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   O que os Jovens têm a Dizer Sobre a Adolescência e o Tema da Morte?


        Os jovens têm sonhos, almejam realização pessoal e profissional, estão no “auge da vida” e, assim, é comum o pensamento equivocado de que não existe espaço para se pensar em tragédias e mortes neste período do desenvolvimento.

        Atualmente, com a expectativa de vida elevada e com o progresso constante das técnicas médicas, as mortes de jovens devem ser consideradas “perdas injustificadas”. Porém, as estatísticas mostram dados alarmantes sobre o aumento da mortalidade entre adolescentes, principalmente relacionadas com acidentes de trânsito e mortes violentas como homicídios e suicídios.

        Esses números provocam alguns questionamentos: como os adolescentes percebem, refletem e se relacionam com o tema da morte? Como eles explicam as altas taxas de mortalidade na sua faixa etária? Os jovens sentem necessidade de discutir o tema da morte com a família, amigos, professores e outros profissionais? Quais seriam as formas de abordagem possíveis?

        Jovens ao serem questionados sobre isso, apontaram algumas reflexões: “não tenho medo de morrer”; “não faço nada para preservar a vida, corro riscos”; “não penso na possibilidade da morte acontecer comigo”; “o jovem sabe que ele morre, mas ele vai desafiando, acha que morre quando ele quer...”.

        Assim, num período do desenvolvimento marcado por mudanças no corpo, profundas transformações, novas experiências, conflitos de sentimentos, busca da identidade, questionamentos da família, sociedade etc., o paradoxo vida e morte se mostra fortemente presente. Há uma busca intensa pela vida, expressando-se sentimentos de onipotência e imortalidade e, com isso, podendo ocorrer uma aproximação de perigos e a possibilidade de morte.

        Jovens relatam que em situações de prazer, normalmente, não pensam na possibilidade de morte: “imortais? O adolescente se sente assim na hora que ele está sentindo prazer e ele acha que nada pode dar errado”; “quando você está se divertindo, hoje é hoje e já era, o limite é a morte”.

        Sobre a possibilidade de transformar a realidade atual na qual percebe-se a crescente mortalidade entre os jovens, alguns adolescentes ouvidos apontaram como caminhos: ocupar o tempo ocioso dos jovens; a necessidade de mais limites externos; mais responsabilidade sobre seus atos e conseqüências mesmo em grupo; o jovem poder se perceber como sujeito de sua própria ação e, assim, da prevenção de comportamentos de risco e a possibilidade do jovem pedir ajuda e expor sentimentos e dúvidas no diálogo com pais, educadores e os próprios amigos.

        Em relação à discussão sobre a morte na adolescência, jovens apontam a escola como um importante espaço para possibilitar a reflexão sobre o tema. Relatam a possibilidade de compartilhar informações, opiniões, sentimentos, dificuldades e experiências entre amigos e professores. Um adolescente ouvido sobre isso apontou: “você vem para a escola para aprender, então a escola tem que ensinar tudo o que você puder aprender... não só o tema da morte, mas outras coisas que os jovens têm dúvidas e têm medo de falar”. As sensações de acolhimento e segurança são apontados como podendo refletir num melhor rendimento escolar.

        Assim, a escola pode propiciar espaços para o aluno se fortalecer, se proteger e saber lidar com situações de risco, além de poder ocupar e enriquecer o tempo dos jovens. Percebe-se uma disponibilidade dos educadores em se preparar para a abordagem do tema: “o tema da morte é tão necessário no contexto escolar quanto os temas sexualidade e drogas, principalmente por ser evitado na sociedade”.

        Uma professora ao refletir sobre a abordagem do tema da morte na escola e a possibilidade de trabalho com os adolescentes concluiu que: “as pessoas estão acostumadas a não falar sobre a morte... falta uma percepção de quanto isso é importante... a escola pode promover este espaço até mesmo para uma cura de algo que está provocando um sofrimento”.

        Sendo que a maior parte das mortes de jovens são provocadas por causas não naturais, existe, dessa forma, a possibilidade de trabalhos de prevenção nesse sentido. Observa-se que não deveria ocorrer uma imposição de atividades, ou seja, a forma ideal de construção e execução destas envolveria profissionais de saúde e educação e os próprios adolescentes. Portanto, é fundamental ouvir o que os jovens têm a dizer sobre isso.


        Fonte:
Por Cláudia Fernanda Rodriguez (Universidade de São Paulo) -
RNT - Rede Nacional de Tanatologia
 






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