Os
Profissionais da saúde estão especialmente sujeitos à experiências de perdas
em seu ambiente profissional, decorrente da própria escolha profissional. São
eles que acompanham mais de perto os pacientes com doenças graves, orientam os
familiares e, com frequência, intensificam esse contato quando ocorre a
hospitalização pelo agravamento da doença.
Esses profissionais têm, em geral, uma formação profissional que privilegia o
conhecimento técnico, mas são pouquíssimos os cursos que preparam os
graduandos para o contato com o processo de morte de uma pessoa.
Os
profissionais das diversas áreas de saúde ficam expostos a um tipo de desgaste
intenso e, assim, podem apresentar dificuldades especiais ao enfrentarem a
imprevisibilidade da vida, a fragilidade humana e a terminalidade do paciente.
Além disso, não costumam comparecer aos funerais, têm dificuldade de
encontrar suporte, uma vez que seu luto não é reconhecido e, mesmo sentindo-se
sobrecarregados, existe sempre o próximo paciente, com a "isenção"
profissional de sempre.
É
dessa forma que a negação, já tão arraigada em nossa sociedade, se mantém
presente para os profissionais de saúde. Quando vemos membros da equipe de saúde
evitando o paciente grave, evitando falar sobre a morte de seus pacientes ou de
seus sentimentos sobre isso, podemos supor que existam dificuldades pessoais no
convívio com as perdas ou em sua elaboração.
Essas
dificuldades não se restringem ao contato profissional-paciente, mas também
atinge a relação com familiares do paciente e com a própria equipe de
trabalho ou a própria família.
Nessa
situação, as dificuldades podem ser confundidas com questões organizacionais,
políticas ou relacionais e continuarem mascaradas por longo tempo, prejudicando
o desempenho profissional e a vida pessoal, mas principalmente dificultando a
atividade profissional junto a pessoas que podem estar vivendo seus últimos
momentos de convivência ( considerando aqui o paciente e seus familiares)
Vamos lembrar aqui que
"perda" na esfera hospitalar, não inclui somente a morte de um
paciente, mas também desligamentos de colegas, mudanças do staff, cortes em
programas, ampliações, mudanças físicas e outras rupturas que podem
acontecer tanto na esfera profissional, como pessoal.
Algumas condições ajudam a minimizar o desgaste, prevenindo maiores
dificuldades. Individualmente, é necessário estar atento aos pequenos sinais,
às pequenas perdas; através delas é que nós nos preparamos para as grandes.
Conhecer seu padrão individual de elaboração das perdas, permite a cada um
reconhecer e respeitar seu momento de luto e tristeza. Manter os cuidados
pessoais preservados, como exercícios, alimentação e sono adequados,
desenvolver interesses alternativos variados como hobbie, lazer, diversão. E, o
que é muito importante, pedir ajuda sempre que sentir necessidade, sem
envergonhar-se e sem sentir-se fraco ou fracassado por isso.
No nível
institucional, também pode-se criar mecanismos preventivos: dispor de tempo
para as equipes discutirem as dificuldades, manifestarem seus sentimentos,
inclusive raiva, num ambiente acolhedor, que ofereça apoio; incluir programas,
informações e orientações sobre luto regularmente entre as atividades do
staff e da organização, lembrando e incluindo os funcionários
hierarquicamente superiores (diretoria) e inferiores (limpeza, copeiros,
administração, etc). Permitir variação nas atividades, horário flexível ou
criar benefícios, como abono de falta por luto ou pela saúde mental do
trabalhador de modo a oferecer meios de alívio de stress.
E, coerentemente com a sugestão de obter cuidado individual, a postura
correspondente da organização é a de disponibilizar programas externos de
apoio aos trabalhadores, quando necessário, como um recurso a mais de assistência
e cuidado.
Cecília Casali Oliveira