RH - Por que as empresas devem se preocupar com a relação corpo-mente dos colaboradores?
Mônica Landim - Nos meus cursos quando conto uma breve história sobre a evolução das empresas, gosto de brincar com os participantes e digo que se fosse possível no início do século passado as pessoas irem trabalhar só com o corpo sem a cabeça era isso que iram contratar. Já naquele tempo isso não era possível, hoje então, quando precisamos de colaboradores inteligentes, motivados, apaixonados por seu trabalho, investir na relação corpo-mente é investir em pessoas saudáveis, íntegras, éticas, plenas e acima de tudo presentes.
RH - Que tipo de ação prática uma organização pode desenvolver para garantir que seus funcionários mantenham o equilíbrio da relação corpo-mente?
Mônica Landim - A mais simples, mas que poucos tiveram coragem para colocar em prática é abrir espaços para conversar sobre isso com as pessoas. Como se sentem? Quais suas expectativas dentro da empresa? Quais suas expectativas em relação ao futuro da empresa? Como percebem sua saúde? Como se percebem como indivíduos? Por que trabalham? Que significado atribuem às suas atividades? Como podem contribuir para que se sintam melhores consigo mesmo? Enfim, o primeiro passo é trazer este assunto à tona percebendo sua conexão com o trabalho saudável e produtivo e com a qualidade de vida no trabalho e fora dele. E a partir daí buscar ações efetivas para derrubar os preconceitos, os medos, as barreiras e estimular este equilíbrio.
RH - E, como fica o lucro das empresas? Alguns leitores podem fazer esse questionamento.
Mônica Landim - Aqueles que correram o risco de forma consciente, buscando não algo passageiro, mas uma transformação genuína tem se espantado com os resultados favoráveis. Quem trabalha com "gente inteira" tem resultados melhores, do que quem trabalha com "gente fracionada". Não é fácil, mas é uma tendência mundial, pois à medida que nossa evolução nos convoca a tomar consciência de nossos potenciais o local de trabalho não tem como fugir disso. Basta olhar o quanto que num curto período o fato dos consumidores estarem mais conscientes de seus direitos obrigou as empresas a melhorarem continuamente não só seus produtos e serviços, como também os processos e as pessoas que os movimentam.
RH - Investir na relação corpo-mente dos colaboradores é obrigatoriamente um investimento alto?
Mônica Landim - Não. Pois este é um investimento saudável para a natureza humana e quando trabalhamos a favor da correnteza tudo flui mais facilmente. A própria força da evolução nos impulsiona para sermos bem-sucedidos. Acredito que este é um investimento que precisa mais do que recursos financeiros, necessita de pessoas preparadas e dispostas a levar o programa adiante e que tenham muita, mas muita persistência. É um processo que exige mudança de hábitos e aí caímos numa séria armadilha. Como brasileiros já temos consciência de muitas coisas que são imprescindíveis ao nosso bem-estar, ao nosso sucesso profissional, mas colocamos isso em prática? É mais fácil protelar, culturalmente nossa disciplina é fraca. Quando você fala nesta relação corpo-mente, em exercitar-se em todos os aspectos do seu ser, em entrar em contato com seus potenciais e trazê-los para serem expressos no mundo. Quantos pensam em já entrar em ação e quantos pensam em deixar isso para amanhã ou para depois?
RH - Quais os benefícios concretos que um programa que vise a relação corpo-mente pode gerar ao ambiente corporativo?
Mônica Landim - Pessoas mais conscientes e equilibradas. Isso impulsiona positivamente a arte de enfrentar os desafios diários, maior rendimento individual e coletivo, melhor entendimento entre as pessoas, melhoria do trabalho em equipe, melhor administração do estresse, menor índice de doenças psicossomáticas, maior índice de alegria, bom-humor e conseqüentemente de criatividade, ousadia, inovação e avanços da empresa no mercado em que atua. Eu pergunto que empresa hoje pode se dar ao luxo de abrir mão de um ambiente assim?
RH -Que colaborações a área de RH deve e pode dar à relação corpo-mente dos profissionais?
Mônica Landim - A área de RH é a mais acessível neste assunto. Dentro da empresa é a que primeiro consegue assimilar esta necessidade e que tem mais condições de trabalhar esta relação. Muitas ações já vem sendo feitas: as mais conhecidas estão no campo nutricional e ergonômico incluindo-se aí a ginástica laboral. Mas há outras, onde à medida que são implantadas ganham popularidade e aceitação devido aos resultados que promovem. Como exemplo temos a experiência de empresas que têm promovido momentos de relaxamento e meditação, outras atuam com formas saudáveis de lidar com o estresse e os conflitos internos. Contudo, por mais complicado que seja o diálogo dentro da empresa devido ao grande número de pessoas que trabalham ali, acredito que abrir espaços para trazer este tema à tona é o melhor caminho.
Um programa neste sentido precisa contemplar atividades físicas prazerosas e atividades mentais estimulantes e relaxantes. Mas tudo de forma harmoniosa e sintonizada buscando a integração, o respeito e aceitação deste sistema belíssimo que chamamos corpo-mente. Aí entram cursos, palestras, cartazes, movimentos de conscientização, grupos de atividades afins e uma figura importantíssima que é a presença do líder que desenvolveu esta relação consigo e aprendeu a promovê-la em sua equipe. É um trabalho de rede, de multiplicação, que precisa necessariamente passar pelo coração das pessoas, ser sentido e apreciado para que gere resultados.
RH - Tudo parece lindo na teoria. Então, por que na prática não é isso que vemos
Mônica Landim - Primeiro porque é preciso o envolvimento da cúpula gestora da empresa, seus membros precisam estar cientes e dar seu aval para que este processo aconteça na empresa como um todo. Segundo porque neste processo a empresa passa a ter pessoas mais saudáveis, mais conscientes e inteiras mas, ao mesmo tempo questionadoras e nem todas as organizações estão preparadas para lidar com isso. Sinto que é aí que o processo se complica, e justamente por isso aqui o RH tem um papel primordial, de encontrar uma linguagem esclarecedora e convincente que unida a indicadores de resultados possa abrir caminhos para que este assunto seja trabalhado dentro da empresa de forma mais abrangente e menos preconceituosa. Sem brincadeira, infelizmente, em pleno século XXI ainda nos deparamos com empresas onde falar de corpo-mente e sensações é assunto praticamente proibido, pois "nada tem haver com negócios".
RH - O que a Sra. diria para os leitores do RH.com.br?
Mônica Landim - Como recado final para aqueles que estão lendo esta entrevista, quero dizer que hoje vivemos numa época privilegiada, pois apesar de todos as barreiras, temos livros, cursos livres e de pós-graduação, filmes, exemplos de experiências pessoais e empresariais que deram muito certo, material na Internet. Tudo disponível para quem quiser se aprofundar e fortalecer esta relação corpo-mente. Como é um trabalho que depende muito mais do indivíduo do que da empresa, e pessoalmente ganhamos muito neste desenvolvimento contínuo, nada impede que cada um vá buscando os caminhos com os quais mais se identifica para este aprendizado e à medida que as empresas amadurecem e se abrem para o assunto, teremos uma série de pessoas prontas para disseminar este conhecimento e elevar as empresas em que trabalham. Somos nós que criaremos as oportunidades na medida em que tivermos domínio sobre o assunto e encontrarmos "brechas" para multiplicá-lo em grande escala. Nada substitui o trabalho interior que cada um precisa fazer por si mesmo.