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   Como Manter A Auto-Estima, Apesar de Tudo

        Adriana Gomes é consultora na área de Recursos Humanos e tem uma experiência profissional de mais de dez anos na área. Uma vez que estar com a auto-estima elevada tem uma ligação direta com a motivação e a produtividade do funcionário e da empresa, conversamos com ela sobre os fatores que fazem com que um profissional se sinta motivado e com a auto-estima em alta:

        C&S – No acirrado mercado de trabalho atual, o profissional precisa ser bom e estar bem para garantir o seu lugar. Sendo assim, quais são as qualidades suficientes para que um profissional se destaque como talento na empresa em que trabalha?
        Num mercado de trabalho atualmente competitivo, sem dúvida alguma, o clima das empresas também fica bastante acirrado. Para se destacar neste ambiente, o profissional deve saber lidar com situações de pressão, saber lidar com pessoas, saber trabalhar bem em equipe, cumprir prazos e se manter atualizado para trazer soluções inovadoras para a empresa. Isso não garante que o profissional se mantenha dentro da organização, mesmo porque muitos cortes de funcionários não estão relacionados com competências. Penso, então, que as características mais desejáveis pelos empregadores em termos de perfil profissional são atualização profissional, competência, comprometimento e envolvimento. Quando as empresas resolvem implantar planos de retenção de talentos, elas visam a profissionais que conseguem tirar o máximo de suas equipes, mantendo-as motivadas. Estes talentos nem sempre são profissionais com MBA e inglês fluente, mas são profissionais que conseguem manter o time motivado, apesar das diversidades. São estes profissionais que efetivamente dão retorno para a empresa.

        C&S – Hoje em dia, fluência em inglês e boas noções de informática deixaram de ser diferenciais e se tornaram pré-requisitos profissionais. Sendo assim, quais seriam os diferenciais?
        O que faz a diferença num perfil profissional atualmente é o nível cultural e a capacidade de agregar soluções. Acho que este é o grande diferencial dos talentos: trazer soluções para os problemas existentes. São pessoas criativas, que conseguem identificar alternativas para possíveis crises. Podemos chamar isso de criatividade? Sim, sem dúvida, e acho que seria um pré-requisito interessante a ser considerado.

        C&S – Como se aperfeiçoar no mundo corrido de hoje?
        É muita pretensão querer estar em dia com tudo, sempre, pois a quantidade de informações que chegam a nós todos os dias é absurda. É importante que o profissional se mantenha atualizado dentro da sua área de atuação, e isso é o mínimo. Como fazer isso em meio à correria? Buscando intervalos, fazendo cursos à noite. É puxado, mas o ato do aprimoramento é uma necessidade que a pessoa deve identificar como prioridade. Em que espaço de tempo ela vai colocar isso em prática não é problema quando se está motivado. A gente sempre arruma tempo fazermos o que gostamos e o que precisa ser feito. Agora, ninguém vai ficar motivado em fazer algo que não gosta, e a motivação não é externa, ou seja, se você gosta da área em que atua, é natural que busque se informar, cada vez mais, sobre este tema. Em compensação, se você trabalha numa área com a qual não tem a menor afinidade, dificilmente vai buscar se atualizar nos seus intervalos diários de trabalho.

        C&S – A competitividade do mercado tende a aumentar com o passar dos anos, segundo a previsão de alguns especialistas em recursos humanos. Pensando nisso, como será o profissional do futuro?
        O profissional do futuro é o profissional empreendedor, aquele que não fica restrita à relação "empregado–empregador". O empreendedor é o profissional que identifica a necessidade e vai se atualizar dentro daquele segmento, se destacando justamente por ser interessado e por ser uma pessoa motivada, que identifica algo que diz respeito aos seus interesses. Neste sentido, acho que o autoconhecimento é um fator determinante para que as pessoas busquem atividades profissionais relacionadas ao seu perfil pessoal. No futuro, não vejo mais as pessoas trabalhando durante 15 anos numa mesma empresa; vejo a prestação de serviços. Dentro das empresas, os funcionários não vão mais ter uma única função, mas sim serão alocados por projeto, aproveitando sempre suas competências.

        C&S – Como o profissional pode estar preparado, então, para o mercado de trabalho?
        Volto à questão da atualização profissional, da capacidade de trabalhar em equipe e do relacionamento. Acho que, no futuro, muitas relações de trabalho vão passar por estas questões, assim como pelo desenvolvimento de networking (rede de relacionamento) e pelo aprimoramento. Você vai ver muita gente voltando para os bancos de escola para se atualizar, se educar, rever conceitos. Tudo ainda é muito novo e as pessoas não estão preparadas para isso, por isso devem ir se preparando à medida que a necessidade vai surgindo. A idéia é que o profissional esteja o mais qualificado possível para quando as oportunidades aparecerem.


