É sempre impressionante observar pessoas experientes,
com grande capacidade, boa formação escolar, cultas, que, ao falar em público,
comportam-se como se não tivessem todo esse potencial. Ao invés de falar bem,
com calma, fluidez, técnica e naturalidade, as manifestações mais comuns
observadas são ansiedade, medo, nervosismo, pavor, pânico.
E tudo isso é expressado através de reações físicas
como gagueira, tremedeira, sudorese, "branco", taquicardia, rubor,
vontade de ir ao banheiro e, na maioria dos casos, uma grande vontade de sair
correndo daquela terrível situação, causando uma impressão ruim na audiência.
O curioso é que esse panorama é comum. De um modo
geral, todas as pessoas, em maior ou menor grau, sentem essa ansiedade e algumas
dessas manifestações no corpo. Mesmo as mais experientes, como artistas ou
palestrantes.
É comum ouvir relatos sobre ansiedades ou medos na
hora em que se levantam e posicionam-se diante de outras pessoas para falar.
O que ocorre é que, quando uma pessoa se levanta para
falar, fica em evidência e, a partir daí, corre um grande risco de ser mal
interpretada, de que as suas idéias não sejam aceitas, de que não consiga
impressionar ou agradar os ouvintes. Isso gera uma ansiedade tão grande,
fazendo com que o próprio corpo se encarregue de expressar essas tensões.
Mas, afinal, quais são as causas geradoras do medo ou
"horror" de falar em público?
Educação rígida demais
Essa tem sido a causa mais comum, que tem gerado muitas
frustrações quando uma pessoa torna-se adulta. Pais excessivamente
castradores, impedindo o desenvolvimento natural da criança, muitos "nãos",
ameaças, castigos, o impacto gerado por uma crítica severa, como por exemplo
"Você não serve para nada mesmo...", "Você não faz nada
direito...", "Você não presta...", "Não faça
isso..." ou "Cale a boca...".
No decorrer do tempo, aparentemente, esses estímulos
negativos são até esquecidos e nem os próprios pais, professores, avós, irmãos
mais velhos ou até religiosos tiveram a intenção de deixar essas marcas tão
negativas ou profundas.
Só que o impacto que isso pode gerar na cabeça de uma
criança livre de defesas tem um efeito devastador e altamente destrutivo.
Muitas seqüelas desse tipo de educação castradora aparecem na vida adulta,
através do medo de desagradar ou medo da crítica, impedindo uma apresentação
espontânea e natural.
Educação ou formação excessivamente protetora
A família em que a criança é protegida e amparada
excessivamente pode, num primeiro momento, nos soar como a ideal, afinal,
vivemos em um mundo complicado, cheio de maldades, violência e desrespeito. O
que ocorre é que essa criança é colocada em uma redoma de vidro, ou seja, é
afastada de todas as informações que possam gerar algum tipo de risco.
Só que chega um momento em que ela tem que estudar,
conviver com outras crianças e é nesse processo de socialização que começam
também os problemas, continuando na adolescência e na vida adulta, onde a
pessoa tem de ir à luta, trabalhar, viver a sua própria vida. O problema,
nesse caso, é que ela não foi forjada para a luta, para ter coragem de
enfrentar e combater as adversidades, para dizer não. Sem dúvida, esse é um
caso gerador de timidez ou fobias sociais.
Experiências mal-sucedidas
Qual a pessoa que não teve de se expor em algum
momento da vida, diante de outras pessoas? Pode ser que tenha sido na escola, na
incumbência da apresentação de um simples trabalho, junto com amigos ao expor
um pensamento ou até mesmo contando uma simples piada ou dando uma aula.
Em alguns casos, a experiência é tão negativa que,
muito embora a pessoa estruture seu conteúdo, não se prepara para sentir
aquela tremedeira, aquela ansiedade, aquele momento tão complicado. Isso gera,
em muitas situações, um verdadeiro trauma, que pode ser perpetuado pelo resto
da vida. É óbvio que todas as vezes que essa pessoa tiver de falar em público
ela irá reviver essas sensações negativas e irá escolher fugir do que
enfrentar, acomodando-se nas famosas "zonas de conforto" e encontrando
desculpas esfarrapadas para justificar o seu insucesso ou o seu fracasso.
Falta de experiência
É natural, quando temos uma primeira experiência na
vida, não conseguirmos o melhor resultado desejado. Não é na sua primeira
apresentação que um orador conseguirá a sua melhor performance. Não é na
primeira aula que o professor conseguirá envolver melhor os alunos. Também é
natural que as primeiras experiências gerem medo e ansiedade mas, tratando-se
de uma pessoa normal, sadia, ela sabe que isso faz parte de um processo de
aprendizagem e, como em uma escada, sabe que se sobe um degrau de cada vez e,
assim, irá naturalmente se desenvolver, acrescentando novos conhecimentos e
experiências, de maneira consciente e gradativa aos conhecimentos e experiências
existentes.
Perfeccionismo
O mais aterrador para uma pessoa perfeccionista é
descobrir que vive em um mundo imperfeito. Talvez sua maior frustração na vida
seja saber que ela também é imperfeita, ou pior ainda, além de tantos
defeitos, é também perfeccionista!
