O
correto gerenciamento do tempo é, mais do que resultado de uma postura
empresarial, um elemento importante no combate ao desperdício e aos custos,
dentro de uma instituição voltada para os negócios.
Confira a análise de Luiz Aurélio di
Pietro o diretor de Recursos Humanos da 3Com. A sua avaliação, com base em sua
experiência profissional no comando das relações de pessoas, foi inserida depois
de cada bloco de perguntas e respostas.
Você Organiza Bem o Seu Tempo
Total de respostas: 2.698
1) Você tem por hábito fazer uma
lista diária de tarefas?
- Nunca; eu confio na memória
(40,73%)
- Às vezes, mas só quando o dia é
atribulado (41,51%)
- Quase sempre, porque a memória pode
falhar (17,75%)
Luiz Aurélio di Pietro: A
desorganização sem dúvida traz custos para as empresas. A maneira que
encontramos para lidar com isto, na 3Com, foi implantar a administração por
objetivos. São definidas as linhas mestras de planejamento e de estratégia, e
cada pessoa tem uma lista de atividades que chamamos to-do-list (lista de
afazeres). Estão incluídas aí as atividades diárias, mas é evidente que novas
tarefas podem surgir, de modo imprevisto – é o que apelidamos de "incêndios".
Quando ocorrem essas situações, é preciso parar o que se está fazendo para
resolver o problema, mas todos sabem que estão apenas temporariamente se
distanciando da atividade macro.
Todos os funcionários são avaliados
por desempenho, de modo que se um não atingir o objetivo, estará fazendo com que
a empresa não atinja, por sua vez, o seu objetivo. Portanto, planejamento
é uma postura essencial, dentro da 3Com, e acredito que seja essencial para
qualquer empresa.
2) Você dedica horários
específicos do dia para responder e-mails e recados?
Sim, e no resto do dia não
interrompo atividades para fazer isto (66,88%)
Não; respondo à medida que chegam as
mensagens (33,11%)
Luiz Aurélio di Pietro:
Acredito que a comunicação é tão importante que o telefone e o computador acabam
se tornando como que uma extensão dos sentidos do nosso corpo: conseguimos ver,
ouvir e falar ao mesmo tempo; da mesma forma, é possível trabalharmos enquanto
atendemos um telefonema ou lemos uma mensagem de e-mail. Trabalhar, atualmente,
significa mais que tudo conversar. Por isto acho que o ideal é que se faça
micro-paradas no trabalho para ler mensagens e respondê-las. Não creio que se
comunicar seja fator de perda de tempo ou de desorganização.
Se houver necessidade de dedicação
total a uma tarefa, o que fazemos na 3Com é reunir a equipe que não pode ser
interrompida em uma sala sem telefones e sem computador. Mas, cada um, ao
voltar, tem que ver seus recados e verificar se não há alguma solicitação
urgente.
Concordo que as empresas têm,
ultimamente, solicitado mais de cada funcionário, mas a adaptação é rápida, e as
pessoas são capazes de assumir cargas maiores de trabalho e compromissos.
3) Seu local de trabalho é:
organizado – sempre sei onde cada
coisa está (19,64%)
suficientemente organizado – às vezes
me perco (55,46%)
uma bagunça – mas não sei me
comportar de outra forma (24,88%)
Luiz Aurélio di Pietro: A
bagunça é sem dúvida um dos maiores problemas geradores de perda tempo. O
trabalho organizado pelo sistema "house-keeping", inventado pelos japoneses, é a
saída, na minha opinião: você deixa o ambiente organizado e pronto para ser
utilizado por qualquer outra pessoa, sem perigo de haver descontinuidade do
trabalho.
Ainda mais hoje, com o computador,
que já é intrinsecamente uma ferramenta organizada, as pessoas usam menos papel.
E, mesmo com menos papel, há mais informação circulando. Se o funcionário não
conseguir manter o seu computador organizado, vai sofrer muito.
4) Aprendi a delegar tarefas.
Certo.
Assim o trabalho é feito e todos
ficam felizes porque participam (35,69%)
Mais ou menos.
Só mesmo quando não consigo fazer é
que delego (38,63%)
Errado.
