Neste processo de descoberta de potencialidades a terapia pode auxiliar tanto de forma terapêutica quanto preventiva.
Estudiosos do tema são enfáticos na necessidade de redirecionamento do investimento outrora na pessoa morta, para novas fontes de gratificação que não substituem no mesmo nível de importância, mas que dão sentido e continuidade evolutiva.
O processo terapêutico visa garimpar as áreas de força dos membros da família e os recursos manifestos e latentes disponíveis para o enfrentamento e superação da crise. Gostaria de ressaltar que acredito ser indispensável que o terapeuta tenha uma grande clareza ao discriminar o limite da normalidade e patologia, quando confrontado a situações de luto.
Devemos ter sempre em vista aspectos gerais e particulares imbricados no caso. Dentre estes aspectos, destaco: questões sócio culturais, que podem abranger comportamentos, valores, rituais, costumes religiosos; estrutura da família, incluindo papéis, funções, fronteiras intra e extra familiares; etapa evolutiva em que a família se encontra; circunstâncias específicas da morte; sistema de suporte da família no contexto em que está inserida; grau de flexibilidade do sistema à mudança; histórico do passado e idiossincrasias. Não se há de perder de vista, também, que o terapeuta precisa avaliar as expectativas da família relativas ao tratamento confrontadas às possibilidades reais da terapia em correspondê-las.
O terapeuta deve discriminar as medidas ordinárias possíveis e as respostas extraordinárias que possam lhe estar sendo delegadas. Os meios logísticos e a preparação do terapeuta também são essenciais no trabalho terapêutico, pois contribuirão nos elementos disponíveis para alcançar sua principal meta. Dentre os objetivos terapêuticos, Walsh e McGoldrick (1998) destacam o reconhecimento compartilhado da realidade da morte e a experiência comum da perda, e para que isto ocorra, a comunicação na família deve ser clara e franca.
O pacto silencioso pode ser outra arma defensiva dos membros da família para não se confrontarem com os sentimentos indesejáveis. Só que este silêncio mostra quão insuportável é a solidão do não compartilhar s entimentos tão doídos. Na tarefa de desobstruir a comunicação familiar em situações de luto, os rituais terapêuticos são instrumentos muito úteis para promover e facilitar o trânsito dos sentimentos comuns aos membros da família. São recursos de expressão e simbolização de aspectos protegidos que podem ser manifestados de forma menos ameaçadora à integridade emocional.
Isto pode descongelar a paralisação traumática da família, que fica estancada e confusa nos novos papéis a serem desempenhados e na árdua tarefa do processo de luto. Assim, o foco na reorganização do sistema familiar e no realinhamento das relações também são importantes na busca de novas pautas de estabilidade do sistema, no qual o senso de identidade tanto individual quanto familiar, devem ser restituídos. Outras metas cruciais deste processo envolvem o reinvestimento em outros vínculos e outras fontes de gratificação; a retomada do ciclo de vida individual e familiar com suas crises normais de desenvolvimento e o planejamento de projetos de vida para o presente e futuro.
A nível preventivo, a intervenção terapêutica pode antecipar possíveis sentimentos de desesperança, momentos de oscilação e maior vulnerabilidade, como nas chamadas reações de aniversário (datas significativas) em que se revive as lembranças do familiar falecido. O trabalho com famílias enlutadas tem demonstrado o grande benefício dos grupos de iguais, principalmente os multifamiliares. Tal experiência proporciona às famílias enlutadas: obterem informações úteis acerca do processo que estão vivenciando; conhecerem estratégias de superação bem sucedidas; receberem apoio e aceitação social; compartilharem os sentimentos intensos e ambíguos com outras pessoas; vislumbrarem novas metas e novos significados a suas vidas; além de diminuírem a solidão decorrente de seu sofrimento.
As possíveis mudanças observadas em famílias que conseguiram superar as adversidades englobam: o aumento da capacidade e valorização da intimidade e empatia intra e extra familiar; uma maior clareza de prioridades e do sentido da vida; um resgate e exploração das competências e potencialidades do sistema; um realinhamento de papéis e funções sem a polarização e sobrecarga de uns em detrimento de outros; a conquista de apoio e confiança mútua, e consequentemente, uma maior qualidade na relação familiar.