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   Unidades da Dor - Terceira Parte

        Perda dos pais

         Esta tem sido estudada menos que outras perdas, porque se supõe que os adultos, que normalmente fazem outra uniões e tem suas vidas ocupadas devem experimentar um luto mais curto. No entanto, a dor pode ser muito mais pronunciada e traumática do que se crê, especialmente para aqueles filhos que estejam física e emocionalmente muito ligados ao falecido. A morte de um pai pode significar perda de segurança, perda de condição de filho e se ver obrigado a assumir um papel de mais adulto e responsável pela família. Por outro lado, o indivíduo fica agora exposto a ser ''o seguinte na linha geracional'' se ambos os pais já tiverem falecido.

        Perda de um irmão

         O apego entre irmãos normalmente continua na vida adulta, por isso a morte pode causar uma dor grave. Isto com freqüência leva a um exame da relação com os demais membros da família, resultando em uma maior sensibilidade e preocupação com os membros sobreviventes. Em neoplasias com alta incidência familiar (por exemplo: câncer de colon ou mama), a morte de um irmão pode chegar a ser estigmatizante, favorecendo assim a ansiedade secundária e a vulnerabilidade do sobrevivente.

        Perda de uma criança

         A morte de uma criança é considerada como um fator de risco para um luto complicado; apesar da presença da aflição antecipada e das mudanças graduais no funcionamento e estrutura da família que uma enfermidade crônica provoca, a morte de uma criança exerce um profundo efeito emocional sobre a família e seus membros. Os sentimentos de culpa e raiva são freqüentes, observando-se um deslocamento da hostilidade e agressividade para o cônjuge, irmãos da criança doente, membros da equipe médica ou outras pessoas conhecidas. Se os pais forem super protetores e se há uma busca em substituir a criança perdida, pode se estimular artificial e inadvertidamente tal comportamento nos sobreviventes e abalá-los.

        Por outro lado quando uma família perde uma criança, é possível que perca mais que um laço de união; a família pode haver utilizado a enfermidade da criança e suas complicações secundárias como um meio de evitar problemas mútuos e conflitos não relacionados com a enfermidade. Com a morte da criança e ante a possibilidade de retornar a estes modelos desviados, a família deve enfrentar os fatos de forma proporcional e direta, buscar outras alternativas para evitar o conflito ou desintegrar-se. A morte de uma criança e seu impacto sobre a família exige uma abordagem protocolizada e multidisciplinada perante as graves conseqüências que acarreta sobre o luto de cada um dos sobreviventes, particularmente se existem outras crianças pequenas.

        Morte Neonatal

         Existe a crença popular que a morte de um recém-nascido por não ter havido tempo suficiente para se estabelecerem fortes laços de união produz menos reações durante o luto que nos casos em que esses laços se formaram. Não obstante, existem dados suficientes para afirmar que as reações das famílias perante a perda de um recém nascido correspondem às reações aflitivas típicas. As mães manifestam freqüentemente culpabilidade baseada em causas imaginárias da morte, tais como prática sexual durante a gravidez, alimentação inadequada, trabalho excessivo e prolongado durante a gravidez, excesso de exercício ou movimentos.

        Os pais também podem experimentar sentimentos de culpa relacionados com o abandono das esposas, falta de atenção às necessidades dela, causas genéticas ou sensação de '' ter feito algo de mal''.

        Quando uma criança morre deve-se permitir que os pais a tenham nos braços se assim desejarem, sempre que se tenha prevenido-os das mudanças que podem ocorrer ( como mudança de cor da pele, de temperatura, rigidez, etc.). Além disso, como parte do processo de luto, é conveniente dispor de algum tipo de cerimônia formal que promova a exteriorização da dor e não deixe a família com a sensação que o nascimento e a morte da criança são acontecimentos sem importância.

        Em casos de abortos e natimortos

         Quando as mães se deparam com o nascimento de uma criança morta, em 50% dos casos reprovam a si mesmas ou culpam outros, 25% consideram ''vontade de Deus'' e outros 25% evitam pensar no assunto. As reações de aflição podem ser as típicas. Com freqüência as mães podem envergonhar-se, consciente ou inconscientemente, por ter a sensação de ter fracassado como mulher capaz de dar a vida a uma criança, e se sentem culpadas pensando no que poderiam ter feito ou pensado para que a criança morresse. Pode ocorrer que esse tipo de morte seja tão dramática e frustrante, que se perca a esperança de futuro.

