Usuário:

Senha:


Esqueci a Senha!    
Cadastrar-se    



 

   A Morte e a Cultura

        Se somos capazes de compreender a importância da história na formação da concepção de morte numa sociedade, não teremos dúvidas em assinalar que é a através da Cultura que a ''Representação Social da Morte'' se constituirá. Os símbolos e as significações de cada Cultura guiarão os sentimentos individuais por um caminho próprio e autêntico.

        Nas próximas semanas estaremos apresentando, '' A Morte e a Cultura'' de algumas regiões. Esse trabalho é uma contribuição de Sarah Carneiro, Tanatologa, fundadora e coordenadora do PLUS (Projeto Integrado de Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação) vinculado à Universidade Federal do Ceará.

A Morte e a Cultura de Bali

        Comecemos, portanto, com o exemplo de Bali onde os Ritos Fúnebres são as cerimônias de maior importância na cultura balinense.


Altar religioso

        Os habitantes da ilha indonésia de Bali costumam, tradicionalmente, atribuir uma origem mística à ilha de Bali. O mito diz que nos primórdios tudo era o mar e o vazio. Então, eis que surgiu uma tartaruga gigante, a qual trazia Bali em cima de seu imenso casco. No céu flamejante de Bali se encontrava o paraíso ancestral e, acima de tudo, o domínio dos Deuses. No entanto, as profundezas do mar eram habitadas por demônios do além e por seres humanos infelizes.


Dança tradicional de Bali

        Os habitantes da ilha indonésia de Bali costumam, tradicionalmente, atribuir uma origem mística à ilha de Bali. O mito diz que nos primórdios tudo era o mar e o vazio. Então, eis que surgiu uma tartaruga gigante, a qual trazia Bali em cima de seu imenso casco. No céu flamejante de Bali se encontrava o paraíso ancestral e, acima de tudo, o domínio dos Deuses. No entanto, as profundezas do mar eram habitadas por demônios do além e por seres humanos infelizes.


Artesanato local


        A sociedade balinesa está dividida em castas, e a mais influente é a casta sacerdotal. A dança e as artes em geral estão presentes no cotidiano de todas as famílias. Vale ressaltar que a arte balinesa não é encarada como expressão individual, e sim como forma de expressão religiosa coletiva; desse modo, as obras não possuem autores e pertencem a todos da comunidade. Apesar das invasões japonesas, holandesas e, mais recentemente, dos turistas, Bali segue preservando de maneira espantosa seu patrimônio cultural.

        A vida dos habitantes de Bali está desde o início impregnada por rituais religiosos de todas as naturezas, dentre eles destacaremos alguns rituais de passagem, que são os de nascimento, os de adolescência, e os de morte.

        A crença balinesa é a de que os bebês vêm dos céus, e que portanto, devem ser respeitados como divindades. Somente no centésimo quinto dia de vida é que os bebês participam da cerimônia que lhes confere um nome e a condição de humanos. Nesta cerimônia, eles recebem inúmeros presentes que simbolizam riqueza material e tocam os pequenos pés no chão pela primeira vez.

        Na entrada da vida adulta, os jovens participam de um ritual no qual eles têm as pontas de seus dentes cerradas, para evitar a presença de características animalescas como a raiva, a ganância e o ciúme, em suas vidas. Os balineses acreditam que o indivíduo que não teve seus dentes cerrados não poderá encontrar-se com seus ancestrais ao falecer. Os instrumentos utilizados na cerimônia são previamente abençoados pelo sacerdote, para que a operação seja indolor.

        No entanto, apesar da importância dada a todos os ritos descritos anteriormente, são os Ritos Fúnebres as cerimônias de mais relevo na cultura balinense. Para os habitantes da ilha de Bali o grande objetivo da vida é a realização de uma “boa” cremação dos integrantes da família.

Carros que os balineses utilizam para levar os ossos dos falecidos para a cerimônia de cremação.

Usualmente eles costumam dar muitas voltas nestes carros para ''confundir o espírito do morto'' e impedir que ele volte para atormentar os vivos

        Antes da cerimônia de cremação propriamente dita, o defunto deve ser deixado na floresta durante 25 anos, para que ele possa expiar todos os seus defeitos e más ações. Após esse período, a comunidade organiza grandes ritos de cremação em massa. O Rito tem início com o recolhimento dos ossos e com a organização deles em um sarcófago (que é determinado de acordo com a casta a qual o indivíduo pertencia). Durante a cerimônia de cremação são feitas oferendas pela comunidade e algumas danças típicas são encenadas pelos dançarinos. Então, todos os homens se unem e dão várias voltas no sarcófago para confundir o espírito e assegurar que ele não retornará para sua casa. Só aí é que o corpo começa a ser queimado.

        Com a destruição do corpo, a alma do falecido é finalmente liberada para o convívio de seus ancestrais; o que representa um momento de grande felicidade para a comunidade. As cinzas são, então, atiradas ao mar. O mar é elemento de grande simbologia para o povo de Bali, uma vez que é dele que a ilha surge (conforme inicialmente citado no mito). O mar compreende também a noção de movimento e efemeridade contida na crença de vidas posteriores do Hagma Hindu.

        De um modo geral, os habitantes de Bali possuem um sofisticado Ritual para o fenômeno da finitude. Seus sentimentos quanto ao falecimento ocorrido são fortemente encorajados a serem expressos, o que dá aos funerais balineses seu caráter autêntico.

Sarah Carneiro
sarahvcbr@yahoo.com.br






Envie este artigo para um amigo Imprimir este artigo Comentários




Voltar para a p�gina anterior