        C&S – Alguns especialistas em recursos humanos classificam os profissionais como especialistas (sabem muito sobre uma coisa) e generalistas (sabem pouco sobre muitas coisas). Como o mercado de trabalho vê estas duas figuras?
        O mercado quer hoje o profissional empreendedor, que é uma mistura das duas coisas: tem especialização em alguma área e tem uma visão generalista das coisas. O mercado vai continuar captando profissionais altamente especializados, como os que atuam na indústria química, por exemplo. Já o generalista vai passar a ter uma visão mais de gerenciador, sem colocar muito "a mão na massa", mas conhecendo um pouco de tudo. O empreendedor é um profissional altamente motivado, e isso não depende de remuneração, mas de realização.

        C&S – Como o profissional pode se manter animado e com a auto-estima alta?
        Se ele está trabalhando, acho que este já é um motivo para que se sinta motivado, apesar de que toda a situação externa do próprio país já deixa qualquer um com os nervos à flor da pele, num estado de tensão. Agora, a motivação no dia-a-dia está muito relacionada ao autoconhecimento, pois se você sabe do que gosta, sabe qual é a sua missão e os seus objetivos, é possível traçar um plano de vida sabendo onde se quer chegar; esta é a maior motivação que faz com que a pessoa acorde todos os dias e não tenha a sensação de estar indo a um trabalho do qual não gosta, mas sabendo que está trabalhando para um dia chegar lá. Então, as adversidades do dia-a-dia acabam ficando pequenas quando se tem uma missão. A partir do momento que você não consegue ter esta visão do por quê está indo para o trabalho, as coisas perdem o sentido e o dia-a-dia fica cansativo, o que pode causar até depressão.

        C&S – Por isso é importante manter a alta auto-estima?
        É claro que é impossível estar com a auto-estima elevada todos os dias, pois existem aqueles dias em que acordamos em baixa, mesmo tendo uma missão super clara em mente. Mas se isso passa a ocorrer sempre, vale a pena parar para pensar: o que não significa parar de trabalhar ou de pensar na vida, mas parar para fazer algo de que gosta, nem que seja ir ao cinema ou rever os amigos. O importante é fazer isso de vez em quando, pois às vezes a vida fica puxada mesmo. E se no meio desta loucura toda você ainda for pensar nas coisas ruins, a situação fica ainda mais difícil.

        C&S – Como a pessoa pode perceber que a auto-estima está baixa?
        É difícil a própria pessoa perceber que está com a auto-estima baixa, mas existem alguns sintomas que podem ser indicativos como excesso de sono, desânimo, baixa produtividade e sentimento de desvalorização.

        C&S – E como percebemos que a auto-estima está elevada?
        É exatamente ao contrário: a pessoa se sente super ativa, alegre, disposta, disponível, com vontade de fazer as coisas, com idéias novas e produtiva. E é possível perceber muito bem isso na postura da pessoa, quando ela está entregue e com bastante energia.

        C&S – O excesso de auto-estima também pode ser prejudicial?
        Todas as características humanas têm um lado positivo e um lado negativo. Pensando isso, a pessoa que está com a sua auto-estima muito elevada pode acabar se tornando arrogante, prepotente, negativa, que só reconhece seus próprios valores. Para perceber se você está assim, tente reparar se as pessoas estão se afastando de você por se considerar o melhor em tudo.

        C&S – Como chegar, então, ao equilíbrio?
        Esta é a fórmula que todo mundo procura. Não existe receita, mas é importante, de novo, que a pessoa se conheça, saiba quais são seus pontos fortes a serem aproveitados e seus pontos fracos a serem desenvolvidos. Vale ressaltar que estamos falando de uma busca constante pelo equilíbrio, pois ele não é permanente, uma vez que a nossa personalidade é dinâmica, tem seus altos e baixos, e é justamente isso que faz a vida ser legal.

        C&S – Atualmente, muitas empresas estão se preocupando cada vez mais com a possibilidade de seus funcionários trabalharem num bom clima de relacionamento. Isso pode ajudar os funcionários a se manterem motivados?
        A partir do momento em que a empresa percebe que o clima organizacional é importante para um bom desempenho dos funcionários, já é um grande avanço. O problema é que muitas empresas chegam até a desenvolver pesquisas de cultura e clima, mas depois não sabem o que fazer com os resultados, o que acaba se tornando um grande problema para o departamento de RH da empresa. Mas, a partir do momento em que ela utiliza ferramentas eficientes para medir o clima dentro da empresa e fazer disso realmente alguma coisa para mudar o que não está bem, a pesquisa é saudável e traz resultados. Aliás, quando a empresa tem um clima organizacional agradável, o profissional nem tem vontade de mudar de emprego. Por outro lado, muitas vezes o que faz um profissional ir embora e mudar de empresa é justamente o clima da organização.

Ana Paula Ruiz

Ana Paula Ruiz é a jornalista responsável pelo jornal Carreira & Sucesso.






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