Esse momento é extremamente delicado, é preciso
cuidar muito com o que se fala. A psicóloga Otília Balbina do Rosário
recomenda que sempre seja contada a verdade, sem o uso de metáforas. “A
maneira mais correta de dar a notícia é dizer a verdade dentro dos conceitos
da concepção religiosa da família. O que não é falado gera fantasia”,
ressalta. De acordo com a psicóloga, deixar o assunto para depois é um grande
erro e esconder a morte da criança não significa protegê-la, muito pelo contrário.
Ela deve estar preparada para saber enfrentar momentos não só de morte física,
mas psíquica. “A cada dia nós morremos um pouco quando diz respeito a
sonhos, desejos e sentimentos”, diz Otília.
Dizer que a pessoa foi para o céu, ou foi
levada para o céu, é uma das respostas mais comuns dos pais ou parentes. A
resposta só é válida se estiver de acordo com a crença religiosa da família,
caso contrário pode gerar uma discrepância entre o que é dito à criança e
aquilo em que os pais acreditam. A menos que isso seja falado de outra maneira,
a criança pensará naturalmente que o céu não é diferente de outros lugares
distantes e que a volta é apenas uma questão de tempo.
Outra explicação comum, utilizada
especialmente com relação à morte de uma pessoa idosa, é dizer que ele ou
ela foi dormir. Crianças, principalmente as mais novas, têm pouco conhecimento
de figuras de linguagem, o que faz com que adormecer, para elas, passe a ser uma
atividade perigosa.
“O ideal, segundo a psicóloga, é
tratar o fato como se fosse uma questão da natureza dos seres vivos, uma boa
alternativa seria comparar com plantas e animais e citar exemplos de filmes que
abordam o tema, como Bambi e O Rei Leão”.
Entre os sete e 11 anos, as crianças são
muito observadoras e sabem que todo ser vivo tem um começo, meio e fim e que
elas e seus familiares não são uma exceção. Mas a morte, ao mesmo tempo que
existe, é algo remoto. Somente aos nove ou 10 anos, quando seus pensamentos se
tornam mais objetivos e concretos, passa a entendê-la como inevitável. “A
maneira como as crianças reagem vai depender de como foi a educação e convívio
com tema e dos conceitos religiosos da família. Se o tema nunca é tratado
dentro de casa, fica mais difícil de fazer a criança entender”, complementa.
Se os pais disserem a uma criança de
menos de dois anos que o besouro morto, ou o pássaro morto não voltarão a
viver, e que mais cedo ou mais tarde a morte acontece a todas as criaturas
vivas, ela pode não acreditar a princípio, mas provavelmente aceitará a
palavra dos pais. Se lhe disserem também que, quando um animal ou uma pessoa
muito conhecida morre, é natural sentir tristeza e desejar que ela pudesse
viver novamente, isso não causará surpresa à criança, pois está de acordo
com sua experiência e mostra que seus sofrimentos são compreendidos.
Quando adotam essas práticas, os pais
preparam de certo modo o caminho para ajudar uma criança a sentir pesar pela
morte de um parente próximo, até mesmo de um dos pais. Só quando os pais
acreditam sinceramente em idéias religiosas ou filosóficas sobre a morte, e
sobre uma vida após a morte é que se deve transmiti-las, com a ajuda sincera
dos pais os filhos serão capazes de entendê-las e de participar do luto da família.
Em outras circunstâncias, a complexidade dessas idéias e a dificuldade de
distinção entre a morte física e a espiritual deixam a criança intrigada e
confusa, podendo criar falta de entendimento entre ela e os pais.
Reações
“Se a morte for escondida ou mal
contada, pode gerar um adulto que não consiga encarar a realidade de frente ou
até com problemas psicológicos mais sérios”, previne Otília. Há certas
reações que são normais como a insensibilidade diante do fato (um
distanciamento afetivo), raiva em relação à pessoa que faleceu e às que a
rodeiam, querer dar algo em troca para que a pessoa volte a viver e sentir-se
deprimida, achando que não era importante para a pessoa que morreu. “Se a
criança apresentar um comportamento muito fora do normal, é preciso procurar
um psicólogo para uma orientação específica”, alerta.
É importante que as crianças participem
das cerimônias fúnebres, que permitem que elas se despeçam formalmente de
alguém que gostem muito. No funeral a criança se dá conta que não é a única
a chorar e que outras pessoas também estão sofrendo. “A criança deve
participar de todo o ritual e tudo que acontece deve ser explicado, para não se
gerar tabus. Deve-se também falar bastante sobre o assunto e perguntá-la o que
está sentindo”, recomenda a psicóloga Otília Balbina do Rosário. Se a
criança relutar em ir, não é correto obriga-la, basta propor que mais adiante
visitem o cemitério ou que a acompanhe à igreja para rezar pela pessoa que
faleceu.
Patrícia
Kunzel – TudoParaná
Fontes
consultadas:
“A criança dos 5 aos 10 anos” de Arnold Gesell; Ed Martins Fontes;
“Perda : tristeza e depressão”, volume 3 da trilogia Apego e Perda; Ed.
Martins Fontes