Às vezes imaginamos que a vida depois da morte é como um cemitério: um longo repouso adormecido, muito longo e monótono.
Um dia um menininho de cinco anos perguntou: "No céu todo o mundo vive em sua cama?" Ele dizia isso porque tinha entendido bem que a tia que ele tinha visto doente em seu leito estava agora no céu. Foi-lhe então explicado que no céu não há mais nem doença, nem morte, estamos ainda mais vivos que antes.
Teresa de Lisieux dizia ao morrer: "Entro na vida". E ela tinha declarado: "Quero passar meu céu fazendo o bem sobre a terra".
Todos aqueles inumeráveis que rezam a ela faz 100 anos (ela morreu em 1897) podem testemunhar que isso é bem verdade.
Gostaria de dar aqui um testemunho pessoal. Minha mulher e eu perdemos um filhinho, Dominique, com a idade de seis anos. Meu pai, seu avô, ficou muito triste. Alguns dias após o acidente, ele se levantava à noite de tristeza, e chorava. Então ele ouviu uma vozinha que lhe dizia: "Não é preciso chorar, querido avô". Ele adormeceu, depois acordou chorando uma segunda vez. A mesma vozinha que ele reconheceu como a de Dominique. E uma terceira vez, e a voz lhe diz: "Não chore, querido avô, se você soubesse como sou feliz". E desta vez o avô viu desaparecer sua tristeza.
Acontece também às vezes, com a permissão de Deus, que tal ser querido falecido nos faça sentir de uma certa forma sua presença, sua intercessão por nós junto a Deus porque aqueles que estão junto a Deus não são inativos. Eles são vivos como Deus é vivo. Eles contemplam sem cessar a face de Deus e eles se maravilham. E eles intercedem sem cessar por aqueles que caminham sobre a terra. É como uma grande corrente de solidariedade. É porque eles estão junto a Deus, porque eles tem o coração voltado para Deus que eles recebem dele, por amor, a possibilidade de rezar por nós; de pedir para nós a luz e a ajuda de Deus; de nos dar às vezes um sinal pela graça de Deus para nos orientar em direção ao Caminho da Vida, em direção a Jesus Cristo que é "o Caminho, a Verdade e a Vida".
Mas não se trata de interrogar os mortos para utilizá-los de modo a nos desviar do céu e de Deus, por exemplo, para praticar a adivinhação, o presságio. Esta relação com os mortos, considerados como mortos para "utilizar seu espírito" é uma forma de culto idólatra quer dizer, desvio do verdadeiro Deus . Nós o chamamos necromancia, espiritismo, etc... É perigoso. Pode alterar nossas faculdades e nos conduzir a atos lamentáveis e mesmo muito maus.
Ao contrário, para aqueles que estão perto de Deus, tudo o que ele teve de bom e belo em suas afeições terrestres, a vida divina o transfigura, o aumenta. E o que não era justo é purificado, ajustado para o bem; amamos então com um amor perfeito todos aqueles que conhecemos. E com Deus queremos sua felicidade, pedimos a Deus dar-lhes a mesma felicidade na qual entramos.
Nossos corpos ressuscitarão
Cristo ressuscitou com seu corpo. Seus discípulos viram as chagas de suas mãos e pés e de seu lado. Ele comeu e bebeu com eles. Mas ele não retomou o curso de sua vida terrestre. Ele ressuscitou com um corpo glorioso. Há dois mil anos os cristãos são todos testemunhas disso.
Nós também, no final dos tempos, ressuscitaremos com um corpo transfigurado, um corpo glorioso.
São Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios (Cap 15, 35 a 53) explica que será o mesmo corpo, a mesma pessoa, mas assim como o grão que vai crescer é o mesmo que a planta que brotou, nosso corpo, reunido então à nossa alma, não viverá mais da vida terrena mas transfigurado viverá na vida de Deus, o que chamamos de modo figurado, o céu.
"E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós"
(Carta de S. Paulo aos Romanos Cap 8,11)
Não há pois no universo dissolução no grande todo como pensam os reincarnacionistas, porque eles não conhecem as promessas de Deus. É Deus que nos dá outra vez vida perfeita, e nós permanecemos nós mesmos em nossa identidade. Verdadeiros participantes de Deus, convidados à Sua mesa como a um banquete. Ele secará toda a lágrima de seus olhos, segundo a frase do Apocalipse que citamos no início.
Mas podemos começar a viver esta vida eterna desde agora de uma certa forma. Porque Deus se dá a conhecer já nesta vida. É por isso que a podemos descobrir, escutar, acolher. Como? Pela leitura do Evangelho, da palavra de Deus, pela vida dos "Sacramentos" : o Batismo pelo qual nascemos para a vida divina. A Eucaristia, quer dizer a missa, onde recebemos Deus na hóstia; ele quer nos nutrir com sua própria vida, com seu amor vivificante, com seu Espírito Santo. Depois a Reconciliação, onde pedimos perdão de nossas faltas, "nossos pecados" contra o amor de Deus e dos outros. E onde Deus através do sacerdote, sopra seu perdão sobre nós e nos purifica. Há ainda o Sacramento dos Enfermos, o Matrimônio, a Ordem para os padres.
Pela oração também acolhemos a vida eterna já em nossa vida presente. Se damos a Deus de nosso precioso tempo, Ele vem já fazer Sua morada em nosso coração e vem nos abrir para as coisas do alto.
Então nossa vida matrimonial se transforma: amamos com um amor renovado. Nossas relações com os outros mudam, nós os olhamos com outro olhar, um olhar de amor e de esperança.
Isso é a caridade: Deus vem a nós e realizamos obras de amor.
Conhecemos a alegria porque temos esperança.