Perda dos pais
Esta tem sido estudada
menos que outras perdas, porque se supõe que os adultos, que normalmente fazem
outra uniões e tem suas vidas ocupadas devem experimentar um luto mais curto. No
entanto, a dor pode ser muito mais pronunciada e traumática do que se crê,
especialmente para aqueles filhos que estejam física e emocionalmente muito
ligados ao falecido. A morte de um pai pode significar perda de segurança, perda
de condição de filho e se ver obrigado a assumir um papel de mais adulto e
responsável pela família. Por outro lado, o indivíduo fica agora exposto a ser
''o seguinte na linha geracional'' se ambos os pais já tiverem falecido.
Perda de um irmão
O apego entre irmãos
normalmente continua na vida adulta, por isso a morte pode causar uma dor grave.
Isto com freqüência leva a um exame da relação com os demais membros da família,
resultando em uma maior sensibilidade e preocupação com os membros
sobreviventes. Em neoplasias com alta incidência familiar (por exemplo: câncer
de colon ou mama), a morte de um irmão pode chegar a ser estigmatizante,
favorecendo assim a ansiedade secundária e a vulnerabilidade do sobrevivente.
Perda de uma criança
A morte de uma criança é
considerada como um fator de risco para um luto complicado; apesar da presença
da aflição antecipada e das mudanças graduais no funcionamento e estrutura da
família que uma enfermidade crônica provoca, a morte de uma criança exerce um
profundo efeito emocional sobre a família e seus membros. Os sentimentos de
culpa e raiva são freqüentes, observando-se um deslocamento da hostilidade e
agressividade para o cônjuge, irmãos da criança doente, membros da equipe médica
ou outras pessoas conhecidas. Se os pais forem super protetores e se há uma
busca em substituir a criança perdida, pode se estimular artificial e
inadvertidamente tal comportamento nos sobreviventes e abalá-los.
Por outro lado quando uma família
perde uma criança, é possível que perca mais que um laço de união; a família
pode haver utilizado a enfermidade da criança e suas complicações secundárias
como um meio de evitar problemas mútuos e conflitos não relacionados com a
enfermidade. Com a morte da criança e ante a possibilidade de retornar a estes
modelos desviados, a família deve enfrentar os fatos de forma proporcional e
direta, buscar outras alternativas para evitar o conflito ou desintegrar-se. A
morte de uma criança e seu impacto sobre a família exige uma abordagem
protocolizada e multidisciplinada perante as graves conseqüências que acarreta
sobre o luto de cada um dos sobreviventes, particularmente se existem outras
crianças pequenas.
Morte Neonatal
Existe a crença popular que
a morte de um recém-nascido por não ter havido tempo suficiente para se
estabelecerem fortes laços de união produz menos reações durante o luto que nos
casos em que esses laços se formaram. Não obstante, existem dados suficientes
para afirmar que as reações das famílias perante a perda de um recém nascido
correspondem às reações aflitivas típicas. As mães manifestam freqüentemente
culpabilidade baseada em causas imaginárias da morte, tais como prática sexual
durante a gravidez, alimentação inadequada, trabalho excessivo e prolongado
durante a gravidez, excesso de exercício ou movimentos.
Os pais também podem experimentar
sentimentos de culpa relacionados com o abandono das esposas, falta de atenção
às necessidades dela, causas genéticas ou sensação de '' ter feito algo de
mal''.
Quando uma criança morre deve-se
permitir que os pais a tenham nos braços se assim desejarem, sempre que se tenha
prevenido-os das mudanças que podem ocorrer ( como mudança de cor da pele, de
temperatura, rigidez, etc.). Além disso, como parte do processo de luto, é
conveniente dispor de algum tipo de cerimônia formal que promova a
exteriorização da dor e não deixe a família com a sensação que o nascimento e a
morte da criança são acontecimentos sem importância.
Em casos de abortos e
natimortos
Quando as mães se deparam
com o nascimento de uma criança morta, em 50% dos casos reprovam a si mesmas ou
culpam outros, 25% consideram ''vontade de Deus'' e outros 25% evitam pensar no
assunto. As reações de aflição podem ser as típicas. Com freqüência as mães
podem envergonhar-se, consciente ou inconscientemente, por ter a sensação de ter
fracassado como mulher capaz de dar a vida a uma criança, e se sentem culpadas
pensando no que poderiam ter feito ou pensado para que a criança morresse. Pode
ocorrer que esse tipo de morte seja tão dramática e frustrante, que se perca a
esperança de futuro.
