Na
Espanha várias paróquias se interessam pelo sepultamento de cinzas em suas
igrejas e adaptam suas criptas aos novos tempos. A Igreja de Santa Bárbara, em
Madrid, já tem uma relação de mais de 2.000 columbários para oferecer, parte
deles instalados por uma empresa terranense Marcs Urnas Bach.
O Rei
Carlos III proibiu em 1787 que se realizassem sepultamentos nas igrejas e
ordenou que se construíssem cemitérios fora das cidades.
Fez
isso com a promulgação de uma Cédula Real, que estabelecia o uso pela população,
decisão esta que ''somente trata de evitar enfermidades, epidemias e pestes que
acredita-se nascerem do ar das igrejas contaminado pelos cadáveres que se
enterram nos pavimentos'' e ''evitar o mais remoto risco de infiltração ou
comunicação com as águas potáveis.''
Pois
bem, o progresso e a troca de costumes funerários romperam com Carlos III e sua
Cédula Real, e os fiéis que assim desejem podem voltar a descansar entre os
muros de sua paróquia... desde que seja em forma de cinzas.
São
várias as paróquias em toda a Espanha que estão pleiteando dar às criptas o
velho e inicial uso para o qual foram criadas, acolher a seus paroquianos
falecidos. Salvo na igreja de San Juan Real de Oviedo, aonde existem columbários
há muitos anos e na paróquia malaguenha de Courps, que instalou esta alternativa
funerária há oito anos em um edifício anexo não no templo, nenhuma paróquia
espanhola tinham reestruturado suas antigas criptas para dar uma resposta contemporânea aos
novos costumes sociais. Até hoje.
A que
tomou a iniciativa teria sido a Paróquia de Santa Bárbara, em Madrid, uma das
igrejas mais belas e com mais história da cidade. Ela habilitou duas salas
embaixo do presbitério e da capela, as mesmas que em outra época foram
concebidas para criptas mas que até alguns meses atrás só serviam de armazém.
O
pároco, Javier de Mena, explicou que a idéia de converter o lugar em depósito de
cinzas surgiu para dar resposta à crescente demanda de paroquianos, que cada vez
mais optam pela cremação e que preferem dar descanso a suas cinzas na igreja de
sua devoção. Mas a construção dos 2.400 columbários tem uma segunda razão não
menos importante: o autofinanciamento da paróquia com a venda dos espaços, que
permitirá financiar reformas e ajudar a manutenção geral do templo.
O solo foi dividido em células que permitem o depósito de 4 urnas. |
A
disponibilidade dos espaços são de dois tipos. O projeto prevê o depósito no
solo, para o que se dividiu o piso em células ou nichos com divisões de estuque,
em sua maioria para quatro urnas. Além do mais nas paredes das duas salas
instalaram-se estruturas metálicas desenhadas por Marcs Urnas Bach que,
divididas em nichos, terão capacidade para uma ou duas urnas. Os columbários de
Urnas Bach tem uma frente de pedra, como uma lápide, no qual se encaixa uma
placa metálica onde será indicado o nome do falecido.
O
projeto de Santa Bárbara foi autorizado pelo Arcebispado e os preços dos columbários vão desde 2.100 euros com uma urna com direitos a 50 anos, até
12.500 euros para seis urnas definitivas. Entre um preço e outro há
uma infinidade de possibilidades. A paróquia de Santa Bárbara informa em sua
página da Web todos os detalhes e prevê que os paroquianos que mantêm uma
subscrição habitual se beneficiem de um desconto de 15%.
Os
paroquianos que se interessem pelo descanso de suas cinzas em Santa Bárbara
contam, além do mais com um valor histórico incorporado, porque entre os muros
desta antiga capela do convento de visitação das irmãs Salesianas descansam
desde 1759 os restos mortais do Rey Fernando VI e os de sua esposa, Bárbara de
Braganza, desde 1958. Os corpos dos monarcas estiveram na cripta de Santa
Bárbara, onde agora colocaram os columbários, até 1765 quando concluíram os
sepulcros que agora se pode admirar no interior da igreja.
Columbários com capacidade para uma ou duas urnas e terminados em lápide
de pedra ou metal |
Mas se
alguém está em dia com a revolução que está provocando o regresso dos defuntos
às criptas, esse alguém é Santi Bach, responsável pela Marcs Urnas Bach, uma
empresa inovadora em questões de incineração e que tem produzido no mercado o
desenho de quadro-urna, tanto para instalar em blocos de columbário nos
cemitérios como para guardar em casa.
Bach
aponta, entre as vantagens do depósito de cinzas nos templos, o fato que
fideliza os paroquianos e ajuda o financiamento da própria igreja, a maioria
delas sem ajuda externa. Segundo assegurou, sua empresa está atualmente em
negociação com paróquias de Madrid, Almería e Córdoba, que estão vendo as vantagens
religiosas e econômicas da reutilização das criptas.
Precisamente o periódico ''El dia de Córdoba'' informou no final de setembro do
ano passado que a paróquia de San Nicolás de la Villa iria reabilitar suas
criptas para conservar restos incinerados sobre solo sagrado. Antonio Evans,
sacerdote da igreja e recentemente nomeado cônego da Catedral, recebeu em
novembro a autorização oficial de Javier Martínez bispo da diocese de Córdoba.
Depois da aceitação do projeto, tanto o pessoal eclesiástico como os seguidores
da paróquia deram início às reformas, cuja finalização está prevista para o
início do próximo ano. A paróquia de San Nicholás de la Villa oferecerá mais de
4.500 sepulturas nos arquivos metálicos construídos nos antigos nichos. Esta
cifra permite atender ao sepultamento dos 675 irmãos de La Sentencia, apesar das
catacumbas da igreja San Nicolás terem um caráter público.
Francisco Gálvez, um pároco de San Francisco y San Eulogio, também em Córdoba,
tem mostrado especial interesse em reabilitar também as criptas de sua igreja e
convertê-las em um columbário para os fiéis que decidirem incinerar a seus
familiares falecidos.
Revista Adiós da Espanha