Se não há supervisão muito próxima, o
trabalho não sai (25,66%)
Luiz Aurélio di Pietro: O
processo de delegação é diretamente proporcional ao processo de comprometimento.
E isso se aplica a qualquer nível hierárquico. O chefe que usa a antiga forma de
controlar o funcionário está gastando tempo desnecessariamente. Devia era fazer
um "coaching" adequado, estimulando os funcionários, em vez de seguir esse
conceito antigo de supervisão.
5) Se você é obrigado a deixar um
projeto de lado por falta de tempo
Sente-se culpado e pensa nele
constantemente (55,28%)
Pensa em pedir mais funcionários para
ajudar (13,73%)
Não se preocupa porque fez o que pôde
(19,56%)
Não se preocupa; seu conceito com o
chefe é excelente (11,41%)
Luiz Aurélio di Pietro: Aquele
que deixa projetos de lado por falta de tempo não está cuidando do seu tempo e
não está vendo que precisa pedir ajuda. O processo ideal é o de "cross-functional",
ou seja, as pessoas em funções diferentes ajudam umas às outras em prol de um
objetivo coletivo.
Ficar isolado em sua área desgasta,
angustia e faz com que a pessoa perca tempo. É claro que em determinados
momentos entra a questão da priorização e da necessidade de atender "incêndios",
mas nesses casos o bom-senso ajuda a situar a emergência dentro do planejamento
global.
6) Sua decisão sobre o que é
prioridade se baseia em:
Definição prévia de metas e prazos
(40,14%)
Resposta sob demanda (38,12%)
Ceder a quem grita mais alto (21,73%)
Luiz Aurélio di Pietro: Se o
grupo trabalha por objetivos, não faz sentido algum gritar mais alto. Mesmo nas
emergências, o importante não é quem pede nem quem grita, mas a necessidade de
resolver a situação que compromete os objetivos.
Todas as pessoas são diferentes. E o
relacionamento delas faz surgir problemas que são sempre diferentes. Claro que é
preciso ter uma certa flexibilidade para que a convivência seja boa, mas com
objetivos claros não há muito com que se preocupar.
7) Sua resposta imediata para um
novo pedido de trabalho é sempre:
Sim; todo mundo gosta de pessoas
prestativas (47,42%)
Talvez; primeiro quero saber se está
dentro do planejamento (35,03%)
Não; eu sou organizado e exijo que as
pessoas também sejam (17,53%)
Luiz Aurélio di Pietro: Eu fiz
a Fundação Getúlio Vargas (turma de 1985), e sempre me lembro de um professor
que eu tive lá. Ele ensinava o seguinte: "Se você tiver que dizer sim, fale alto
e claro. Se você tiver que dizer não, pense cinco vezes antes."
Acho que dizer sim é sempre uma
atitude válida. Mas é preciso analisar se é possível dizer sim. Mas ainda que
não seja, é preferível nunca dizer a palavra não. Negue sem dizer não. Diga meio
sim. E justifique apelando para os compromissos existentes com os objetivos que
foram traçados.
8) Você dorme o necessário todas
as noites.
Sim – consigo manter até a vida
pessoal organizada (36,87%)
Às vezes – tanta coisa acontece a
cada dia (63,12%)
Quase nunca – sou uma pessoa ocupada
(0%)
Nunca – não consigo relaxar (0%)
Luiz Aurélio di Pietro: Se uma
pessoa consegue equilíbrio entre a sua vida profissional e sua vida pessoal,
conseguirá com certeza ser melhor nas duas. Quem consegue descansar, dedicar
tempo com atividades fora do trabalho para interagir com a família, interagir
com a sociedade, estará certamente se recarregando para ser uma pessoa mais
criativa e mais produtiva.
É hipócrita elogiar o fulano que
trabalha todo dia 12, 14 horas, que é um incansável. Porque esse funcionário não
está vivendo equilibradamente, e pode não estar sendo produtivo como os que
descansam e vivem a vida fora da empresa nos períodos adequados. As empresas
todas estão passando por um processo de mudanças, atualmente. Vai chegar um
tempo em que o equilíbrio entre trabalho, o lazer e a vida social vai ser
automático. Aí teremos trabalhadores mais produtivos, mais criativos e mais
felizes.
Fonte:
Jornal Carreira & Sucesso