Nova pagina 2
Outras
datas importantes relacionadas aos rituais funerários são: o sétimo dia (Hafteh
), o trigésimo dia ( Maah), o quadragésimo dia (Chelleh), e o aniversário de
um ano (Saal). Em cada um destes dias, os parentes e qualquer um que deseje fazê-lo
visita a sepultura do morto e coloca flores, ou joga água de rosas, e reza pelo
falecido.
O grau de detalhes em que se pode entrar, para
descrever estas cerimônias pode facilmente ir além do espaço disponível para
este texto. Estes incluem, por exemplo, complicados rituais a serem observados
no leito de morte — para as pessoas afortunadas o suficiente para morrerem em
uma cama — de sempre ter o corpo voltado para Mecca, a qual dos parentes deve
estar à cabeceira da cama, aos deveres específicos para cada membro da família.
Os rituais funerários iranianos incluem até instruções para os acessórios
que podem ser colocados junto com o morto nas suas sepulturas para assegurar uma
viagem mais tranqüila no outro mundo.
Entretanto, a um certo ponto começam as perguntas
sobre quantos destes rituais são para o benefício dos vivos, e quantos para o
benefício do morto. Quais são mais relacionados com a necessidade de aceitação,
e quais com a refutação da morte? O levantamento destas questões, eu creio, são
tão parte de uma exposição dos rituais funerários como as descrições
dadas. Por exemplo, na tradição zoroástrica, os parentes e amigos do defunto
usam branco, e o choro ou outras formas drásticas de comportamento são
estritamente proibidas, porque se crê que estas coisas perturbam a alma do
morto. Na tradição iraniana pós-Islâmica, entretanto, a cor do luto é o
negro, e o choro mais feroz é aceitável e prescrito, não em uma forma escrita
ou literal, mas da maneira como ele é praticado e aceito na sociedade.
Então, a pergunta pode surgir: por quem nós estamos
chorando tanto? Pelos mortos, ou por nós mesmos? Por que estas altas referências
ao Imam Ali e ao Imam Housayn nos serviços memoriais?
Por que não honrar somente a memória do morto? Ou, tomando o exemplo do
pagamento ao sacerdote para que ele faça as orações que o morto pode ter
esquecido: é esta uma invenção de uma classe do clero (os membros mais
improdutivos da sociedade) que cria desta maneira uma forma de ganho? Podemos
realmente acreditar que o deus muçulmano Shiita, Allah, seja
tão relaxado que possa esquecer a noção da responsabilidade pessoal,
esta lei mais fundamental de todos os editos religiosos, para não mencionar de
todas as leis da ética e da moralidade secular? Ou, ao fazer estes pagamentos
em nome dos nossos mortos, não estamos nos iludindo, esperando que nossas boas
ações também poderão ser feitas, em nosso nome, depois que nós morrermos?
Na morte, assim como na vida, é correto fazer
perguntas ao mesmo tempo que descrevemos tradições culturais. Estas tradições
culturais, como o poeta iraniano, Shamloo, uma vez disse, não são como artigos
emprestados, a serem preservados e devolvidos exatamente na mesma forma e mesmas
condições em que os recebemos. As tradições culturais devem ser moldadas e
re-moldadas. Elas devem ser questionadas e interrogadas quanto à sua validade,
sua utilidade, seu efeito sobre nós, e seu direito de existir. Tal interrogação
é o verdadeiro e único sinal de respeito por uma cultura, porque somente sob
uma luz inquisitiva uma cultura pode
continuar a prosperar e não cair na decadência e na irrelevância.
Revista Espaço Acadêmico
Nº30 - Novembro/2003