        Como no caso anterior, é recomendável que os pais, se assim desejarem, vejam e toquem a criatura, isto permite facilitar o processo aflitivo ao existir uma ''pessoa'' tangível pela qual sentir dor. Quando não desejarem, circunstancia que não é estranha ou anormal, não se deve deixar que se sintam culpados por isso.

        É recomendável também que se ponha nome na criatura e se realize algum tipo de ritual simples.

        O adolescente e o luto

         Devido a sua maior maturidade os adolescentes podem enfrentar em melhores condições as conseqüências da morte. Diferentemente das crianças, não dependem por completo de seus pais para desenvolverem-se, muito embora a perda de um deles pode representar problemas muito peculiares devido a etapa de desenvolvimento em que se encontram.

        As ocupações predominantes na adolescência são libertar-se da estreita dependência dos pais, dirigindo suas emoções para outros indivíduos e adultos estranhos à família, e alcançar uma identidade consistente (uma personalidade própria).

        O desaparecimento de um dos pais ou irmãos não levam, no entanto, necessariamente a reações patológicas. As conseqüências do falecimento em seu desenvolvimento emocional dependem do nível de desenvolvimento que já alcançou, da qualidade de suas relações pessoais e do grau de maturidade que possua antes da morte.

        Apesar de nesta etapa a atitude dos adolescentes ser muitas vezes marcadamente hostil para com os pais, existe sempre a possibilidade de retornar aos seus cuidados como uma criança, como em épocas anteriores. Como um elemento primordial e normal de seu processo de crescimento existe interesse peculiar pela imortalidade e temas afins, interesse esse que pode servir para defender-se do horror da morte, evitar a tristeza e perpetuar a fantasia da reunião em plano físico com a pessoa perdida; se o conceito de vida eterna é utilizado a partir de uma perspectiva negativa, uma morte significativa pode provocar sentimentos suicidas. Por outro lado, se o adolescente é incapaz de diferenciar-se do defunto (de separar-se deste, de diferenciar suas personalidades, se cortar os laços), pode interferir na formação de uma identidade consistente (uma personalidade própria). Am ambas situações é recomendável o aconselhamento profissional.

        Apesar da perda em si não ser patológica ( não ser de fato, perigosa para seu desenvolvimento), pode constituir o núcleo ou a base em torno da qual se agrupem elementos patológicos de conflitos anteriores ou futuros, isto é, pode ser o disparador de uma personalidade complicada na vida adulta.

        A atitude ambivalente ( de amor e ódio) com que os adolescentes normalmente se relacionam com os adultos deve ser levada em conta quando se analisem suas reações perante a morte de um dos pais; certamente uma coisa é tentar ser independente quando se sabe que os pais continuam disponíveis e outra muito diferente é tentá-lo quando a morte arrebata um dos dois em pleno processo de emancipação.

        Com freqüência o adolescente aflito pela perda de um ser querido fala incessantemente nas qualidades do falecido, esquecendo as características que poucos meses antes consistiam em motivos para uma crítica intensa. A idealização (''era um santo'') se produz inclusive nas famílias em que o adulto falecido era, na verdade, um pai inoperante (um pai que não exercia nenhum papel ativo na criação dos filhos).

        Durante o luto, os adolescentes podem querer procurar um médico por uma dor, uma erupção ou qualquer outra moléstia (coisa que antes não faziam, ou se já faziam podem passar a fazer com mais freqüência); porque na verdade o que estão fazendo é procurar alguém que os tranqüilize a respeito de sua saúde ou até um substituto para o pai desaparecido (representado pelo profissional de saúde). Podem apresentar também como nos adultos, uma piora de enfermidades já existentes.

        O adolescente também necessita de bastante apoio emocional e oportunidade de expressar verbalmente suas preocupações de forma que as falsas interpretações com relação a morte possam ser esclarecidas (necessita expressar sua dor e inquietudes a respeito da morte).


                Doutor Jorge Montoya Carrasquila - Funerária San Vicente

 






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