Muito se vem alardeando a respeito das oportunidades que a elevação do grau de risco do Brasil, o chamado investment grade, pode trazer às empresas e à economia brasileira como um todo. Para quem ainda está por fora do assunto, esse assunto tem a ver com a recomendação que agências de risco e grandes bancos de investimento internacionais fazem sobre cada país. Como o Brasil, em função de seu histórico de dificuldades econômicas, ainda não recebeu a recomendação no nível de investimento, investidores estrangeiros mais conservadores e grandes fundos de pensão evitam investir aqui com perspectivas de longo prazo.
Uma vez obtido o investment grade, o que muda? Basicamente, um grande volume de investimentos passará a ter como destino o Brasil. Segundo economistas, isso não deve se traduzir em grande alta no mercado de ações, pois investidores com apetite para o risco já apostaram suas fichas nessa conquista do país, investindo maciçamente nas ações de empresas brasileiras e proporcionando uma alta nos preços. Por outro lado, esse capital com perspectivas de longo prazo que entrou, em parte substituindo um capital especulativo, vem para ficar e, por isso, para dar estabilidade aos movimentos de nossa bolsa de valores. Quanto menos especulativo o capital, menor a rotatividade dos papéis e menos intensos são os altos e baixos. O índice Bovespa deve passar a traduzir, cada vez mais, um ritmo de crescimento compatível com a realidade das empresas, algo entre 10 e 30% ao ano – caso não haja grande interferência de efeitos extremos como guerras e desequilíbrios políticos. Por isso, o cenário mais otimista para o mercado de ações em nada deve lembrar os últimos anos de grande fartura.
Por outro lado, a provável enxurrada de dinheiro que entrará no Brasil, vinda principalmente de fundos de pensão – que, por questões estatutárias, só poderão investir quando o investment grade for fato – trará grande benefício ao chamado middle market, formado por empresas de menor porte que, para crescer, hoje esbarram no crédito caro e limitado. Devemos esperar por uma oferta maior de financiamentos, com taxas menores e prazos mais longos, o que deve aquecer tanto a produção quanto o consumo.
Ilude-se, porém, quem pensa que crédito mais longo, mais farto e mais barato significará uma grande festa para os consumidores. O brasileiro é um péssimo usuário de crédito, contraindo dívidas sem saber se poderá pagar ou, muitas vezes, com a certeza de que não poderá pagar. O crédito de primeiro mundo que bate às nossas portas deverá ser mais exigente, cobrando de seus potenciais clientes um bom histórico e um bom projeto de negócios ou de vida que viabilize a quitação das dívidas com boa margem de segurança. Hoje, financeiras seduzem clientes, e esse mecanismo continuará existindo nas alternativas de crédito com juros astronômicos. Mas as facilidades passarão a ser enormes para quem aprender a seduzir o sistema financeiro com um bom planejamento financeiro.
O investment grade, portanto, pode vir a ser o paraíso para quem cuida de sua reputação e para quem está concentrando esforços em qualificação e conhecimento para contar com bons projetos futuros. Tenha um bom projeto em mãos, que você crescerá. Mas, se tiver um histórico ruim em seu nome e maus hábitos financeiros, talvez você até cresça; mas verá outros crescerem bem mais do que você, aproveitando o período de bonança da economia. Essa bonança não será para poucos, mas exigirá esforço de sua parte.
Por Gustavo Cerbasi - (www.maisdinheiro.com.br) é administrador, consultor financeiro e autor dos livros Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e Dinheiro – Os segredos de quem tem (Ed. Gente).