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   As Cremações na Índia

        Na religião hindu é costume, após a morte de uma pessoa, a incineração de seu corpo. Esta tradição, apesar, sem dúvida das conotações sanitárias e práticas que em sua origem pudesse ter, possui outras de caráter espiritual arraigadas em seu povo.

        Desde a antiguidade, as civilizações sempre têm atribuído ao fogo um caráter purificante , e a Índia não era uma exceção. Entre seus deuses este elemento estava  representado  por Agni, no tempo em que sacrifícios e ritos o utilizavam como elemento purificador. Com o desenvolvimento  do pensamento brahamâmico das idéias de poluição, purificação e reencarnação, a morte, considerada como contaminação da vida, necessitava logicamente que o corpo se purificasse através dela e que melhor meio senão através do fogo que é investido precisamente dessas características.

        Serão pois, assim, as chamas as encarregadas de liberar a alma individual de seu envoltório terreno e de levá-la até o céu para sua união com a alma universal ou para permanecer no sansara, ciclo do renascer.

        A cremação se fazia antigamente, com madeira de sândalo; hoje devido ao alto preço, é utilizado apenas pelas famílias de mais posses; no entanto, como símbolo pode-se colocar um pedaço da mesma entre os outros tipos de madeira empregada. O corpo é envolto em um pano branco para o caso de homens e outro rosa para as mulheres e transportado em macas por seus familiares homens da sua casa até o crematório. Uma vez ali é submergido na água do Ganges ou no caso de existir, em algum outro rio de conotação sagrada como aquele, para um último banho purificante. Após encher-lhe a boca de água, o defunto será colocado sobre a  pira funerária pelos assistentes da cremação, normalmente os denominados, grau inferior entre os intocáveis, cobrindo-lhe em seguida com a madeira necessária para isto.

        Assistem a incineração geralmente somente os homens da família, os filhos varões do defunto vestidos com roupas brancas e a cabeça raspada em sinal de purificação. Para complementar o rito funerário se acercarão da pira e o mais velho deles, depois de dar cinco voltas ao seu redor, acenderá o fogo.

        Consumido o fogo, suas cinzas são recolhidas e espalhadas no Ganges ou em algum dos rios também sagrados, ou guardadas por algum familiar e levadas em sua peregrinação até um deles para arremessá-las ali. Os familiares, uma vez completado o rito funerário, observarão para sua purificação um isolamento social, uma atitude de recolhimento, assim como uma dieta restrita que incluirá a cocção de alimentos de forma primitiva (fogo sobre a terra e caçarolas de barro). Finalizando este período, que varia segundo os costumes (geralmente quinze dias),  se convidará a família para um banquete simbolizador da continuação da vida.

        Na sociedade hindu se observa contudo três casos em que a cremação do corpo não é efetuada: o primeiro quando se trata do falecimento de uma criança, que neste caso será lançada no rio; no segundo os corpos dos leprosos, por considerar que os sofrimentos padecidos nesta vida os liberam da última purificação e em terceiro lugar quando se trate de sacerdotes ou santos, por acreditar que sua vida dedicada à realização espiritual e à santificação o tornem desnecessário.

    As viúvas na Índia, são reconhecidas por vestir um sari de cor branca. Geralmente não lhes é permitido voltar a casar e sua posição social é difícil e um tanto ambígua; contudo, atualmente já não se vêem obrigadas a cumprir uma dos costumes mais incríveis deste país (proibido no século passado pelos ingleses), o ritual sati ou imolação na pira funerária das viúvas junto ao cadáver de seu marido. Todavia ainda hoje excepcionalmente se pode ler em jornais índicos casos em que foi realizada. A origem deste costume se encontra no antigo mito baseado na concepção religiosa da virtude unitária dos opostos e relacionada com Sati, primeira esposa do deus Shiva, que teria suicidado no fogo por não resistir à separação do mesmo, imposta por seu pai através de mentiras.

        A partir de então, o impulso de não poder resistir à separação do marido seria bem vista pela sociedade e a culminação deste adquiriria tons dramáticos depois da morte daquele, pelo que, atirar-se às chamas e morrer junto com o cônjuge era assim o destino da amante e virtuosa esposa.

 

                        Fonte: Guillermo Herrera - Revista Memorial

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