Desde o inicio do nosso trabalho junto ao segmento de cemitérios e funerárias, prestando assessoria e dando treinamento às equipes, observamos quanto o setor é marginalizado tanto social, quanto profissionalmente, de forma que trabalhar com a morte é entendido pela grande maioria das pessoas, como um serviço de segundo escalão, como algo de pouco valor. Ser empresário confere certo status social, mas ser empresário do ramo funerário ou cemiterial pode ser motivo de espanto e até, porque não dizer, de preconceito. Aqueles que exercem suas tarefas ainda mais próximas à morte como os sepultadores e os agentes funerários tendem a padecer ainda mais com o estigma do tipo de trabalho.
Entendemos que essa falta de reconhecimento social do setor se dá em partes pelo próprio objeto de trabalho: A MORTE, que em nossa cultura, é afastada expurgada do cotidiano. Contudo, devemos considerar que aliado a isso temos inimigo camuflado, ou seja, convivemos com um histórico nacional de mau atendimento e abuso na venda e na prestação dos serviços funerários.
Desta forma a mídia e a sociedade em geral fazem referência ao setor ora de modo FÚNEBRE, ora de modo BIZARRO.
Acompanhando de perto os avanços, o crescimento e os grandes investimentos feitos na qualidade dos produtos e serviços oferecidos, nos questionamos o que têm sido feito por essas empresas para mudar esta imagem funesta e bizarra.
O QUE O SETOR TEM FEITO PARA MUDAR ESTA IMAGEM TÃO PREJUDICIAL QUE A SOCIEDADE CONSTRUIU DOS SERVIÇOS PÓS-MORTE?
Na FUNEXPO deste ano, realizada no Guarujá, presenciamos uma cena em que um trio de jovens vestidos com pouca roupa e com um forte apelo sensual dançava axé entre os estandes das funerárias e demais áreas afins.
Deixando de lado nossas considerações pessoais quanto a este estilo musical, pretendemos nos ater a forma como alguns participantes do evento se apresentou ao público que por ali passava. Se a proposta, provavelmente de marketing, era de chamar atenção para os produtos e para as novidades as estratégias utilizadas, do nosso ponto de vista, só vieram confirmar e reforçar o quanto o setor precisa pensar com cuidado e muita cautela na forma como ele se anuncia.
Na tentativa de “amenizar” o efeito morte sobre as pessoas, idéias grotescas como esta são difundidas e acabam servindo como isca fácil para a mídia endossar aquilo que é da ordem do bizarro. A FUNEXPO, é um evento que merece reconhecimento pela iniciativa de agregar o setor em torno de novidades em produtos e serviços e por oferecer também espaço para reflexão e crescimento por meio das palestras, mas pode comprometer sua imagem numa situação como essa em que um dos maiores jornais de São Paulo, dá destaque para o grupo de axé dançando entre os caixões.
Por outro lado, entendemos que o setor muitas vezes recorre a um aspecto fúnebre para se posicionar e/ou para mostrar os artigos relacionados à morte com um certo exagero para o lânguido e para o mórbido. Cores apáticas nas salas de velório, nos uniformes dos funcionários ou nos designers dos materiais que compõem a cerimônia de velório e sepultamento é um exemplo disso. O que queremos ressaltar é que nem uma coisa e nem outra. A morte deveria ser tratada com simplicidade e beleza, com respeito e atenção flutuante de todos que lidam com ela diariamente. Sem uma alegria contagiante e sem uma tristeza lânguida podemos olhar para morte como um processo da vida que merece alguns cuidados éticos e profissionais.
O transito entre o que é FÚNEBRE e o que é BIZARRO fica muitas sem fronteiras.
Há apenas uma década, o estudo da morte -tanatologia- ganhou maior força no Brasil e, com isso novas propostas de serviços, produtos e atendimento vêm sendo estudadas e desenvolvidas de forma que o setor precisa sim recompor sua imagem junto a sociedade e a mídia, mas garantindo que o segmento cemiterial e funerário está caracterizado como um ramo profissionalizado e atualizado, que prima pelo respeito aos clientes e pela ética.
Se conseguirmos compreender o quanto o tema morte e tudo que está em seu entorno é matéria de especulação, pois toca na doce ilusão humana da imortalidade, talvez tenhamos a dimensão do quanto se faz necessário um trabalho de reconstrução da imagem do segmento perante todos.
Ao contratar um serviço para sua empresa, desde a confecção do uniforme de seus funcionários até uma apresentação pra um dia especial, passando pela diagramação de um folder e outros serviços, procure gastar um tempo maior refletindo sobre a imagem que estará sendo veiculada antes de sucumbir aos apelos cômicos ou funestos.
Pense nisso para 2008!!!
Fonte: Ana Lúcia Naletto e Lélia Faleiros Oliveira são psicólogas do Centro Maiêutica e desenvolvem trabalhos na área de luto em cemitérios, crematórios e funerárias.
www.centromaieutica.com.br