Quando uma pessoa normal, e isso é dito no sentido
mais simples da palavra, alguém que tem medos e consciência de que está em um
mundo aprendendo e apreendendo conhecimentos a cada momento, se depara com um
novo desafio, encara duas possibilidades: ou irá enfrentá-lo ou irá fugir. Ao
escolher enfrentar, prepara-se da forma que sabe e vai adiante. Restam ainda
duas possibilidades: ou terá sucesso ou fracassará. De qualquer modo,
reconhece que qualquer que seja o resultado será uma oportunidade para aprender
algo novo.
Para o perfeccionista, no entanto, por melhor que tenha
feito, mesmo que tenha se preparado e se esforçado ao máximo, ainda assim se
sentirá um fracassado.
Pessimismo
Há, ainda, aquelas pessoas que trazem qualquer clima
ambiental para baixo. Seu pessimismo é contagiante e a sua "energia"
é extremamente negativa.
É lógico que essas pessoas, por melhor que possam
fazer uma apresentação oral, não acreditam em seu próprio potencial e em sua
capacidade. Consequentemente, saem-se mal. Isso quando conseguem pelo menos ter
a ousadia de falar.
Mas, afinal, como enfrentar o medo de falar em público?
Apesar de serem muitas as causas ou justificativas para o medo de falar em público,
é certo que elas podem ser superadas.
Esse texto não pretende apresentar todas as soluções
para esse problema. O que ele propõe é que cada um faça uma reflexão e tire
o máximo de proveito das sugestões apresentadas, considerando que cada um de nós
funciona de um jeito diferente, tem uma personalidade distinta, uma estrutura
genética específica e experiências únicas de vida.
Auto-sugestão positiva
Esse é metade do caminho para qualquer jornada de
transformação. Se uma pessoa não acredita nela mesma, quem irá acreditar?
Acreditar em si mesmo significa olhar para um espelho e
enxergar do outro lado uma pessoa maravilhosa, dotada de inteligência, de
virtudes, de valores, alguém capaz de realizar tudo aquilo que deseja e que não
está no mundo para agradar e satisfazer o desejo de outras pessoas, mas sim
para viver a sua própria vida com os seus limites e possibilidades, tendo os
seus sucessos e alguns fracassos, mas vendo-se acima de tudo como uma pessoa
vencedora que pode tanto quanto qualquer pessoa de sucesso pode.
Conhecer o público alvo
Se uma pessoa, ao preparar-se para falar com uma provável
ou específica audiência, conhecer detalhes desse grupo, é natural que consiga
estar melhor preparada técnica e, principalmente, psicologicamente. Saber, por
exemplo, quantas pessoas estarão presentes, o nível cultural delas, se elas
conhecem algo sobre o assunto que será abordado, o que esperam da apresentação,
enfim, todos esses detalhes podem gerar mais conforto e maior tranqüilidade.
Conhecer o assunto
Mais do que isso, ter conhecimento profundo do que irá
falar, preocupando-se em planejar, definindo uma estratégia de ação,
escolhendo as ilustrações que poderá usar para rechear e tornar mais
interessante a apresentação, coletando dados, estatísticas, confirmando
informações, preparando-se para eventuais perguntas que os ouvintes poderão
formular. Isso dá segurança.
Conhecer técnicas de comunicação
Talvez essa seja a grande dificuldade e o maior
desafio, pois o nosso sistema educacional não prepara as pessoas para falar,
principalmente para falar em público.
Aprender e desenvolver técnicas de retórica, uso
adequado das mãos em gesticulação, voz bem administrada, envolvendo e
encantando as pessoas, uso de metáforas, exemplos, histórias, estratégias
para neutralizar resistências, desenvolver e controlar as emoções através da
inteligência emocional, técnicas de empatia, de ampliação de vocabulário e
de memorização, são recursos poderosos e preciosos que ajudam as pessoas a
terem maior autocontrole.
Administrar a tensão inicial
Manter a calma, transformar a energia despendida em
tensões e medos em uma energia produtiva e positiva, canalizada para a voz,
eloqüência, olhar, expressão facial e corporal é algo que pode ser
conseguido através de algumas simples técnicas de relaxamento. Respirar fundo,
pensar algo positivo, ouvir uma música suave, ler um texto otimista, são
algumas sugestões que podem ajudá-lo nesse momento tão difícil. Esse
instante pode ser comparado com aquele quando um atleta está prestes a partir
para a sua atuação, sob a tensão do olhar e expectativa de todas as pessoas.
Treinar
O exercício constante cristaliza o conhecimento e
sedimenta o aprendizado, por isso, treine. Comece com apresentações simples,
para um público conhecido e sem conseqüências, caso não seja bem-sucedido.
Gradativamente, procure aumentar o grau de dificuldade. Parabenize-se, compre um
presente para você mesmo a cada sucesso e assim, em curto prazo, estará
dominando grandes platéias e transformando em prazer o medo e o conseqüente
sofrimento de falar em público.
Revista
aulas e cursos