Já está estabelecida a prática de uma nova mentalidade dos empresários brasileiros
que vai muito além de exercer o papel de dono do negócio. Após um longo período,
descobriram que o investimento social beneficia o trabalhador, sua família e a
comunidade na qual a empresa está inserida, mas também, e principalmente, reflete
diretamente no resultado financeiro da organização, o que lhe garante diferencial
competitivo. Somando-se os incentivos dados por pessoas e entidades filantrópicas,
esta nova postura representa 9 milhões de pessoas atendidas e a movimentação de 12
bilhões de reais anuais. Muitas vezes o investimento aplicado representa uma parcela
do que é produzido ou gerado pela empresa, o que não implica em verbas extras.
Empresas que ainda não investem na área social não o fazem porque não perceberam
a necessidade ou simplesmente não conseguiram organizar-se para a finalidade. Apenas
16% das empresas que atuam na área social têm um departamento ou alguém responsável
exclusivamente para cuidar dos projetos. As demais destinam contribuições a entidades
organizadas que as procuram para obter apoio e estabelecer parcerias. Geralmente são
os próprios donos de pequenas empresas ou a diretoria nos grandes empreendimentos que se
declaram responsáveis pelas atividades sociais realizadas. Além disto, apenas
1/10 das empresas efetua avaliações documentadas sobre as atividades sociais e
menos de 2% divulga as ações sociais desenvolvidas, apesar da cobrança cada vez
maior da sociedade quanto à responsabilidade social empresarial. Isto demonstra
que os empresários deverão ocupar-se mais da divulgação do que fazem.
Aproximadamente um universo de 200 mil empresas, só na Região Sudeste, necessita
de suporte profissional para organizar e implantar projetos de Marketing Social,
inclusive no que se refere aos benefícios fiscais concedidos.
Marketing Social (é assim que a filantropia das empresas está se tornando conhecida),
é o processo de gestão das mudanças de comportamento na sociedade. É, portanto, mais
do que fazer a empresa aparecer pelo social. É promover transformações sociais que
possam garantir a melhoria da qualidade de vida em diversos aspectos. Há a necessidade do
Marketing Social no Brasil porque há déficit social. Não se pode esperar que o
Poder Público, sozinho, atenda a todas as carências da população. Ao contrário,
cabe às empresas privadas interferirem e atuar com objetivo de promover
transformações sociais. No País, como em toda parte, amplia-se o entendimento de
que o desenvolvimento social necessita de envolvimento maior de empresas e
cidadãos.
A adoção de política de Marketing Social requer diversos esforços em diversas áreas.
Praticar Marketing Social é como criar uma empresa dentro da empresa. Pessoas e recursos
devem ser somados objetivando uma perfeita sinergia que possa realmente transformar informação em
conhecimento. É importante poder contar com uma equipe altamente qualificada e
heterogênea, composta por educadores, pesquisadores, psicólogos, artistas,
esportistas, médicos, comunicadores, sociólogos e representantes sociais, de
acordo com o projeto a ser desenvolvido, para garantir riqueza e diversidade de
idéias.
O Marketing Social tem como atribuição central reforçar a auto-estima do cidadão,
ingrediente necessário para a melhoria da qualidade de vida das comunidades. Visar também
o estímulo ao exercício da cidadania, porque ser cidadão é estar no gozo dos direitos civis e
políticos e observar os deveres para com o município, o estado e a nação.
Ações bem-sucedidas precisam ser disseminadas. Aplicar na sociedade formas eficientes e
competentes de administrar é acreditar no poder de administrar com sucesso, não só empresas
como também uma sociedade. Beneficiar-se deste sucesso é uma conseqüência
natural. Mas, mais do que sucesso, precisamos almejar comportamentos adequados a
uma nova sociedade para que, assim, possamos alcançar um futuro melhor.
Ana Claudia Marques Govatto