"Enquanto continuarem acreditando que a criatividade é um dom pessoal, as
empresas não terão acesso a milhares de novas idéias latentes em seus funcionários.
Ser inteligente não é sinônimo de pensar bem. A relação entre a inteligência
e o uso que se faz dela é a mesma que existe entre um automóvel e seu
motorista. Aproveitar ao máximo o potencial do veículo depende exclusivamente
da habilidade de quem dirige."
Com
pensamentos como este é que o consultor e um dos maiores especialistas em criatividade
do mundo, Edward De Bono, deixou estarrecida a platéia de executivos que acompanharam
seu seminário, em São Paulo - SP, no final do mês de abril de 2003, promovido
pela HSM.
Para Bono, o enfoque atual sobre criatividade
é muito limitado. Muitos acreditam que uma pessoa inibida não pode ser
criativa, logo, quando ela conseguir se livrar da inibição, terá libertada toda
sua criatividade. "Mas a realidade não é essa. O cérebro não foi feito
para ser criativo. O cérebro funciona justamente porque não é criativo. Ele
permite que a informação que entra se adapte a padrões rotineiros",
diz ele. Existem ainda outros falsos conceitos sobre a criatividade, como por
exemplo, acreditar que ela está relacionada às artes ou que se trata de um
talento ou habilidade.
A criatividade é um processo no qual se
utiliza um conjunto de habilidades mentais que não são patrimônio exclusivo dos
mais inspirados. Um ponto que se deve levar em conta quando se fala em criatividade
nas organizações é qual a sua finalidade. "Um problema é como uma
dor de cabeça", diz Bono, "Ela existe e é claramente
percebida. Uma necessidade criativa não existe até que alguém a reconheça,
até que alguém decida que quer pensar mais criativamente".
Mas como ser criativo, por
exemplo, em um ambiente rígido?
Nas culturas nas quais as pessoas dependem
da aprovação dos seus pares, é difícil receber a aprovação de uma idéia.
Em uma organização, a criatividade é vista ou como um risco ou uma expectativa.
Como expectativa, as pessoas procuram jogar com novas idéias. Por outro lado,
se esta cultura não for difundida, ser criativo será considerado um risco.
"A criatividade exige um
enfoque muito sistêmico e estruturado, que pode ser aprendido como qualquer
outra habilidade. Participei certa vez de uma reunião em um dos principais
bancos suíços. Estavam investindo 50 milhões de dólares em novos sistemas de
informação. E qual era o investimento na geração de novas idéias? Zero.
Isso confirma a crença totalmente errada de que com mais informações todos os
problemas serão resolvidos e colocaremos em funcionamento um motor gerador de
novas idéias", avalia Bono.
Bono avalia como sendo três as situações
principais que exigem o uso da criatividade:
Problemas e tarefas: a
resolução de problemas ainda é onde se usa menos a criatividade, pois as
pessoas sempre vão preferir soluções tradicionais a qualquer solução
oferecida pela criatividade. Deve-se buscar criatividade em duas situações:
quando se estiver bloqueado e não for possível seguir adiante e quando
desconfia-se que pode existir uma solução melhor do que a já apresentada.
Aperfeiçoamento: uma vez
que é possível sempre fazer melhor, o espaço para a criatividade é imenso. A
idéia é, mesmo que algo pareça estar perfeito à primeira vista, parar e
pensar como ele pode ser aperfeiçoado. A chave é, segundo Bono, se concentrar
em algo e se perguntar como aquilo pode ser aperfeiçoado. "Com o tempo,
esse hábito mental nos deixará hábeis no primeiro passo da criatividade, o de
focar um alvo. Se não tivermos um alvo, dificilmente seremos criativos."
Oportunidades: "Eu
acredito que em qualquer organização eficiente seja possível aumentar a
lucratividade em no mínimo 30% com novas idéias bastante simples." As
boas idéias são um recurso, e elas costumam ser prerrogativa do grupo responsável
pela estratégia corporativa. E isso é um erro. Esse grupo tem que exercer
discernimento e juízo a fim de elaborar um conjunto de opções e escolher
dentre elas. Isso é diferente de fomentar, desenvolver e testar novas idéias.
"Tendo trabalhado no campo
da criatividade por muitos anos, devo dizer que pouquíssimas organizações
levam a criatividade a sério. Talvez porque os executivos tenham sido treinados
como analistas, como solucionadores de problemas e como gerentes de manutenção.
Mas é importante que eles se façam algumas perguntas: 'O que a criatividade
poderia fazer para mim ou para a minha área?', 'Por que ainda não o fez?', 'O
que eu estou fazendo a respeito?' e 'O que eu poderia fazer a respeito?'. No
mundo das novas idéias, intenção e esforço são tão importantes quanto
talento e técnica", analisa Bono.
Cristina Balerini
Carreira & Sucesso
* Matéria publicada originalmente no jornal
Estilo & Gestão RH.
Cristina Balerini é editora da publicação.