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   Morte: Reflexão Necessária

"Todo o interesse pela morte e pela doença não passa de uma forma de exprimir aquele que se tem pela vida", Thomas Mann, escritor alemão


Antes questão filosófica ou religiosa, a morte passou a ser um fato médico, problema a ser afastado pela tecnologia. É o que analisa o tanatologista Erasmo Miessa Ruiz, psicólogo, doutor em educação e professor dos cursos de Medicina, Enfermagem e Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Para ele, ao invés da reflexão, a sociedade desenvolve mecanismos para fugir do tema, afastando questões sobre a própria vida.

"As pessoas encaram como um problema distante, quando pode acontecer a qualquer momento. Fundamentalmente, preparar-se para a morte é estar aberto para discutir como uma realidade que me toca e estar aberto para encarar novos projetos", afirma. Erasmo integra o Grupo de Estudos Tanatológicos (Gestar) e considera terapêutica a reflexão sobre a finitude humana. Ele observa que é comum haver uma mudança de perspectiva a partir de um contato mais próximo com a morte. A vida passa a ter novos significados e o que era banal passa a ser relevante. "As pessoas ficam protelando os projetos porque a maior parte do tempo fingem que são imortais", aponta.

De acordo com Ruiz, a percepção sobre a morte se alterou de forma negativa ao longo dos últimos anos. A vivência saiu dos espaços públicos. Costumes que tinham uma função social, como o luto, deixaram de ser considerados. "O preto sinalizava que havia uma perda, criava redes de solidariedade. A expressão catártica vai se tornando comportamento de mau gosto, inadequado. O indivíduo vai se isolando cada vez mais na elaboração do luto", destaca. Os parâmetros para se atestar um óbito também sofreram mudanças a partir do avanço da tecnologia médica. Se em outro momento era a parada cardiorrespiratória, atualmente é a morte encefálica.

Para a coordenadora do Laboratório de Estudos Sobre a Morte (LEM) da Universidade de São Paulo (USP), Maria Júlia Kóvacs, há vantagens quando as doenças podem ser debeladas. No entanto, com o avanço da técnica, a morte passou a ser vista como fracasso, erro, algo a ser combatido. "O exagero pode levar à ilusão de que se pode combater a morte, levando pessoas a grande sofrimento quando se prolonga não a vida, mas sim o processo de morrer, o que se chama distanásia", comenta ela.
(Débora Dias)


Data de Publicação:  24/6/2006   


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