Até algum tempo atrás, a pergunta mais freqüente era: “Qual é o seu time de
futebol?” Hoje a pergunta é: “Qual é a sua religião?”
Depois da abertura das religiões no Brasil nos últimos anos, o que vemos hoje
são pessoas e mais pessoas defendendo suas religiões como se fossem times de
futebol. Torcem, brigam e fazem questão de tentar convencer o próximo a seguir o
seu caminho. Geralmente são pessoas que tiveram um contato mais profundo com a
religião somente depois de já adultas.
Muitos de nós, porém, recebemos desde criança os costumes religiosos de nossos
pais e avós. Particularmente no Brasil, nas décadas passadas, a religião
predominante era a Católica Apostólica Romana. Mas isto mudou. Com a crescente
proliferação de denominações evangélicas e a abertura das pessoas para religiões
e seitas anteriormente tratadas como “clandestinas” ou “secretas”, como o
espiritismo e a maçonaria, deu-se lugar a uma grande e cada vez mais cotidiana
discussão sobre a eficácia de suas doutrinas e dogmas.
Outro grupo que vem na disputa por um lugar ao sol aqui no novo continente é o
das religiões orientais, como o budismo e o taoísmo. Disputa, diga-se de
passagem, feita pelos homens, e não pelas divindades.
Mesmo podendo dizer que tenho uma religião, e que dela participo desde meus
primeiros anos de vida, sou totalmente contra a imposição de meus dogmas a
outras pessoas que já tenham os seus próprios. Igualmente me sinto violentado e
desrespeitado quando alguém tenta me doutrinar em outra religião que não aquela
que abracei e com a qual me identifico, embora eu tenha conhecimento de suas
falhas, diante das quais também não me calo.
Acredito que podemos viver
harmoniosamente, cada um com sua religião, seita ou fé, mas todos se respeitando
e evitando atritos provocados por pontos discordantes.
Antes de qualquer religiosidade, a energia que de fato é a essência da vida, é a
espiritualidade, seguida bem de perto pela FÉ, que temos (ou deveríamos ter)
dentro de nós.
Quando homens e mulheres, velhos e crianças, descobrirem que somos iguais na
natureza humana, então seremos capazes de eliminar discussões religiosas e
ater-nos ao respeito pela vida e à fé no Ser Humano, mais particularmente nas
PESSOAS, tendo mais respeito e confiança uns pelos outros.
Devemos separar caráter de religiosidade, fé de doutrina.
Caráter é como o amálgama de nossa
conduta humana. É imutável. E moldado dentro de nós ao longo de nossa infância e
adolescência.
Religiosidade é mutável. Mas é mais difícil de se mudar quando vem de uma forte
transferência de valores culturais, costumes e tradições, familiares ou do
ambiente em que nos desenvolvemos desde criança.
Fé é o acreditar em algo. A fé está dentro de cada ser humano, e pode ser mais
ou menos forte, dependendo também de fatores psicológicos. Pode-se também ter fé
em coisas boas ou ruins. Acreditar no visível, no palpável, é mais fácil. Ter fé
no invisível requer disciplina, paciência e fidelidade a seus princípios.
Doutrina nos é imposta. Aceitamos ou não do jeito que ela é. É um conjunto de
leis e normais que não foram criadas por nós, reles leigos. Acredito, no
entanto, que seja válido que discutamos estas doutrinas, ou dogmas, mesmo entre
pessoas de religiões diferentes. Desde que ambas as pessoas concordem em que
algo está errado.
Fonte:
Gustavo Seabra