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   Não Vai Dar Certo!

        Éramos todos animados. Combinávamos todos os detalhes da operação. Nada poderia dar errado. Já antevíamos o sucesso e antecipadamente comemorávamos. Até que ele apareceu.

        Com seu olhar taciturno, com sua voz rouca e cavernosa, as mãos no bolso, como de costume, passos miúdos e silentes, ele chegou, ouviu os relatos com seus ouvidos incrédulos, tirou as mãos do bolso, tomou os planos, leu-os com displicente superioridade e vaticinou:

        Não vai dar certo!

        Foi um balde d’ água fria em nossos ânimos confiantes. Perguntamos a ele qual a razão de tanto pessimismo e ele vaticinou novamente como Júpiter: vai chover.

        Ficamos loucos da vida. Perguntamos como ele poderia saber com tanta antecedência as condições meteorológicas do local do evento. E ele, debaixo do seu astral agourento, pontificou:

        Quando as coisas são programadas para serem feitas ao ar livre, sempre chove na hora...

        Atônitos, decidimos nos precaver contra as intempéries. Telefonamos para uma empresa de aluguel de coberturas plastificadas e tivemos a garantia de colocação, no local, de uma boa cobertura alaranjada que até daria um aspecto mais refinado ao evento.

        O nosso amigo que havia deixado a sala para ir ao banheiro, pois que havia sido acomedido de uma pequena intoxicação alimentar por conta de um quarto de leitoa com que um subalterno o havia agraciado, voltou. Contamos a ele sobre a cobertura. Pronto! Estava tudo resolvido. São Pedro não poderia mais nos fazer fracassar.

        E quando esperávamos dele um sorriso, uma aprovação, um gesto de mínimo otimismo, eis que ele nos pergunta: “Qual a firma que fará a cobertura?”. Ao respondermos, ele emendou: “...Se ventar, cai tudo no meio do evento. Eu não faria com essa firma...”. Argumentamos, sôfregos, que era a única empresa na cidade com capacitação para essa tarefa. Um dos membros do grupo afirmou ter participado de um casamento onde uma cobertura similar, pela mesma empresa, teve ótimo desempenho. E o nosso amigo, virando as costas para o grupo, deu um olhar de semi-riso e disse: “Depois não digam que eu não avisei”. E saiu.

         O grupo, já contaminado pela dúvida, pela incerteza, teve um momento de profundo silêncio. Afinal, ele poderia ter razão.

        E se a cobertura caísse em meio às festividades? Seria um vexame! Um membro do grupo, mais pragmático, tomou o telefone e ligou par o Serviço Nacional de Meteorologia, inquirindo sobre o tempo. Recebeu como resposta uma sonora gargalhada do funcionário que explicou, pacientemente, que não há ( pelo menos ainda) como se prever o tempo com  90 dias de antecedência... A obviedade da resposta caiu como iceberg no grupo que já começou a imaginar até ferimentos graves e mortes de indefesos infantes em meio a uma violenta tempestade de vento na hora exata do evento. O clima era de completo desalento entre os partícipes do ex animado grupo.

        O pessimismo, o mau agouro, a incerteza, a negatividade venceram. A festa foi cancelada. O amigo saiu vitorioso com o seu nihilismo, sua subversão do fazer.

       O que me impressiona é o número de pessoas negadoras, que só conseguem ver o beco sem saída do fracasso, da perseguição, da desconfiança, que só conseguem vislumbrar as nuvens negras das tempestades destruidoras no horizonte.

        E o mais interessante é que, condicionados por essa carga extremamente negativa, esses infelizes são verdadeiros ímãs que atraem para si toda sorte de desgraças e infortúnios. Só falam em doenças, só pensam nas falências e recessões da economia, e não caminham contra a luz, pois desconfiam da própria sombra.

        Pessoas assim infundem o medo, a insegurança, o temor pelo fazer. Elas trazem a tristeza, espantam o bom humor, murcham as esperanças e quebram a boa fé.

        O pior, no entanto, é que elas se autodenominam “realistas”. E o ainda pior é que têm razão, pois a sua “realidade” é realmente sinistra e turbulenta. Nos seus eventos, realmente chove. Nas suas festas, a comida intoxica os convidados.

        Perdem uma safra com excesso de chuva e a seguinte pela seca das caatingas. A vida para essas pessoas é um peso insuportável e por isso cometem o maior dos pecados, que é o crônico mau humor. Espalham a cizânia, semeiam a dissensão e se recolhem à noite, amedrontadas com o dia seguinte que, com certeza, trará ainda mais desgraça.

 

Socorro! Tenho Medo De Vencer

Luiz A. Marins Filho

 

 






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