|
Assim como as estações marcam o ritmo do planeta, a cada
sete anos começam novos ciclos em nossas vidas e eles trazem desafios
especiais. Estar em sintonia com eles torna mais fácil aceitar o passado, viver o presente e traçar
metas para o futuro.
De onde vim? Quem sou? Para onde vou?
Essas são algumas questões que somos convocados a responder em alguns
momentos-chave ao longo da vida.
Uma das formas de fazer isso é olhar os acontecimentos importantes como uma
história – a biografia –, percebendo que a cada sete anos (mais ou menos)
surge um fato novo e importante que nos desafia a crescer e desenvolver nossos
potenciais. Essa é a base do Biográfico, método sistematizado pela médica,
terapeuta e escritora Gudrun Burkhard com base na antroposofia, a ciência
espiritual fundada pelo médico austríaco Rudolf Steiner (1861-1925).
Esses ciclos de sete anos chamam-se setênios,
e pode reparar: quando eles começam, transformações significativas acontecem.
Algumas são físicas e valem para todos, independente de cultura, etnia e
vontade. A troca dos dentes aos 7 anos, a puberdade aos 14, a conclusão do
crescimento aos 21. As mudanças físicas são as mais fáceis de perceber, porém
são tantas outras metamorfoses que tecem a vida! Os fios de nossas muitas
escolhas, emoções e fatos externos vão se sobrepondo em uma complexa teia
moldada por herança genética, lugar de nascimento, profissão, nascimento dos
filhos, casamento, rupturas, doenças, encontros que nos levam ao
autoconhecimento e a desenvolver a espiritualidade (veja boxe nas próximas páginas).
“Cada pessoa tem sua história e não há
duas iguais. Mas já na Grécia Antiga, seis séculos antes de Cristo, os filósofos
observaram que há leis universais que valem para todos. O conhecimento dessas
fases faz perceber quais são os frutos de cada estação e quando colhê-los no
ponto. Esperar até que as habilidades amadureçam é o grande segredo para
viver plenamente”, diz a doutora Gudrun.
Crises são Oportunidades
Os chineses, também há milênios, já
diziam que nos primeiros 20 anos aprendemos. Levamos mais 20 lutando e outros 20
para chegar à sabedoria. E isso se consegue à custa de crises que são
oportunidades para crescer mais um pouco. Por exemplo, a partir dos 42 anos
(seis ciclos de sete anos), temos de olhar para o que realizamos e resolver o
que vamos continuar levando e o que não nos serve mais. Isso redimensiona o
futuro e abre caminho para aceitar com naturalidade o envelhecimento. Brigar com
isso pode gerar muita insatisfação. “Corre-se o risco de continuar com uma
fixação no corpo, querendo a eterna juventude. Então, cria-se a necessidade
insana de fazer plásticas e perde-se a chance de se voltar para os valores
essenciais e aprender a priorizar. Esses são os pontos fortes desse setênio”,
esclarece a psicóloga Solange Castilho, especialista em terapia biográfica de
São Paulo.
Tudo a seu Tempo
E quantas vezes você já foi invadido
pela sensação opressora de que não vai dar tempo de realizar tudo que quer?
Outro dos bons efeitos de observar os setênios
é perceber que tudo vem a seu tempo.“Responder às questões do Biográfico
baixou minha ansiedade e me fez olhar para minha vida de maneira mais ampla.
Percebi a lógica de minha trajetória: escolha da profissão, casamento,
nascimento de duas filhas, separação e os fatos que se repetiram. Tive a
certeza de que tudo, mesmo as crises mais difíceis, foi positivo”, conta
Sonia Godoy, 42 anos, professora de educação física e terapeuta corporal de São
Paulo.
Outro ponto importante da biografia é
tomar consciência a respeito dos fatos que se repetem (por exemplo, escolha de
vários relacionamentos complicados demais, problemas com chefes que levaram a
demissões inesperadas). Eles podem ser a chave para nosso crescimento.
“Quando um evento se repete muitas vezes, a tendência é colocar a culpa nos
outros ou em fatores externos. Mas isso não adianta. O que vale é prestar atenção
no que deve ser modificado internamente para que a mesma situação dê certo no
futuro”, ensina a doutora Gudrun.
“Tudo depende de nossas escolhas, e a
vida é por natureza tão complexa que é fácil confundir os caminhos. Esse
risco diminui quando olhamos para o que já fizemos e analisamos os resultados.
