O Hinduísmo é a religião
predominante na população da Índia, chegando quase a 90%.
Da tradição védica, o hinduísmo
conservou, além de outras divindades, Yama e Mâra. Yama é o rei dos mortos,
senhor de um reino que hora se mostra feliz, ora terrível, ao qual se chega
através de um deserto e de um rio. Mâra é a própria morte. Para a filosofia
hinduísta, ninguém morre antes de chegado seu tempo, ainda que ferido por mil
lanças; ninguém vive depois de esgotado seu tempo, ainda que tenha sido apenas
tocado pela ponta de uma folha de grama Kusha.
Gavin Flood, escrevendo sobre os
ritos fúnebres no hinduísmo, para a obra Ritos de passagem, de Jean Holm e
John Bowker, afirma:
“Caso o indivíduo não se
transforme num asceta, então, depois de morto, o corpo será sujeito a ritos fúnebres.
Como em quase todas as culturas, também o hinduísmo considera a morte como
pouco auspiciosa, e, tal como L.A. Babb faz questão de notar, uma morte na família
representa um duplo perigo: a contaminação e um potencial fantasma maligno (
Babb 1975:90 ). O último sanskãra destina-se a neutralizar estes perigos através
da reintegração da família no contexto social de que esteve momentaneamente
separada, ao mesmo tempo que permite ao espírito do morto seguir o caminho que
lhe está destinado, deixando a família em paz.”
No que diz respeito ao luto, é necessário que se diga que a neutralização das impurezas da morte e a liberação
do espírito de todos os laços humanos são conceitos pan-hindus, se bem que os
ritos fúnebres variem consoante as castas mais baixas, a inumação é bastante
comum. Do mesmo modo, tanto os corpos das crianças como os dos homens santos não
são cremados, antes baixando à terra.Os homens santos, depois de se terem
submetido ao enterro simbólico representado pelo ato de renunciar ao mundo,
podem ser simplismente entregues às águas dos rios, pois já transcederam a
sua identidade social.
Ritos Fúnebres
Depois de lhe ter sido concedido o
privilégio de receber um pouco d’água sagrada (de preferência oriunda do
rio Ganges), é costume levar-se o moribundo para fora de casa, permitindo-lhe
assim morrer ao ar livre. O esquema geral dos ritos fúnebres aconselha a que o
corpo seja levado e cremado no dia do falecimento. Deste modo, depois de lavado,
o cadáver é ungido com pasta de sândalo, barbeado, se do sexo masculino,
vestido ou embrulhado num pano e levado para o crematório por um grupo de
familiares e amigos, que, ao contrário do que acontece nas procissões fúnebres
ocidentais, avançam o mais depressa possível, ao mesmo tempo que entoam o nome
de Deus ( v. g., Rãm).
Os pés do falecido são posicionados
na direção do reino de Yama, o deus da morte, que fica a sul, ao passo que a
cabeça fica voltada para o reino de Kubera, o Senhor das Riquezas, a norte. Por
vezes, no intuito de simbolizar a libertação da alma, uma vasilha de barro é
quebrada junto a cabeça do falecido. De acordo com os textos sagrados, a
padiola em que o cadáver é transportado deverá ser acesa com cerca de três a
cinco tochas previamente mergulhadas no fogo sagrado existente no lar do de
cujus, podendo o seu destino ser avaliado em função da primeira tocha a
incendiar o corpo.
As cinzas são recolhidas entre o
terceiro e o décimo dia depois do funeral, sendo depois enterradas ou
espalhadas num rio, de preferência o Ganges, já que é sagrado.
O Luto
Nos dias que se seguem a morte de um
parente, a família é considerada impura. Este período de impureza é de duração
variável, sendo nesta altura que se realizam cerimônias sraddha, que consiste
na oferta de bolas de arroz ao morto, pois é necessário que este tenha um
corpo bem alimentado para enfrentar a vida que por certo o aguarda na morte.
Este corpo demora demora dez dias a formar-se, e só findo este prazo a família
se considera liberta da parte mais perigosa das impurezas da morte. Entre o décimo
terceiro dia e a data do primeiro aniversário da morte, realiza-se o
sapindikarana, o rito que corresponde a última oferta de bolas de arroz
(pinda). Não deixa de ser significativo o fato de o corpo preta assumir a sua
forma definitiva dez dias depois da morte, o que, e como Knipe faz notar,
recapitula os dez meses lunares necessários à gestão do feto. Deste modo, o
ritual sapindikarana pode ser considerado homólogo ao que assinalou o início
do ciclo de vida do indivíduo. Uma vez findo o sapindikarana, o defunt é
libertad do mundo intermediário dos “fantasmas” (pretaloka) e ascende ao
reino dos antepassados (pitrloka).
Túmulos Santos
Na Índia, há ainda uma curiosa crença
no poder dos túmulos dos santos. Acredita-se que esses personagens, entre os
quais se incluem algumas mulheres, ao morrer teriam recebido de Deus o baraka
– um poder benigno que emanaria do além e que poderia beneficiar os vivos.
Jane Schreibman, escrevendo sobre O túmulo dos santos, diz: “Diversas práticas rituais, nas quais
os crentes renovam suas forças espirituais mediante a comunhão com o santo,
tornaram-se comuns junto a esses túmulos. Algumas repetem-se de um canto a
outro do subcontinente indiano, enquanto outras mantêm-se fortemente
localizadas. Uma das mais frequentes é a de acorrentar-se a alguma parte
saliente do túmulo ou à grade que o rodeia. O peregrino pode ficar acorrentado
durante várias horas, ou mesmo vários dias, antes de sentir o poder do santo
agir. Depois disso, continua com a corrente enrolada nos braços, como um símbolo
da graça que recebeu. Não é raro os peregrinos girarem em torno dos mausoléus
até caírem de esgotamento ou vertigem, mas se erguerem e retomarem sua marcha
circular assim que recuperam as forças”.
Fonte:
Tratado de Direito Funerário
Autor: Justino
Adriano Farias da Silva