No Brasil, a venda de remédios para déficit de atenção e hiperatividade cresceu 940% em quatro anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos. Esse número tende a aumentar ainda mais. O crescimento das vendas em progressão geométrica preocupa muitos especialistas, que vêem um certo exagero nas prescrições.
A “droga da obediência”, como é conhecido o medicamento, promete acalmar crianças agitadas e fazer com que as sem concentração se fixem no que fazem. Foi criado para tratar portadores do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mal que atinge de 3% a 5% de crianças no país.
O crescimento nas vendas, no entanto, não é visto com bons olhos por todos. “O problema é quando o tratamento vira modismo pautado em interesses do mercado”, afirma Ana Cássia Maturano, psicóloga especialista em problemas de aprendizado. Para ela, existe uma infinidade de coisas que podem levar crianças a serem desatentas e não possuírem interesse nas atividades escolares.
Segundo a especialista, é preciso examinar outras possibilidades antes de se diagnosticar o déficit de atenção. “Pode ser que a criança esteja enfrentando problemas de adaptação na escola ou que a linha pedagógica desenvolvida não combine com ela”, diz a psicóloga. Além disso, “alunos que não conseguem enxergar desafios nas atividades propostas em sala de aula podem reagir com apatia”. A especialista lembra que em alguns casos vale procurar, inclusive, um bom oftalmologista. “Têm crianças que não enxergam, ou enxergam, e isso também atrapalha o desempenho escolar”.
O desinteresse de algumas crianças também pode surgir na situação inversa: quando o programa escolar é puxado demais e o aluno não consegue acompanhá-lo. “Por isso é tão importante analisar todos os aspectos da situação”, diz Ana Cássia. Segundo ela, o que caracteriza o déficit de atenção e a hiperatividade é o fato de a criança não conseguir parar para se dedicar a uma única atividade. “Ela simplesmente pula de uma para outra em questão de minutos. Não presta atenção a detalhes. Parece sempre estar com a mente em outro lugar. Com isso é comum que acabem tendo problemas na escola e nos relacionamentos”.
Quando a criança apresenta esse tipo de comportamento, é importante fazer uma avaliação com profissionais especializados. No caso de ficar confirmado o diagnóstico, deve-se indicar a abordagem mais indicada para a criança. “Como o comportamento ansioso ou desconcentrado das crianças pode ter diversas causas, o uso indiscriminado de remédios pode ser prejudicial”, adverte Ana Cássia. “O uso de remédios deve ser o último recurso e mesmo sua utilização não dispensa um trabalho psicológico cuidadoso”.