Dessa forma, podemos aceitar nossa história, usar o dom do livre arbítrio e
fazer um futuro que corresponda ao que realmente queremos sem ficar presos a
padrões que nos amarram ou soltos ao sabor dos acontecimentos”, diz o médico
Ronaldo Perlato, da Artemísia, de São Paulo, centro onde o Biográfico é
feito em grupos. Ele finaliza: “O passado e alguns fatos são imutáveis, mas
podemos alterar a forma de lidar com eles, e essa certeza traz muita alegria e
autoconfiança. Há pessoas que não tiveram as necessidades de cada fase
atendidas e por isso tornaram-se mais fortes”.
Você pode montar sua biografia agora
mesmo. Escolha um lugar calmo, lembre-se de fatos significativos e escreva-os no
espaço indicado abaixo para cada setênio. Se quiser, pode fazer o mesmo
selecionando fotos dos vários períodos. A seguir, veja no quadro da página ao
lado os desafios de cada fase.
De Sete em Sete Anos
Sete é um número que reflete a
harmonia cósmica. Sete são os planetas considerados pelos antigos (Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Sol e Lua), e eles têm relação com cada
fase de sete anos, necessária para que uma transformação se inicie,
transcorra e seja concluída. Conhecer os desafios de cada setênio ajuda a
compreender melhor nosso momento de vida e também de filhos, companheiros,
pais.
“A cada época, temos tons diferentes, e
no final da vida tudo se compõe como parte de uma grande sinfonia”, define a
doutora Gudrun Burkhard, autora do livro Tomar a Vida nas Próprias Mãos (ed.
Antroposófica).
0 aos 7 anos
— A criança chega ao mundo e é moldada pelas referências dadas pela família.
O desafio é crescer e ser bem formada física e emocionalmente. Essa fase é
regida pela Lua, que se relaciona com o crescimento e o ritmo da rotina, muito
importante para crianças nessa fase.
7 aos 14 anos
– As influências vêm da família e da escola e o jovem começa a se colocar
no mundo. O desafio é fazer vínculos. Regido por Mercúrio, o planeta da
comunicação, é a fase de muito movimento e intensa transformações físicas
e emocionais.
14 aos 21 anos
– O desafio é buscar a verdade e abrir-se para o amor romântico e fraterno.
Torna-se impostante buscar interesses individuais, distintos do grupo de amigos
e da família. A fase é regida por Vênus, planeta da paixão e dos
relacionamentos.
21 aos 28 anos
– É a fase em que começamos a lutar pelo que queremos, experimentamos um
vasto leque de sensações e os limites físicos e emocionais. Regida pelo Sol,
essa fase nos projeta para o mundo por meio de trabalho, casamento e outras
realizações.
28 aos 35 anos
– O desafio aqui é estruturar a vida (constituir família, carreira) e
colocar regras para si mesmo. Regida pelo Sol, dá seqüência a nossa projeção
e realizações.
35 a 42 anos
– Essa é a chamada meia-idade. O desafio é responder: qual o sentido da
minha vida? Regida pelo Sol, nos devolve às sensações de indefinição
vividas aos 21 anos.
42 a 49 anos
– O desafio é priorizar e fazer escolhas baseadas naquilo que realmente se
quer. É o momento de ir para o mundo como um guerreiro experiente, levando na
bagagem apenas o que é realmente importante. A fase é regida pelo planeta
Marte, dos impulsos de conquista e concretização.
49 a 56 anos
– Delegar tarefas, ter serenidade e transmitir tudo que aprendeu é o desafio
dessa fase, regida pelo planeta Júpiter, o da sabedoria.
56 a 63 anos
– É a época de aprofundar o autoconhecimento e a beleza interior, aceitando
que os órgãos dos sentidos (nossas antenas) começam a se recolher. Por
exemplo, fala-se menos e com mais precisão. Regido por Saturno, o deus do
tempo, esse ciclo guarda questões relacionadas à aceitação do envelhecimento
e da morte.
A partir dos 63
anos – Com a bagagem de vida e o autoconhecimento adquiridos, o
desafio agora é estar mais livre e disponível para ajudar os outros e
aprimorar a espiritualidade. Esse ciclo não é regido por nenhum planeta.
Revista Bons Fluidos