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   A Escolha da Cremação pelo Falecido

Aos nossos leitores

Temos tratado do tema “cremação” nos últimos textos postados no FOL e para quem não acompanhou os anteriores, o primeiro versa sobre o crescimento dos crematórios no Brasil, o segundo aborda os fatores que levam a família em luto escolher pela cremação.

Nossa intenção neste texto é abordar a escolha da cremação sob o ponto de vista do falecido, lembrando que nossa base de dados para analisar cada fator é uma pesquisa feita junto a famílias que cremaram seus entes queridos e se prontificaram falar sobre o assunto para que os dados nos servissem para melhoria e crescimento do segmento.

A Escolha da Cremação pelo Falecido

Se a família opta pela cremação, preocupando-se em não contrariar a vontade do falecido idealizado, agora sem possibilidade de contestar, de reagir e, portanto indefeso diante dos “ataques” que possa eventualmente receber daqueles que contrariam a sua vontade, observamos que o falecido tinha outras razões para manifestar sua escolha pela cremação. A análise das entrevistas nos mostra que o “medo” é a principal delas. O medo de algo a ser enfrentado motiva muitas pessoas a optar pela cremação, contudo o tipo de medo vai diferir de pessoa para pessoa.

Medo de Causar Sofrimento em Quem Fica

Meus pais achavam que ir ao cemitério para visitas era mais um movimento de dor. Então eles falavam “Vocês cremam, eu acho que é mais higiênico, menos sofrido”. (TRECHO DA FALA DE UM ENTREVISTADO)


Este trecho acima demonstra que o falecido viu na cremação a possibilidade de poupar seus filhos de maior sofrimento decorrente da perda, na medida em que acreditava que se não tivessem um local para visitar, sentir-se-iam menos compromissados com esta prática e conseqüentemente sofreriam menos. No imaginário deste pai, reviver a morte em visitas ao cemitério representava sofrimento e por isso ele evitava.

Durante uma situação de exumação, presenciada por uma família em visita ao cemitério, a mãe diz para as filhas:

“Quando eu morrer, eu não quero passar por isso (exumação), eu não quero nenhuma de vocês duas (filhas) passem pelo que aquela família (que acompanhava a exumação) estava passando, por isso eu quero avisar que quero ser cremada”
(TRECHO DA FALA DE UM ENTREVISTADO)


Podemos observar aqui também que a mãe deixa clara a intenção de proteger suas filhas do sofrimento e do desconforto de ter que assistir à uma exumação e por isso faz a opção pela cremação.

Medo do Corpo Ter Sensações Após a Morte

“ A lembrança que eu tenho é o caixão caindo e um monte de baratas. A minha mãe saiu gritando “Barata! barata!”.... e foi a partir daí que, toda vez que ela tocava no assunto, ela dizia “eu não quero nem saber disso porque eu vou ser cremada”. (TRECHO DA FALA DE UM ENTREVISTADO)


Diferentemente do caso anterior, o medo expresso neste trecho é o do corpo após a morte, (HOELTER, 1979), no qual o indivíduo teme pela imagem e sensações de seu corpo após a sua morte. A mãe da entrevistada temia sentir medo e sensações desagradáveis com a presença de baratas, visto que ela também temia em vida o tipo de animal.

Uma mãe que perdeu sua filha de 6 anos, relata:

“Quando foram exumar, os ossos dela iriam ficar no muro do cemitério e eu achava aquilo tudo muito triste e feio. Já pensou os ossos de minha filha no muro, sem enfeites, sem nada?então procurei o serviço de cremação para tirá-la de lá” (TRECHO DA FALA DE UM ENTREVISTADO)


O relato acima também expressa o medo do corpo após a morte, na medida em que sugere querer que o corpo da filha desfrute de um lugar alegre, pueril. Observamos também neste relato, a tentativa de presentear o morto com um ambiente alegre e bonito.

Medo de Separar-se, de Deixar o Morto Sozinho

...“Acho que ela também queria ter minha sobrinha por perto o tempo todo, por isso quis cremar. Depois que ela cremou os ossos, ela enterrou tudo no jardim da chácara que minha mãe mora e plantou uma azaléia, que é a única do lugar para destacar e colocou uns enfeites de jardim, daqueles de bichinhos que ela adorava.” (TRECHO DA FALA DE UM ENTREVISTADO)


O trecho acima revela a necessidade que a mãe tinha de ficar próximo à filha, de forma que o cemitério as afastaria, no imaginário da mãe, que então resolveu trazê-la para o quintal da casa. A possibilidade de guardar as cinzas próximo de si, pode configurar um fator de decisão pela cremação principalmente para as pessoas que mantém o apego pela pessoa falecida, mas necessitam do concreto para dar sentido a própria dor.

Como os leitores viram, são vários os fatores que pesam na decisão de uma pessoa que opta pela cremação e a maioria deles são de cunho psicológico. Por isso sempre orientamos os vendedores e proprietários de crematórios a não forçarem a venda da cremação porque se a família fizer uma escolha precipitada poderá arcar com danos psicológicos importantes para o bom andamento do processo de luto.


Fonte: Maiêutica


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