Como no caso anterior, é
recomendável que os pais, se assim desejarem, vejam e toquem a criatura, isto
permite facilitar o processo aflitivo ao existir uma ''pessoa'' tangível pela
qual sentir dor. Quando não desejarem, circunstancia que não é estranha ou
anormal, não se deve deixar que se sintam culpados por isso.
É recomendável também que se ponha
nome na criatura e se realize algum tipo de ritual simples.
O adolescente e o luto
Devido a sua maior maturidade os
adolescentes podem enfrentar em melhores condições as conseqüências da morte.
Diferentemente das crianças, não dependem por completo de seus pais para
desenvolverem-se, muito embora a perda de um deles pode representar problemas
muito peculiares devido a etapa de desenvolvimento em que se encontram.
As ocupações predominantes na
adolescência são libertar-se da estreita dependência dos pais, dirigindo suas
emoções para outros indivíduos e adultos estranhos à família, e alcançar uma
identidade consistente (uma personalidade própria).
O desaparecimento de um dos pais
ou irmãos não levam, no entanto, necessariamente a reações patológicas. As
conseqüências do falecimento em seu desenvolvimento emocional dependem do nível
de desenvolvimento que já alcançou, da qualidade de suas relações pessoais e do
grau de maturidade que possua antes da morte.
Apesar de nesta etapa a
atitude dos adolescentes ser muitas vezes marcadamente hostil para com os pais,
existe sempre a possibilidade de retornar aos seus cuidados como uma criança,
como em épocas anteriores. Como um elemento primordial e normal de seu processo
de crescimento existe interesse peculiar pela imortalidade e temas afins,
interesse esse que pode servir para defender-se do horror da morte, evitar a
tristeza e perpetuar a fantasia da reunião em plano físico com a pessoa perdida;
se o conceito de vida eterna é utilizado a partir de uma perspectiva negativa,
uma morte significativa pode provocar sentimentos suicidas. Por outro lado, se o
adolescente é incapaz de diferenciar-se do defunto (de separar-se deste, de
diferenciar suas personalidades, se cortar os laços), pode interferir na
formação de uma identidade consistente (uma personalidade própria). Am ambas
situações é recomendável o aconselhamento profissional.
Apesar da perda em si não ser
patológica ( não ser de fato, perigosa para seu desenvolvimento), pode
constituir o núcleo ou a base em torno da qual se agrupem elementos patológicos
de conflitos anteriores ou futuros, isto é, pode ser o disparador de uma
personalidade complicada na vida adulta.
A atitude ambivalente ( de amor e
ódio) com que os adolescentes normalmente se relacionam com os adultos deve ser
levada em conta quando se analisem suas reações perante a morte de um dos pais;
certamente uma coisa é tentar ser independente quando se sabe que os pais
continuam disponíveis e outra muito diferente é tentá-lo quando a morte arrebata
um dos dois em pleno processo de emancipação.
Com freqüência o adolescente
aflito pela perda de um ser querido fala incessantemente nas qualidades do
falecido, esquecendo as características que poucos meses antes consistiam em
motivos para uma crítica intensa. A idealização (''era um santo'') se produz
inclusive nas famílias em que o adulto falecido era, na verdade, um pai
inoperante (um pai que não exercia nenhum papel ativo na criação dos filhos).
Durante o luto, os adolescentes
podem querer procurar um médico por uma dor, uma erupção ou qualquer outra
moléstia (coisa que antes não faziam, ou se já faziam podem passar a fazer com
mais freqüência); porque na verdade o que estão fazendo é procurar alguém que os
tranqüilize a respeito de sua saúde ou até um substituto para o pai desaparecido
(representado pelo profissional de saúde). Podem apresentar também como nos
adultos, uma piora de enfermidades já existentes.
O adolescente também necessita de
bastante apoio emocional e oportunidade de expressar verbalmente suas
preocupações de forma que as falsas interpretações com relação a morte possam
ser esclarecidas (necessita expressar sua dor e inquietudes a respeito da
morte).
Doutor Jorge Montoya Carrasquila - Funerária San Vicente