A morte é vista de diferentes formas por cada pessoa, dependendo também da faixa
etária. "As reações de uma criança diante da morte dos pais são variadas e estão
influenciadas pela sua idade e pelo seu nível de desenvolvimento emocional e
cognitivo (incluindo aspectos físicos e psicológicos). Outro fator determinante
na superação do trauma é a proximidade emocional em relação ao progenitor
falecido (pai ou mãe) e ao que sobreviveu" afirma Suzanna. Se o pai - ou a mãe -
for capaz de minimizar a expressão de sua dor e conseguir compartilhar a
tristeza da criança ou do adolescente, a ajudará a avançar no processo de
elaboração do luto.
A perda da mãe, por exemplo, é
sentida como o "fim do mundo" para um bebê. A psicóloga explica que, neste caso,
a presença de uma outra pessoa que cuide dele é fundamental, mas a dor e
desamparo decorrentes dessa falta são sempre muito intensos. O bebê não
compreende, luta para "chamar" sua mãe e sente-se fracassado nesta ação. A
depressão é evidente e deve ser considerada pois, ao contrário do que se
imagina, os bebês sentem a morte.
O marido (ou a mulher) vivencia a
morte de sua companheira(o) com um alto fator de estresse, o que desequilibra a
estrutura familiar. "As possibilidades da família em lidar com o luto estão
muito associadas às suas possibilidades de restruturação", explica a psicóloga
e, dessa forma, todos devem se ajudar para suportar a dor, a perda e a saudade.
Considera-se a morte de um filho como
a maior tragédia da vida. Essa visão vem do fato de que a morte de uma criança
ou adolescente parece completamente fora de lugar no ciclo da vida. Apesar
disso, em termos do funcionamento da família, o filho pequeno tem poucas
obrigações e sua ausência não compromete as responsabilidades globais. Ele não
sustenta ninguém, pelo contrário, depende totalmente do pai ou da mãe. Por esse
aspecto, a família em geral não se desestrutura enquanto núcleo.
Mas perder um filho geralmente é um
episódio dramático, pois a família projeta nos mais jovens toda a sua esperança.
"A morte, portanto, carrega os sonhos, a continuidade, os desejos, trazendo
sentimentos de extrema dor, descrença e culpa nos pais. Muitas vezes eles ficam
tão abalados que chegam ao ponto de se divorciar" ressalta Suzanna.
Existem situações específicas de
morte de filhos que podem gerar emoções diferentes. Confira:
Morte de um filho deficiente:
a criança causou dificuldades e sentimentos ambivalentes durante seu
crescimento. Dependendo do grau de dependência entre os pais e o filho, maior
será o enlutamento. Os pais não acreditam que o filho vivo poderia estar
sofrendo muito mais, pois geralmente carregam sentimentos de fracasso e
incapacidade.
Abortos naturais ou provocados:
causam profundos sentimentos de perda, principalmente na mãe. Muitas vezes ela
pode fantasiar que gerou um "bebê com defeito", precisando superar a insegurança
e o medo para tentar uma próxima gravidez. Não adianta fingir que nada
aconteceu: a mãe tem que passar pelo processo de despedida e aprender a lidar
com a falta do bebê.
Filho natimorto: muitas vezes o
bebê que nasce morto é retirado rápido demais do contato com a mãe. O melhor
seria que ela ficasse por perto, por mais dolorido que fosse, para entender o
porquê da ausência do bebê e facilitar a elaboração do luto. O natimorto deve
ser percebido como um evento real para toda a família; ignorar essa morte pode
transformá-la numa memória fantasmagórica.
Um acontecimento comum - e até
natural pela lei da evolução - é a perda dos avós. "Quanto mais central a
posição da pessoa que morreu, maior será a reação emocional da família" afirma
Suzanna Levy. A morte de um avô - chefe do clã - implica numa perda grande para
a família, pois ele detém o poder, sendo muitas vezes responsável pelo sustento
financeiro de seus descendentes. Se a dependência em relação a quem morre não
for tão grande, entende-se a perda mais facilmente, considerando-a como um
processo evolutivo normal e de certa forma "esperado".
A morte inesperada, como conseqüência
de um acidente, por exemplo, causa choque na família, pois limita o tempo para
despedidas e para a resolução de questões de relacionamento. "Geralmente
inicia-se um longo curso de dificuldades familiares, normalmente vistas como não
relacionadas à morte", explica a psicóloga, lembrando que este assunto deve ser
tratado para que não tome proporções ainda maiores. O suicídio é tido como a
perda mais difícil, pois possui uma conotação de ataque, em que a família
sente-se agredida, com muita raiva e impotente por não ter conseguido impedir
que acontecesse.
Fonte: Por Julienne Gananian