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   Hanal Pixan, a Comida das Almas

        Da mesma maneira como a morte é explicada e aceita de diferentes maneiras pelas várias culturas, assim também o culto aos mortos é completamente diverso, de acordo com as tradições e os costumes das diferentes sociedades.

        Assim, numa sociedade com origens tão heterogêneas como a nossa, vamos encontrar cristãos que cultuam seus mortos orando por eles e homenageando-os com suntuosos túmulos e mausoléus, enquanto outros não dão valor nenhum às demonstrações materiais como atestam seus cemitérios onde predominam imensos gramados, salpicados apenas de singelas cruzes que demonstram a igualdade que eles pregam.

        Já os espíritas dão a maior ênfase ao mundo em que os mortos vivem, enquanto que outras religiões cultuam de maneira fervorosa o espírito dos antepassados, não só em um ou dois dias do ano, mas todos os dias e até em horários pré estabelecidos.

        Os remanescentes dos Maias, são os povos que demonstram de maneira mais expressiva e original o culto aos mortos conservando, apesar da invasão espanhola, todo o sincretismo dos rituais pré-ispânicos.

        Em Cancun, por exemplo, onde a cultura Maia resiste, inclusive à invasão dos modismos americanos, a festa dos mortos no dia 1º de novembro é uma cerimônia sagrada sendo preparada com semanas de antecedência quando se enfeitam ruas e lojas, como acontece no Natal, só que as cores usadas são o preto, amarelo e vermelho e as figuras são de flores, cruzes, caveiras e outros símbolos que lembram a data.

        Nas casas e mesmo nas lojas os vivos fazem oferendas aos mortos com flores, comidas bebidas, com objetivo de manter o equilíbrio do cosmos íntegro, pois, segundo a tradição, é disso que depende a grandeza da vida e seu sentido sagrado. O altar, instalado no lugar mais especial da casa, de preferência na entrada, é constituído de três níveis: no 1º colocam-se roupas; no 2º alimentos, frutas e brinquedos (para as almas das crianças); e no nível superior, coloca-se uma cruz feita de madeira.

        Para as almas sós ( sem parentes), coloca-se vasilhas com comida, uma bebida na entrada e no portão da casa.

        O caminho da entrada é iluminado com velas coloridas para que as almas encontrem as oferendas. Os parentes cantam e rezam fervorosamente, pela manhã, a tarde e à noite  e a atmosfera fica saturada de perfumes onde prevalece o incenso .

        Um banquete inigualável une deuses, homens e almas durante toda a noite onde são preparadas comidas especiais, chamadas Hanal Pixan (comida das almas) . Nesses banquetes das almas, preparam-se, de maneira elaborada, frangos, veados, e outras carnes acompanhadas por milho, molho de pimenta, muita laranja e outras frutas. As comidas são acompanhadas de um delicado licor de anis, chamado Xtabentún e também de iguarias regionais, como côco, abóbora, batata doce, mamão, todos frescos ou cristalizados.

        As flores, amarelas, vermelhas ou roxas arrematam como oferendas universais, saciando a vista e o olfato no altar do cosmos, nos quais se colocam também fotos de pessoas queridas ou mesmo de pessoas célebres que merecem a nossa oração.

        Oferecendo parte de si mesmo, aos deuses e aos seres que já passaram a uma vida paralela, os Maias nos revelam sua profunda união com a terra e o seu sentido mágico da vida.

 

 Iris Mezzena








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