Atualmente, somos capazes de saber como as estrelas e galáxias nascem, expandem
e morrem. E o que se aplica as mais vastas realidades do universo, também se
aplica aos minúsculos átomos de nossos corpos. Do ponto de vista puramente físico,
os nossos corpos são compostos dos mesmos materiais e componentes químicos das
mais distantes galáxias. Neste sentido, somos, literalmente, como filhos das
estrelas.
O corpo humano é composto por cerca de 60 trilhões de células, e a vida é a
força vital que harmoniza o infinito complexo funcional destas inúmeras células
individuais. A cada momento, incontáveis células estão morrendo e sendo
substituídas pelo nascimento de novas. Neste nível, estamos vivenciando
diariamente o ciclo de nascimento e morte.
Ao nível prático, a morte é necessária. Caso as pessoas vivessem para
sempre, elas eventualmente aguardariam pela morte. Sem ela, iríamos enfrentar
uma nova série de problemas – da super-população de idosos vivendo para
sempre. A morte nos conduz a renovação e regeneração.
Por esta razão, a morte deve ser apreciada como uma dádiva. O budismo ensina
que a morte é como um período de descanso – como o sono – na qual a vida
restaura suas energias e se prepara para um novo ciclo. Logo, não há motivos
para temer a morte, odiá-la ou buscar bani-la de nossas mentes.
A morte não é discriminatória, nos destitui de tudo.
A fama, riqueza e poder são totalmente inúteis neste momento final. Quando a
hora certa chegar, somente haverá a si mesmo para se apoiar. Esta é uma solene
confrontação na qual, somente podemos enfrentar com a nossa crua humanidade,
um resumo de tudo o que fizemos, o como escolhemos viver nossas existências,
perguntando: ‘Eu vivi de modo autêntico ? O que contribui para o mundo ?
Quais são as minhas realizações e arrependimentos ?’
Para se morrer bem, é necessário se viver bem. Para
aqueles que vivem coerentes com as suas convicções e que trabalham em prol da
felicidade de outros, a morte pode se tornar como um descanso confortável.
Assim como, um sono profundo que se segue a um dia de ações vigorosas.
Há alguns anos atrás, eu fiquei impressionado com a
atitude de um amigo meu, David Norton, com relação a sua própria e iminente
morte.
Quando ele tinha dezessete anos, o jovem David
tornou-se um bombeiro voluntário que enfrentava as mais inóspitas áreas para
cortar árvores e cavar trincheiras para evitar que o fogo se propagasse. Ele me
disse que agia deste modo para aprender a lidar com o seu próprio medo.
Quando ele estava com seus sessenta e poucos anos, foi
diagnosticado com câncer avançado. De peito erguido enfrentou a morte e
descobriu que a dor não podia derrotá-lo. E de acordo com a sua esposa, Mary,
não teve na morte uma experiência solitária. Posteriormente ela me disse que
no momento da sua morte, ele estava cercado de seus amigos e enfrentou a morte
sem medo, considerando-a como uma "nova aventura, semelhante ao tipo de
teste que ele enfrentava quando via uma floresta em chamas".
Mary me disse: "Eu primeiro lugar, penso que tal
tipo de aventura é uma oportunidade para desafiar a si mesmo. Deixando de lado
as situações cômodas, onde sabemos o que irá acontecer e não temos com o
que se preocupar. Esta é uma oportunidade para o crescimento. É uma chance
para se tornar o que precisamos ser. Mas, antes de tudo, é um desafio para se
enfrentar sem medo".
A consciência da morte nos capacita viver cada momento
de nossas vidas com apreciação pela oportunidade única que temos em criar
algo em nosso período na Terra. Eu acredito que para desfrutarmos da verdadeira
felicidade, devemos ser capazes de vivermos cada instante como se este fosse o
último. O hoje nunca retornará. Nós podemos falar sobre o passado ou o
futuro, mas a única realidade que temos é o presente momento. E o ato de
confrontarmos com a realidade da morte nós fortalece a evidenciar a coragem,
alegria e a criatividade ilimitada em cada um destes instantes.