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   A Morte Temida Anfitriã

        "Perpétua é a morte - Não os jazigos - Que reserva igual sorte Para amigos e inimigos" Desde remota antiguidade, o homem preocupa-se com a morte - ou melhor: com os mortos. Sabem-no os arqueólogos, que a cada ano descobrem esqueletos em trajes suntuosos, ornados de ricos adereços, ossos pintados de vermelho, e por aí vai. A pretensão de sobreviver à morte move o homem desde muito. Explica as pirâmides egípcias, a perfeita mumificação, os túmulos repletos de objetos, até barcos, para que o distinto navegasse ao paraíso.

        Em todos os continentes há marcos funerários, descoberta dos últimos 200 anos. O que parece de ontem tem milênios, exibem cemitérios nas grandes cidades, de túmulos gigantescos, enormes esculturas em bronze ou mármore, os mausoléus. Nome originado de Mausolo, rei antigo que pretendeu levar a própria vaidade ao outro mundo... Ou o Taj-Mahal, túmulo nascido de imortal paixão. O exibicionismo funerário saiu de moda. Certos artistas populares e criminosos notórios, porém, recebem túmulos assim&assado - é a ilusão da permanência de figuras nem sempre elogiáveis. De famoso cantor foi noticiado que fazia serenatas nas alamedas do Cemitério do Caju. Uma senhora fez questão de desmentir: "No Caju, não! Na minha janela!" Em nossos dias, a importância do morto é medida por fotos, linhas, laudas e páginas de jornais e revistas e pelo tempo nos noticiários da televisão e do rádio.

        Muitos jornais mantêm textos sobre figuras que estão com o pé na cova - é importante não ser surpreendido. Assim, há redatores especializados - na morte alheia... Nem sempre, porém. A profissão facilita a redatores previdentes (chamemo-los assim...) cuidar do próprio obituário. Deixam-no prontinho, com todos fff e rrr, minuciosa memória do que imaginam haver sido. Escolhem até a foto para publicação, quase sempre do tempo da face sem rugas... Não há redação que não os tenha, vaidosos dissimulados, escondidos em pastas de arquivos somente abertas pela morte.


        Fonte: por
Marco Aurélio Guimarães do Jornal do Commercio - Rio de Janeiro/RJ






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