Trabalhar em equipe é um grande desafio. Pessoas
diferentes com objetivos comuns costumam ter conflitos de opiniões, formas
distintas de realizar tarefas, horário de produtividade, competições internas
etc. Para que a meta seja alcançada a tempo sem que isso custe alguns sapos
pela goela, a comunicação precisa estar bem afinada. Para isso, existe o
feedback, uma prática de criticar positivamente e de checar o que você fala e
faz com a reação das pessoas que lhe cercam. Mas, infelizmente, não é todo
mundo que sabe utilizar – e com eficiência – essa ferramenta. Desenvolver
essa habilidade interpessoal é um bom diferencial competitivo, necessário para
o crescimento profissional e uma excelente forma de unir e motivar a equipe.
Existem duas formas de feedback. Uma delas é a crítica construtiva, que tem o
objetivo de desenvolver comportamentos para o crescimento pessoal, da equipe e,
em conseqüência, da empresa, valorizando uma ação que está no caminho
certo. A outra é a negativa, que visa melhorar uma ação insatisfatória. Mas,
geralmente, ela é feita de forma destrutiva, apenas colocando a pessoa pra
baixo, não oferecendo alternativas de mudança. É aí que mora o perigo. Antes
de mais nada, é preciso ficar claro que o melhor feedback é aquele dado no
momento certo, antes que os "probleminhas diários” se transformem em
grandes conflitos. "Não é um simples bate-papo. Primeiro, o feedback
precisa ser descritivo, o mais específico possível, pontual. Não pode focar
no que está errado e sim no que deve ser mudado. É a oportunidade da pessoa
refletir sobre suas ações e, se forem positivas, mantê-las, e se forem
negativas, mudá-las", explica o consultor de empresas Arnaldo Cruz.
Como tudo na vida, a melhor forma de aprender é praticando. "Faço uma
atividade chamada 'Triângulo do Feedback', em que as pessoas, num primeiro
momento, escrevem três competências que acham pontos fortes na sua
personalidade e três que precisam melhorar. Depois juntamos em trios, para
trocar suas percepções. Aconselho que procurem pessoas que têm um bom
contato, mas que sejam bem diferentes, pois assim o debate fica mais rico",
descreve Arnaldo. A partir daí, elas aprendem a ouvir as críticas durante uma
hora e meia. "A surpresa é tão grande com as descobertas que fica difícil
encerrar a atividade. É o momento mais oportuno para troca de idéias sobre si,
é puro crescimento. Chamo de coaching informal", conclui Arnaldo.
Quem experimenta essa dinâmica, aprova. A gerente geral de RH da Casa e Vídeo,
Ana Cláudia Fernandes, aplica na empresa. "Os trios são de setores
diferentes, mas com atividades em comum. Melhor do que a troca de percepções,
é o compromisso que as pessoas firmam para ajudar os companheiros nos pontos a
melhorar, onde é mais complicado", analisa. Os resultados são tão claros
e objetivos quanto um bom feedback. "A comunicação melhorou
sensivelmente, não temos mais aquelas coisas não ditas. Isso evita equívocos,
aumenta a produtividade e os resultados são mais rápidos e diretos, pois não
há necessidade de refazer o trabalho", explica Ana. Falar com as pessoas,
e não das pessoas, é um lema muito usado por nós. "Com esse sistema
ninguém guarda nada, o processo não empaca e a equipe fica mais inteirada e
unida pelo mesmo objetivo", garante.
De uma forma geral, o ser humano tem uma dificuldade natural para receber
feedbacks porque não gosta de perceber suas limitações, seus pontos a
melhorar, suas fraquezas. Aceitar que essa barreira existe é o início da
caminhada. Receber críticas tem suas vantagens e isso precisa estar claro. Esse
é um detalhe importante a ser levado em conta na hora de fazer uma crítica a
alguém. As pessoas não são iguais e reagem de formas diferentes. Respeitar o
tempo de reflexão e a capacidade das fichas caírem é necessário. "A análise
precisa ser dada de forma amistosa, sem agressão. E quem recebe não deve
entender como um ataque, mas como um incentivo à melhora. Pare, pense, vê se
te serve, aprenda e modifique o que é necessário", aconselha Ana Cláudia.
Os benefícios são grandes, enquanto o preço é mínimo. "O único
'custo' identificável é o tempo necessário. E verifica-se que ele é desprezível,
pois basta um comentário ou gesto positivo para produzir um ambiente melhor e
motivar as pessoas que nos cercam", afirma Paul Dinsmore, consultor
internacional de empresas. Como dar um feedback é complicado, Paul tem uma dica
valiosa. "A proposta é o 'sanduíche de feedback', colocando-se uma crítica
entre dois pontos positivos, garantindo que a pessoa receba a mensagem com
abertura e ainda saia com reforço otimista", ensina.
Se você não recebe críticas, principalmente de pessoas que sejam importantes
para você, não se acanhe e peça. "Eu sempre peço feedbacks, acho
maravilhoso. Odeio estar no lugar sem saber o que acham do meu trabalho. Prefiro
uma conversa franca, direta, a ter que conviver com a insatisfação dos outros,
mau humor e cara feia. Abro esse espaço. É uma ferramenta importante, onde
podemos checar nossa comunicação interna. Como peço durante o processo, o
erro nunca vira um problema e posso consertar rápido o caminho", afirma a
estilista Mariana Maia, que mesmo magoada no início, reconhece ter sorte com as
boas críticas profissionais que recebeu. "Muitas vezes não dá para
separar a vida pessoal da profissional e tem dias em que você está com seus
problemas, aí vem teu chefe e dá um feedback, mas na hora soa como crítica e
fico com raiva, mas passa. Paro, penso e mudo, pois sei reconhecer meus erros e
minhas deficiências", reflete.
Pedir a opinião para seus chefes é uma idéia interessante. Mas ouvir pessoas
que trabalham diretamente com você, como seus subordinados, clientes e
fornecedores, pode trazer um panorama melhor das suas competências. Não se
assuste com a reação das pessoas. Muitas não estão acostumadas, muito menos
preparadas para fazer isso. Tome cuidado com a forma com que vai pedir um
feedback, pois pode ser mal-interpretado. "Quando fui para a Índia mandei
um e-mail para o meu mailling pedindo um feedback em relação a mim. Queria
checar a percepção das pessoas, saber se realmente elas entendiam meu jeito de
ser, de me comunicar, de trabalhar. As respostas foram as mais diversas, engraçadas
e construtivas", lembra a corretora Fátima Guedes, que depois de explicar
para uns que não estava deprimida e tomar um chope com outros, percebeu a
dificuldade das pessoas em ressaltar seus defeitos. "Apenas os meus
melhores amigos é que tiveram coragem de me fazer críticas positivas de coisas
negativas do meu jeito de ser. Valeu, foi uma experiência bem
interessante", recorda.
Desenvolver essa competência de dar e receber feedbacks positivos é modificar
seu modo de vida. Você ficará surpresa com os benefícios para suas relações
interpessoais e, em conseqüência, a facilidade de alcançar objetivos. Mas
como a perfeição só vem com a experiência, pratique!
Clarissa Martins