Vamos
dizer que existisse uma máquina de sonhos onde você pudesse entrar e
realizar todos seus desejos. Para utilizá-la, você teria que abrir mão da
realidade. Ou seja, teria que escolher: viver num mundo quase perfeito, porém
irreal (seu mundo dos sonhos) ou na realidade, com todos os prós e contras
que já conhecemos. Qual seria sua decisão? Sonho ou realidade?
Um
dos motivos pelos quais muitas pessoas não saem da rotina, por mais
humilhante ou repetitiva que ela seja, é porque todos nascemos com essa máquina
de sonhos. É nosso cérebro, onde qualquer um pode buscar refúgio. Por mais
medíocre que seja, na sua cabeça qualquer pessoa pode ser um astro, receber
o prêmio Nobel, vencer uma Olimpíada, ser rei ou rainha. Você pode até
escolher com quem transar!
Assim,
temos inúmeros casos ao nosso redor de pessoas que, ao invés de tentar
melhorar a realidade, preferem recolher-se ao seu mundo fictício e irreal,
onde são senhores de tudo, onde tudo (e todos) são sempre agradáveis.
A
liberdade de escolher nossos sonhos é tanta que alguns até escolhem pensar
coisas negativas. Algumas pessoas masoquistas chegam a extremos doentios de
ficar repetindo ‘filmes’ negativos na sua cabeça – coisas que já
aconteceram há muito tempo, ou mesmo coisas que nem aconteceram de verdade;
situações criadas pela sua imaginação para dar vazão à frustração.
Fazem isso, claro, porque são masoquistas, ou porque não entendem a
armadilha em que caíram: um círculo vicioso de negativismo que precisa ser
quebrado se a pessoa quiser mudar de vida. Afinal, loucura é fazer sempre a
mesma coisa e esperar resultados diferentes. Tem gente que não faz nada e
espera resultados diferentes!
Essa
acomodação explica porque tantos profissionais, quando questionados,
respondem que não tem tempo para estudar ou aprimorar-se. Ou porque tantas
pessoas obesas dizem que não comem e engordam magicamente. Ou relacionamentos
que acabam porque a pessoa pensou em dizer que amava, cria todo um cenário
romântico na sua cabeça, mas na realidade não fala nada, por um motivo ou
outro. Para muitas pessoas o simples pensamento é suficiente, mesmo que
depois a realidade negue completamente o que falsamente imaginaram.
Thoreau
disse certa vez que muitas pessoas passam a vida inteira pescando, sem saber
que não é peixe o que estão buscando. Pessoas que preferem o mundo dos
sonhos do que a realidade negam a si próprias, e a todos ao seu redor, uma
vida plena, positiva, saudável. Ao usar exageradamente sua máquina de
sonhos, criam uma realidade paralela que anestesia as dores da realidade, mas
também impede que mudem e cresçam. Afinal, a frustração é uma força
tremenda. Temos que saber usá-la sabiamente para mudar o mundo para melhor, não
como desculpa ou uma falsa válvula de escape.
Devemos
considerar, também, que somos seres imperfeitos, e que colocamos sobre nós
mesmos uma pressão injusta. Desumana, poderíamos dizer. Aceitar e conviver
com nossas imperfeições e mesmo assim avançar e desenvolver as habilidades
que temos é o que pode nos diferenciar e elevar nosso padrão de vida –
social, financeiro, psicológico e espiritual. Temos que nos concentrar no que
temos disponível, não nas limitações. Somente sonhar com a pessoa que você
gostaria de ser é desperdiçar a pessoa que você é.
Por
exemplo, esperar felicidade eterna, absoluta, já é um pensamento que
certamente cria um grande obstáculo à própria felicidade. Expectativas
irreais são muito frustrantes – devemos buscar a excelência e a melhoria
contínua, não a perfeição. A excelência é você contra você mesmo – o
seu melhor. A perfeição é você contra os outros – o melhor dos melhores.
Quem busca a perfeição acaba invariavelmente frustrado: quantas vezes você
conseguirá ser perfeito em tudo? É muito mais humano (e saudável) buscar o
equilíbrio através do aprimoramento constante: você buscando melhorar
sempre, procurando atingir seu nível máximo.
A
busca doentia da perfeição, somente alcançada em sonhos, é também uma das
forças mais paralisantes que existe. Quantas pessoas, mesmo podendo fazer um
pouco, não fazem nada por achar que não seria o suficiente? Quantas pessoas
desistem antes mesmo de tentar, com medo do fracasso, do ridículo, da humilhação?
Quantas pessoas acham que o mundo poderia ser melhor, mas não fazem nada
porque sentem-se pequenas demais?
Não
adianta só ficar sonhando que as coisas vão melhorar. Um pequeno passo dado
no caminho certo vai aproximá-lo muito mais dos seus objetivos do que só
ficar sonhando.
Então acorde e mexa-se.
Boa
semana
Raúl
Candeloro