ser descartado.
Princípios básicos da flexibilidade:
1. Ter o olhar atento para enxergar oportunidades em vez de ameaças.
2. Transformar atitudes e comportamentos defensivos em produtivos e construtivos.
3. Escolher o momento certo para conceder e para exigir.
4. Saber ver as situações pela própria ótica e pela do semelhante.
5. Abrir mão de um objetivo quando o mesmo já não tem razão de ser.
6. Aprimorar o processo de comunicação certificando-se de ser compreendido.
7. Ser ponderado em suas opiniões e decisões.
8. Procurar fazer as coisas de diferentes formas.
9. Identificar interesses comuns e complementares em situações de conflito.
10. Saber usar o equilíbrio entre ambientes, pessoas e situações.
No início deste artigo, nos referimos ao uso da flexibilidade com equilíbrio. Isso se deve à extrema necessidade de não perder de vista que o excesso de flexibilidade no comportamento pode levar a conseqüências graves. Sua flexibilidade não poderá nunca impedi-lo de cumprir seus compromissos, respeitar suas próprias determinações e diretrizes, honrar sua palavra empenhada, respeitar prazos e metas estipulados, controlar seu próprio tempo e se fazer merecedor da confiança de seus pares. Ancore suas atitudes sempre na prudência, na sensatez e no senso de medida. A chave da sabedoria em sua vida é o equilíbrio.
A flexibilidade vai torná-lo mais disposto ao diálogo a ao saudável intercâmbio de idéias que, em última instância, é o que possibilitará o seu crescimento mental, emocional e espiritual.
* Maria Aparecida A. Araújo é consultora de Comportamento Profissional, Etiqueta Social e Internacional, Marketing Pessoal, Cerimonial e Protocolo; palestrante e facilitadora de cursos especiais; consultora do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear. É graduada em Letras, com Licenciatura em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa. Diretora da Etiqueta Empresarial Executive Manners Consulting, com 21 anos de experiência em atendimento de excelência ao cliente.