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   A Morte e a Cultura Tradicional da China

        A cultura chinesa é fortemente influenciada pelo confucionismo, pelo taoísmo e pelo budismo. Nas expressões de luto  e nos ritos de morte, encontramos mais comumente traços do confucionismo, que possui registrados todos os seus rituais em um de seus  cinco livros clássicos, no Li Chi (Livro dos Ritos).  

        Os funerais chineses alcançam o status da comunidade e são compostos de ritos simbolicamente muito bem construídos.  

        O conceito de imortalidade da alma na cultura chinesa determina muitos dos rituais fúnebres encontrados, que visam, acima de tudo, o bem-estar da alma do morto e de seus descendentes que continuam vivos. Durante um velório, as pessoas costumam queimar dinheiro, casas de papel e bens materiais para assegurarem que a riqueza da alma; comidas como arroz, galinhas, vinhos, frutas e pães são ofertados ao morto a fim de evitar-lhe a fome; carpideiras são contratadas para ratificar e demonstrar a tristeza da família; e cantores taoístas são contratados para, através de cânticos, embalar a alma para o paraíso e evitar que esta se encaminhe ao inferno.  

        Geralmente um geomante tradicional é contratado para determinar a localização e a arquitetura do túmulo, pois os chineses acreditam que é a localização da sepultura que determinará o destino e o bem-estar dos descendentes do morto. 

        As pessoas, principalmente as mulheres, são encorajadas a expressar toda a sua tristeza e pesar durante a cerimônia, mas tal demonstração ou evocação do assunto é terminantemente proibido depois do término do período de luto. O período de luto chinês tem a duração de 49 dias (durava 7 na antiga China) e, neste espaço de tempo, são proibidos casamentos, aniversários ou quaisquer comemorações. Os membros da família devem vestir panos, listras ou faixas pretas nos braços para demonstrar tristeza e uma cerimônia é elaborada sete dias depois do funeral, e esta deve ser repetida consecutivamente de sete em sete dias por sete vezes.

        Já que crêem na imortalidade da alma os chineses acreditam na comunicação com os mortos e praticam com freqüência tal comunicação. No entanto, muitos dos rituais que descrevemos estão impossibilitados de serem realizados, pois o movimento Comunista se instaurou na China e sentenciou que todos os corpos deviam ser cremados. As famílias de posse que ainda conseguem enterrar seus mortos, têm que retirar seus restos no período de sete a dez anos. É realmente decepcionante que uma elaboração cultural e psicológica dessa dimensão (ritos fúnebres chineses) estejam desaparecendo face a imposições políticas e ideológicas. O ideal seria que a cultura fosse vista, neste caso, de modo relativizado e tolerante. Terminemos com uma tradicional anedota chinesa: 

        ''Conta-se uma história a respeito de um servo chinês que queria folga para ir ao funeral de seu primo. Seu relutante patrão perguntou quanto tempo ele achava que levaria para seu primo comer a tigela de arroz que ele pretendia deixar ao lado do túmulo. Sua resposta: mais ou menos o tempo que sua tia que morreu na semana passada vai levar para sentir o aroma das flores que você colocou no túmulo dela.''

Sarah Carneiro
sarahvcbr@yahoo.com.br

 

Bibliografia citada:

Becker, Ernest. A Negação da Morte. Tradução de Luiz Cláudio do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Record, 1995.

Walsh & McGoldrick, F., M. Morte na Família: Sobrevivendo às Perdas. Tradução de Cláudia Ornelles. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. 

 






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