Um pensamento que se repete, um impulso incontrolável de fazer alguma coisa que aparentemente não faz sentido. Lavar a mão a todo momento, checar insistentemente se uma tarefa, - como apagar a luz - foi mesmo cumprida. Para muita gente pode parecer mania, ou até loucura.
Mas esse comportamento, que acaba, inclusive, trazendo prejuízos para a vida da pessoa, é o principal sintoma do TOC - o transtorno obsessivo-compulsivo. Muita gente não sabe, mas ele também é comum em crianças. As famílias têm dificuldade em reconhecer o comportamento nas crianças.
O que para a maioria das pessoas é um hábito comum, lavar as mãos, para o menino Douglas de 13 anos, era uma obsessão. “Com 7 anos, ele começou a lavar muito as mãos. Estava brincando, parava e ia lavar as mãos. Eu observava e perguntava por que ele estava lavando as mãos. Ele dizia que estavam sujas. De repente, ele começou a cheirar as mãos. Ele ficava nervoso e cheirava as mãos.”, conta a mãe do adolescente.
“Se eu não lavasse as mãos, ficava nervoso”, lembra o menino.
No começo, a família não levava muito a sério. “Achava que era um menino sistemático, que ele gostava de fazer as coisas várias vezes, que era mania”, aponta o pai de Douglas.
Mas não era. Um dia Douglas teve uma crise. “Uma vez ele estava tomando banho e um pelo da toalha ficou no braço dele. Ele ficou gritando desesperado, gritando no banheiro, dizendo que tinha alguma coisa entrando na pele dele. Começou a chorar, desesperado. Eu peguei no colo, conversei. Mas ele ficou muito desesperado. Foi aí que eu percebi que alguma coisa errada estava acontecendo com ele”, descreve a mãe do jovem.
O menino começou a se tratar com uma psiquiatra e veio o diagnóstico: ele tinha transtorno obsessivo-compulsivo, conhecido como TOC.
“Você vai juntando um pouco de cada coisa e de repente descobre que ele tem um problema que você nem conhece. Ele chorava muito, sofria muito. Foram muitas madrugadas com ele tremendo, chorando. Ele não sabia o que estava acontecendo com ele”, lembra a mãe de Douglas.
Há cinco anos Douglas está se tratando. Tem um dia-a-dia normal, voltou a brincar no computador, voltou a ser simplesmente criança. “Agora é outra criança. Ele brinca, conta piadas, ri, é alegre”, comemora a mãe.
Tiago também quer apenas poder brincar como todo menino da idade dele. “Meus amigos riem de mim. Eu não gosto. Eles falam que eu tenho um problema e eu não respondo nada”, conta o menino.
Ele se trata na Santa Casa de Misericórdia. Faz terapia, toma medicamento. Quando tinha 7 anos, os primeiros sintomas da doença começaram a aparecer e até hoje alguns ainda acompanham Tiago.
“Colocar a língua para fora, bater no queixo, no nariz, e rasgar papel. Quando eu estou muito nervoso, eu rasgo papel. Isso acontece várias vezes, não paro. Quando dá vontade de fazer, se eu não faço, penso que alguma coisa ruim vai acontecer”, descreve Tiago.
A avó dele conta que conviver com alguém que tem o transtorno não é fácil: “É muito difícil, tem que ter muita paciência, tem que contar até três mesmo porque senão você perde paciência, porque irrita muito, muito mesmo. Eu fico muito irritada. Às vezes eu um grito e ele diz que não consegue parar, chora, diz que quer parar com essas manias”.
Com 5 anos de tratamento e uma vida pela frente Tiago tem um sonho especial: “Parar com essas manias. Falar para os meus amigos que isso vai passar, que isso não é defeito, que é da minha família. Eu quero me curar e vou conseguir”.
O psiquiatra Fábio Barbirato fala, em vídeo, sobre os sintomas e o tratamento do TOC em crianças.
Quem quiser informações sobre o tratamento, pode procurar a Santa Casa de Misericórida, na Rua Santa Luzia, 206 – Centro. O telefone é 2533-0118.