A palavra graça vem do grego caris, que significa o ungido, o protegido. Também quer dizer alegria, já que aquele que recebe uma graça sente-se firme e seguro diante de qualquer perigo. “Ficamos em estado de graça em vários momentos da vida, quando sentimos que tudo se encaixa”, explica Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de teologia e ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Por isso, não importa qual seja sua crença, lance aos céus seu pedido. Se você quer saúde, amor ou dinheiro, eleve suas preces para o alto e peça sua graça.
Esse ato de fé é inerente ao sentimento de fragilidade que nos assalta diante das dificuldades, quando nos damos conta de que não somos tão poderosos como pensamos. “Assim rompemos a sensação de isolamento e nos conectamos a algo maior do que nós”, diz a terapeuta Áurea Roitman, de São Paulo.
Valem oração, novena, promessa, pedido para nós mesmos ou outras pessoas, diretamente para Deus ou indiretamente, para o santo ou o anjo da guarda. E em qualquer situação – para apressar a cura de uma doença, aumentar a segurança em uma entrevista de emprego ou até proporcionar tranqüilidade durante uma viagem de avião.
Budistas Pedem Paz para todos os Seres
Os praticantes do budismo costumam pedir que os seres iluminados lhes abençoem na busca espiritual, evitando que se distraiam com questões terrenas. Também são estimulados a fazer pedidos, até os mais banais, para conseguir a paz necessária para essa importante jornada. “Para que uma graça nos seja concedida, precisamos reunir as condições para fazer por merecê-la”, observa a monja Tingdzin, que dirige um centro de budismo kadampa (“ka”, de palavra, e “dam”, que se refere às etapas do caminho espiritual), em São Paulo.
Só somos atendidos pelos céus quando acumulamos méritos, praticando a bondade e a compaixão, por exemplo, e purificando o carma negativo. Esse carma é formado por atitudes maléficas, desta vida ou de outras passadas, que atrapalham nosso crescimento espiritual, segundo as filosofias orientais.
Orar, entoar mantras, fazer oferendas ou qualquer prática que promova harmonia são ações que nos fazem obter méritos. “Se você ministra uma boa aula ou escreve um texto edificante, deve dedicar essa energia positiva à felicidade de todos os seres”, ensina Daniel Calmalowitz, diretor do Centro de Dharma da Paz, de São Paulo.
Deus Retribui a todos, Segundo o Islamismo
Os muçulmanos crêem que o destino de cada ser humano já está traçado por Alá, o deus supremo, mas nada impede que o fiel peça ao Senhor que lhe alivie o fardo. No próprio Alcorão, o livro sagrado da religião islâmica, as súplicas que fazem o legado de Alá ao profeta Maomé contêm pedidos.
“Deus é generoso e retribui aos que pedem a Ele. Nos momentos difíceis, a oração traz tranqüilidade ao coração e o fará contornar as dificuldades sem se desesperar ou perder a paciência”, afirma Charles Domingues, presidente do Centro de Estudo e Divulgação do Islã, de Suzano, em São Paulo.
Filho de libaneses, o dentista Assad Saleh, de São Paulo, chama os pedidos de “papo informal, uma linha direta entre a gente e Deus, rezada em árabe”. Há três meses, Assad teve uma súplica atendida, quando seu tio saiu de um coma após sofrer um transplante de fígado. Como a caridade é uma das obrigações islâmicas, Assad comprometeu-se a distribuir dez cestas básicas aos necessitados.
Hinduístas Pedem a Salvação da Alma
Os indianos meditam e fazem banhos sagrados e retiros espirituais para se aproximar das várias manifestações divinas. “Seus pedidos mais freqüentes são por saúde, longa vida e prosperidade.
Generalizando, são os mesmos que fazemos no Ocidente, pois os anseios humanos são idênticos, em todos os tempos e lugares”, diz a musicista Meeta Ravindra Meeta, dona de um espaço cultural dedicado à cultura indiana, em São Paulo. A não ser quando rogam pela aniquilação de todos os carmas, para que a alma possa partir para outra etapa de evolução.
O costume indiano de fazer oferendas de comidas e flores em altares caseiros, repletos de fotografias de deuses com cabeças de animais, intrigou a brasileira Vânia de Castro ao visitar a família do marido na Índia.
Ela decidiu, então, estudar o panteão hinduísta, o que a levou a escrever os livros O Ramayana e Lendas Indianas (ed. Madras). “Hoje, quando surge algum aperto, recorro à proteção de Ganesha, o deus com cabeça de elefante, que remove obstáculos, e a Hanuman, o deus-macaco, das causas impossíveis”, conta Vânia.
Judeus crêem nas graças de todos os dias
No judaísmo, a graça é concebida como um presente diário e compreende até mesmo as coisas simples da vida, como o nascer e o pôr-do-sol. “A diferença entre o milagre e uma manifestação da natureza é a repetição do fenômeno. Quando ele ocorre mais freqüentemente, o atribuímos à ação natural. Quando acontece com mais raridade, é algo milagroso”, explica o rabino David Weitman, da Congregação e Beneficência Sefardi Paulista.
Um judeu deve rezar três vezes ao dia, pedindo sabedoria, saúde e sustento. “Como tudo vem de Deus, na hora em que quiser Ele pode inverter qualquer situação, lógica ou ilógica”, afirma o rabino. Mas não basta orar com fervor para alcançar uma graça, segundo a concepção judaica. “Recorremos à bênção divina, mas ela só virá se o homem lavrou a terra, semeou e plantou, muitas vezes com lágrimas”, salienta Weitman.
Pessoas de todos os credos enfiam papeizinhos com pedidos nas frestas das pedras do Muro das Lamentações, um dos lugares sagrados do judaísmo, em Jerusalém, Israel. As fendas ficam repletas deles, o que dificulta encontrar espaço para colocar um novo pedido.
Santos e Anjos Mediam Pedidos dos Cristãos
Os católicos têm o hábito de pedir a intercessão dos santos para que Deus lhes conceda uma graça. As orações que circulam nos santinhos de papel são maneiras de formalizar o pedido. Cada santo abraça um tipo de causa – urgente, impossível, perdida. Ou, ainda, de caráter amoroso, financeiro e de saúde.
O padre José Bizon, assessor para ecumenismo da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirma que “a graça é um presente que Deus nos dá independentemente de quem somos, por Sua própria misericórdia”. E lembra que, se alguém pede emprego não apenas para si mas também para outros milhões de desempregados – por exemplo, em uma graça coletiva –, trabalha pelo bem da humanidade e atrai a bondade divina.
“Já fiz cinco pedidos para santo Expedito e todos foram atendidos”, conta a assistente administrativa Tânia Regina Leone, 40 anos, de São Paulo. Ela anda com o santinho na carteira e reza para ele todas as noites. “Só pedi sua intercessão em casos de saúde. Nunca por dinheiro ou algo material”, ressalta.
Devota de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, a dona de casa Aparecida Nunes, de São Paulo, diz já ter recebido três grandes graças, a última delas após ter feito uma novena. “Tínhamos um terreno à venda havia dez anos e que era motivo de desavenças em família. Então pedi que, se fosse para o bem de todos, ela realizasse meu desejo de que alguém o comprasse. Deus colocou em nosso caminho um comprador honesto, que pagou tudo direitinho”, conta a beata, de 80 anos.