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   A Hora da Morte

No primeiro episódio de Minhas Últimas Palavras, produção holandesa que estréia nesta quinta no canal pago Eurochannel, o carpinteiro Jan van Driel devota-se a uma tarefa lúgubre: planejar o seu enterro. Vítima de câncer, Van Driel, de 58 anos, preenche os meses derradeiros com a criação de uma escultura para adornar seu túmulo e de uma trilha sonora para o velório. Ao final do programa, pode-se ver o resultado desse esforço – e o que torna tudo mais perturbador é que não se está diante de um personagem fictício. Minhas Últimas Palavras é um reality show sobre a morte. Em cada episódio (são quatro, ao todo), acompanha-se o drama de um doente terminal, cuja biografia é repassada desde os tempos em que levava uma existência normal até a luta contra a enfermidade (em todos os casos, alguma forma de câncer). O paciente, seus parentes e amigos dão depoimentos sobre questões como o medo de morrer e o modo como lidam com o fato no dia-a-dia. O ponto alto é a gravação de uma mensagem póstuma, só mostrada à família e aos conhecidos seis meses depois da morte. Além do carpinteiro, há a história de uma jovem que se despede com uma festa e a de uma idosa que acaba internada no mesmo abrigo para moribundos em que atuou como enfermeira. Fala-se, por fim, de uma mulher de meia-idade que recebe a extrema-unção diante da câmera.

Encarar a morte de forma tão direta é afrontar um tabu. Se até o século XIX os doentes eram retratados em seu leito de morte por meio de pinturas e fotografias, hoje o fim da vida é uma experiência restrita às enfermarias. Mas a regra volta e meia é questionada. Em 2005, um ensaio fotográfico que mostrava pessoas antes e depois da morte fez sucesso na Europa. Mais recentemente, o professor universitário Randy Pausch se converteu em celebridade nos Estados Unidos ao expor sua condição de paciente terminal. Em breve, entrará no ar na Alemanha um canal dedicado ao tema. O EtosTV mostrará documentários sobre cemitérios e dicas para organizar um funeral. Há boas razões para apostar no que já é chamado de "TV Morte" e num programa como Minhas Últimas Palavras: como a população dos países desenvolvidos está envelhecendo, essa é uma questão mais premente a cada dia.

Antes de estrear, o reality show provocou protestos na Holanda, pois se temia que os doentes fossem expostos de forma deprimente. Na verdade, o que se vê é um tributo digno e comovente a essas pessoas. Não foi fácil encontrar quem se dispusesse a participar. "Tivemos a ajuda de hospitais e igrejas. Mas é complicado para pacientes e familiares abrir-se nessa hora", disse a VEJA o diretor Roy Aalderink. O programa escancara a distância entre ter consciência da morte e aceitá-la. Num episódio, a mãe da doente se dispõe a participar, embora frise que a filha não vai morrer. No momento em que se exibe o depoimento póstumo, parentes e amigos desabam. Para os pacientes, a chance de deixar esse documento para a posteridade foi um alento. "Adiamos a estréia duas vezes, porque os doentes viveram cinco a seis meses mais do que os prognósticos indicavam", diz o diretor.



Fonte: http://veja.abril.com.br / Marcelo Marth


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