Assim como acontece
nas escolas, onde os professores avaliam seus alunos no que se refere ao
rendimento do aprendizado, nas empresas também acontece um processo semelhante.
Hoje, diante da necessidade de sempre agregar valor ao negócio, as organizações
também se mostram preocupadas em avaliar o desempenho dos seus colaboradores.
Nesse momento, surge em cena uma ferramenta conhecida como avaliação de
desempenho que corresponde a uma apreciação sistemática do desempenho do
profissional em função das atividades que a pessoa realiza, das metas e dos
resultados a serem alcançados e do seu potencial de desenvolvimento.
Variando de empresa para empresa,
a avaliação de desempenho também pode ser chamada de avaliação de mérito,
avaliação pessoal, relatórios de progresso, avaliação de eficiência individual
ou grupal etc. No entanto, o nome que essa ferramenta recebe não é o mais
importante, mas sim como a mesma é conduzida e como os resultados por ela
obtidos podem ser usados pela organização. Quando bem aplicada, essa ferramenta
pode ser um ótimo meio para se identificar problemas de supervisão e gerência,
de integração entre as pessoas com a organização, de adequação do profissional
ao cargo, de localização de possíveis carências de treinamento, entre outros.
Para possibilitar
que um colaborador aperfeiçoe suas competências por meio de um processo
avaliativo, é fundamental que o avaliador seja específico e mencione os fatos,
ou seja, que descreva tudo aquilo que o profissional não está acertando,
comparando sua ação com aquilo que a empresa esperava que ele o fizesse. Uma
avaliação do tipo "você não tem espírito de equipe", por exemplo, não ajuda o
profissional a melhorar, uma vez que ele não ficará sabendo em que precisa mudar
na sua maneira de agir. "É necessário que o avaliador cite exemplos reais de
comportamentos errados do profissional em termos de espírito de equipe e
mencione qual era a conduta esperada em cada situação", explica Flávio Farah,
mestre em administração de empresas e autor do livro "Ética na Gestão de Pessoas
- Uma Visão Prática", Edições Inteligentes. Por outro lado, o avaliador só
poderá citar esses exemplos, se tiver registrado os comportamentos críticos do
profissional.
Após realizar uma pesquisa com 46
empresas, para verificar o conteúdo ético das normas de aplicação da avaliação
de desempenho, Farah obteve uma resposta, no mínimo, curiosa. Os dados coletados
por ele indicaram que, em maior ou menor proporção, as empresas não possuem
mecanismos capazes de assegurar a consistência das avaliações; impõem
discriminação com relação às categorias que devem ser avaliadas; são mais
rigorosas em cobrar o desempenho do que em fornecer informações prévias sobre o
desempenho esperado; não examinam as queixas dos funcionários sobre o sistema de
avaliação; usam fatores que avaliam a personalidade do colaborador e não possuem
canais de apelação contra avaliações injustas. Todos esses erros, segundo o
autor da pesquisa, são falhas éticas.
No entanto, é possível evitar que
esses erros éticos comprometam a qualidade do processo de avaliação de
desempenho. Para isso, a organização precisa tomar alguns cuidados como, por
exemplo, adotar políticas e procedimentos, assegurando que esses sejam
conhecidos e compreendidos por todos os colaboradores que serão avaliados;
instituir um mecanismo que permita aos funcionários pedir revisão das políticas
e dos procedimentos de avaliação em vigor; adotar critérios avaliativos
objetivos, baseados na avaliação das ações do profissional e dos resultados
alcançados por ele, bem como definir que a avalição de desempenho seja
registrada por escrito e fundamentada em fatos - comportamentos do funcionário e
resultados obtidos por ele - também registrados.
Também é necessários tomar outros
cuidados para que o processo tenha resultados satisfatórios. Dentre esses,
encontram-se medidas como: definir que a avaliação de desempenho e os fatos que
a fundamentaram sejam comunicados ao colaborador; fixar prazo razoável para que
o profissional examine a avaliação e seus fundamentos; estabelecer um mecanismo
de apelação, ou seja, permitir que o colaborador recorra a uma instância
decisória independente da primeira, caso considere o resultado injusto e por
fim, estabelecer que todas as avaliações ou uma amostra representativa delas,
seja revisada por um mesmo grupo ou comissão de pessoas, de preferência externo
à organização, para garantir sua consistência e assegurar que todos sejam
avaliados da mesma forma.
A ética mais ampla - Flávio
Farah comenta que muitos livros, artigos e discussões sobre ética empresarial
tratam apenas de dois tipos de conduta: as atividades da empresa que afetam o
público externo - consumidores, fornecedores, governo e comunidade - e os atos
de funcioários que atingem a própria organização.
Outro fator que fere a gestão de
pessoas é a formação deficiente que se reflete no modo como a ética é tratada em
algumas declarações de valores corportaivos. Dessa forma, misturam-se valores
morais e não morais, a ética é colocada em posição subordinada a interesses
econômicos, algumas organizações chegam a colocar os deveres morais
exclusivamente nos ombros dos funcionários, eximindo-se de responsabilidade, e
se listam valores morais que na verdade não o são como, por exemplo, confiança,
cobertura e transparência. "É preciso entender que não basta apenas colocar,
numa declaração de valores, palavras vagas e imprecisas como respeito e justiça.
Deve-se traduzi-las em regras práticas de conduta, do contrário a tendência é
permanecerem letra morta" alerta Farah, ao acrescentar que o terceira e última
causa dos deslizes éticos é o autoritarismo da sociedade brasileira,
principalmente no ambiente de trabalho.
Quando questionado sobre qual o
caminho que uma empresa deve seguir para ser considerada ética em relação à
gestão de pessoas, Farah comenta que o primeiro requisito é a organização contar
com a presença de um gestor com forte liderança e que seja dotado de uma firme
disposição para fazer com que a ética guie as ações e as decisões da companhia.
Isso justifica-se porque um líder com essas características tem a capacidade de
mudar os valores, as crenças, as atitudes e os comportamentos dos seus
seguidores, por meio da expressão de seus padrões pessoais de conduta.
O segundo passo, para ser uma
empresa ética, seria realizar um diagnóstico da situação da organização em
termos do grau de respeito e justiça com que os funcionários são tratados. Para
isso, é preciso examinar as políticas oficias de Recursos Humanos, bem como
observar as práticas não escritas e compará-las com a situação ética considerada
ideal. Antes de partir para o diagnóstico, porém, é importante que a direção da
empresa discuta com um profissional especializado as bases conceituais da ética
na gestão de pessoas pois, caso contrário, os dirigentes correrão o risco de não
enxergar as falhas e as omissões morais existentes nos processos de RH da
organização, em virtude da provável insuficiência de sua formação ética. "A
terceira etapa seria implantar as correções que a empresa decidir fazer em
função do diagnóstico", conclui.
Fonte:
Patrícia Bispo
Jornalista responsável pelo conteúdo da comunidade virtual rh.com.br