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   Como Falar e Ser Ouvido pelos Filhos

Décadas atrás, eram os pais que davam ordens, impunham limites e controlavam todos os passos dos filhos. Agora parece que a "mesa virou" - para o lado das crianças. Cada vez mais cedo, elas assumem "poderes especiais" que lhes conferem quase que totalmente o controle das relações familiares.

Segundo especialistas, os adultos desaprenderam as formas de lidar com "os pequenos tiranos", mas apontam duas abordagens que podem facilitar esse contato e melhorar o relacionamento entre pais e filhos e também de professores e alunos. Hoje, a principal queixa de pais e professores é que os pequenos parecem "não escutar o que está sendo dito". Obedecer, então, seria um outro estágio. A televisão americana até aproveitou o assunto para criar mais um reality show, o "Super Nanny" (programa que terá sua versão brasileira no "SBT"), exibido em canal a cabo. Nele uma família com dificuldades em lidar com os filhos contrata uma babá-educadora para apontar os erros e mostrar soluções para melhorar o relacionamento entre as partes.

Na avaliação da psicóloga Dina Azrak, uma das fundadoras do "Projeto Como Falar", tudo é uma questão de se estabelecer uma comunicação adequada, assim, aumentar a proximidade emocional com a criança ou o adolescente, que perceberá, no adulto, um novo canal de comunicação. Segundo ela, que divide a autoria do projeto com outras três especialistas em Comunicação para Educação e Relacionamento, Adri Dayan, Elisabeth Wajnryt e Ita Liberman, o processo consiste em etapas.

Primeiro, verifica Dina, deve-se aprender a detectar atitudes inapropriadas das crianças, como respostas grosseiras, palavrões, e gestos, como fazer caretas ou bater portas. "Antes de pensar na má atitude do filho, deve-se procurar entender o que aconteceu que o fez sentir-se mal a ponto de gerar um grito, ou uma batida de porta, etc." De acordo com ela, isto é a chamada "escuta de compreensão", completamente diferente da "escuta de julgamento", quando se julga e critica as atitudes da criança.

Dialogo: - Quando se opta por conversar de maneira clara, permitindo que o filho tenha espaço para falar sobre suas dificuldades, é possível encontrar uma solução em conjunto para a situação. Desta forma, evita-se as lições de moral, que, observa a psicóloga, resultam em mais afastamento, e os castigos que tiram privilégios da criança. O importante, diz, é saber negociar uma proposta que seja coerente para os dois lados. "Como pais, devemos procurar construir confiança em nossos filhos, para que eles desejem compartilhar conosco suas experiências, até as mais íntimas. Se não se sentirem à vontade para dividi-las conosco, procurarão outras pessoas para fazê-lo", explica Dina Azrak.

Uma comunicação adequada em sala de aula consiste na atitude de o professor "desrotular" o aluno rebelde e desenvolver outras facetas para mudar o foco. Como exemplo, uma criança que é tida na escola como "chata" e pouco participativa nas atividades em grupo. Neste caso, o professor deve ressaltar fatos e situações nas quais esta criança apareça com um estereótipo mais positivo.

As psicólogas Adri Dayan, Dina Azrak, Elisabeth Wajnryt e Ita Liberman são tradutoras dos livros "Como Falar para seu Filho Ouvir e Como Ouvir para seu Filho Falar" e "Como Falar Para o Aluno Aprender", ambos de autoria das americanas Adele Faber e Elaine Mazlish. Os livros dão dicas de profissonais abalizados, que contribuem para melhorar a comunicação entre pais, professores, crianças e adolescentes. Nos Estados Unidos, os volumes já venderam mais de 2 milhões de exemplares.

Pequenos e Grandes

Se na fase da adolescência o relacionamento entre pais e filhos já é naturalmente complicado, quando há uma situação de conflito o processo se torna praticamente inviável. Nos últimos 37 anos cuidando de famílias e seus percalços com adolescentes, o médico Içami Tiba - autor de "Quem Ama, Educa!" e "Adolescentes: Quem Ama, Educa!", entre outros - observa que o grande erro dos pais na educação dos filhos é que eles simplesmente "amam" os filhos e não exigem nada em troca. "Na fase de preparação, é preciso exigir que eles façam o que foi ensinado para que pratiquem e criem material para futuras negociações", esclarece.

"Esse amor gratuito é um grande erro dos pais", acusa. "As falhas na formação familiar e escolar acabam criando pessoas despreparadas para serem cidadãos. Faltam valores para que as pessoas não abusem da sua posição de filhos, de pais, ou de situações de poder. Falo de valores superiores, que levam em consideração não as coisas materiais, mas as coisas que não se compram, como ética e disciplina."

Na avaliação de Içami Tiba, o diálogo varia conforme a idade. "Crianças, mais do que os adolescentes, ouvem com os olhos, por isso deve-se ter o cuidado de se abaixar e estar na altura dos olhos delas. Deve-se pedir que ela olhe e preste atenção e não falar enquanto isto não estiver acontecendo", explica Tiba, autor de 16 livros.

A experiência em trabalho terapêutico com crianças, adolescentes e suas famílias credencia Içami Tiba a ajudar a encontrar formas de atuação que facilitem o diálogo. Ele diz que "não é preciso gritar, não precisa bater, nada disso: o que precisa é ter autoridade". "Todo pai tem poder de pai, mas a autoridade de pai deve ser conquistada." Como? O médico de 64 anos, que está entre os educadores mais requisitados do País, ensina que para ter autoridade é preciso ser coerente, constante e conseqüente.

Ele revela sua teoria: "Ser coerente significa manter sempre a mesma linha de atitude. Por exemplo, se você ensina a seu filho que ele não pode bater em outras crianças é preciso exigir que a criança não faça isso. Todas as vezes que isso ocorrer deve-se intervir, constantemente, explicando que não se pode fazer isso. Não se deve permitir simplesmente 'deixar para lá'. E precisa ser conseqüente. A criança precisa saber que terá uma punição e que deverá retratar-se. Aqui, só o pedido de desculpas não vale. Ela precisa corrigir com as mesmas mãos que erraram. Pedir desculpas e sair correndo não pode. Deve ir lá, ver se machucou o colega, tocar novamente em quem bateu".

Para os adolescentes, o melhor é combinar e ter algo para trocar. "Baladas, por exemplo, é uma boa moeda de troca para se fazer ouvido por eles", explica Içami Tiba. "Deve-se ter um prazo final para executar o que foi combinado e um prazo de recuperação, senão ele fica desmotivado e sente-se punido o tempo todo", ensina. "Adolescentes gostam de cumprirem ‘combinados’. Se ele tirar nota baixa e for proibido de sair no sábado, vai odiar os pais. Mas, se tiver combinado que passaria o fim de semana estudando caso fosse mal na escola, vai cumprir o trato."

O médico é otimista e diz que, apesar das dificuldades e da falta de obediência dos filhos e dos erros cometidos pelos pais, sempre há chance de se reverter a situação, pois o ser humano se renova e é criativo, desde que haja motivação para isso. "Para os pais educarem seus filhos, devem apertar o botão ‘atualizar’ e compreender que o mundo mudou. Dessa forma verão que é necessário, sim, fazer exigências e cobrar dos filhos atitudes e tarefas para tornarem-se bons cidadãos", finaliza.


Fonte: Ultimo Segundo


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