Aposto que você tem achado meio complicado acompanhar seus
extratos de banco. Não por falta de entendimento, eu sei, mas
de paciência. Há não muito tempo atrás, cheques emitidos
apareciam na coluna débitos e depósitos de clientes na coluna
créditos. Hoje em dia, somas variadas deixam e retornam à
conta todos os dias. Algumas só saem: aplicações, taxas do
banco, renovação do seguro, CPMF e por aí vai.
Esse tipo de extrato é muito semelhante à uma movimentação
dentro da cabeça. Emoções funcionam com créditos e débitos.
Mas por um capricho bancário, as colunas ficaram em
hemisférios separados - créditos à esquerda, débitos à
direita.
Você está no trabalho e ouve um comentário maldoso a seu
respeito. Não vai dar para comentar nada pois nem era para ter
ouvido. Tudo bem, deixa pra lá. Mas não é isso que vai
acontecer. O coração vai ficar mais apertado e a coluna de
débitos vai ganhar uma entrada. E o valor não é dos pequenos.
Agora, reconhecer a importância de si próprio na estrutura da
empresa funciona como depósito. Uma tacada certa na reunião
estratégica, a boa impressão para a diretora de marketing e
uma sensibilidade para detectar idéias flutuando no escritório
só fazem aumentar o saldo emocional. Garantia de poder gastar
no futuro.
O problema é que o cérebro não trata créditos e débitos no
mesmo hemisfério, nem com o mesmo peso. Débitos são desastres,
que põem em risco a sobrevivência; créditos, depois de pequena
euforia, são tratados como ''não foi mais do que obrigação''.
Todos temos algo de diferente, algo especial. Afinal, a
seqüência de bases no DNA é única e nossas capacidades são
desenhadas ali. No entanto, nos comportamos como os
tesoureiros - que ignoram o valor das receitas e se ocupam
principalmente em detectar a origem e o motivo dos gastos.
Temos a tendência de ignorar nossos ganhos emocionais e
privilegiar as despesas.
O problema vem de uma pequena amêndoa nas profundezas do
cérebro. A regente dos desagrados. Abastecida de milhares de
neurônios, ela adora colecionar inimigos, azeitar discussões e
provocar monólogos na cabeça.
Não é fácil desativá-la. Há instruções subconscientes
específicas que a tornam hiper-vigilante. Por isso, a melhor
coisa a fazer é concentrar-se na coluna de créditos. Vibrar
com o saldo. Qualquer saldo. Saldo mínimo. O sucesso
profissional de qualquer um vem do saldo de eventos
emocionais.
Evite colecionar reações não-expressadas - a CPMF emocional.
Aos poucos, o governo da amêndoa vai se locupletando e na
primeira oportunidade vai virar o tabuleiro. Sua ocupação é
abrir e fechar as gavetas do arquivo das mágoas. Gerenciar o
brejo de sapos engolidos.
Liberte-os. Capitalize o saldo emocional a cada hora do seu
dia. Vibre com as pequenas coisas. Se o sol entra pela janela,recolha seus raios como se tivessem sido enviados para
iluminá-lo. Se não há sol, recolha o ar fresco. Ou a folhagem
no canto.
Afinal, você não vai deixar para os outros a tarefa de
gerenciar seu extrato, vai?
Martin Portner
médico neurologista +
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