A segunda oferta
Pergunto ao corretor de imóveis : "Quanto o
proprietário está pedindo por este apartamento?" Ele me responde : "Está pedindo
duzentos mil, mas ... aceita contra oferta".
Pergunto ao balconista : "Quanto é aquela gravata ?"
Ele me responde: "É trinta reais". Eu lhe digo: "Takaru". Ele me responde: "Se o
senhor comprar duas eu lhe faço por vinte e cinco cada uma".
Sabe que aconteceu nesse instante e sabe o que vai
acontecer daí por diante? O que aconteceu é que jamais nem esse apartamento e
nem essa gravata será vendida pelo preço que foi dito, ou seja, o que foi dito
NÃO TEM VALOR ALGUM. O que vai acontecer é que, a partir daí, eu, comprador, me
sinto com todo o direito de continuar espremendo o corretor ou o balconista,
obrigando-os a baixar cada vez mais o preço.
Não há nada mais natural na venda do que o fato do
cliente, ao ouvir o preço, lhe dizer: "Qual é a sua melhor oferta"; ou "faça um
preço melhor que eu compro"; ou "takaru, quanto o senhor pode fazer ?" ou
qualquer coisa desse tipo - enfim; nada mais natural do que a chiadeira do
cliente.
O que acontece normalmente quando o
cliente chia? Imediatamente, o vendedor (despreparado e/ou inseguro) faz uma
segunda proposta, baixando a inicial. Resultado? Com esse procedimento, o
vendedor perdeu TOTALMENTE a sua chance de negociar, pois daí por diante a única
coisa que vai acontecer é o cliente chiar e o vendedor baixar. Não há mais
negociação.
NÃO FAÇA ... NUNCA ... DUAS PROPOSTAS SEGUIDAS!
Desenvolva a habilidade de devolver o problema para
o cliente. Afinal, quem falou que takaru foi ele, portanto, nada mais correto do
que ele dizer o quanto está caro.
Em direito se aprende isto : "Quem alega tem o ônus
da prova". Ou seja, quem afirma tem que provar. Isto pode e deve ser praticado,
integralmente, pelo vendedor. Portanto, se foi o cliente que alegou que takaru,
é dele o problema de nos dizer o porquê, e não do vendedor.
Ao enfrentarmos o problema do takaru, duas coisas podem
estar acontecendo; a saber:
1. Não está caro coisa nenhuma, mas o cliente quer ver
se pode levar alguma vantagem; afinal, não custa nada para ele tentar.
2. Está realmente caro para ele, mas como está
interessado ele dá início à fase da negociação. Em todas estas duas
possibilidades DEVERÁ SER DELE a tarefa de dizer o porquê, e não do vendedor.
Tenho aplicado isto assiduamente nas minhas negociações de honorários
profissionais e o que tem acontecido é o seguinte: o cliente se vê obrigado a
abrir o jogo e se expor. Resultado? A negociação fica muito melhor para mim,
pois não tenho que ficar só baixando. Ao contrário, quem fica com o problema de
baixar o preço é o cliente, eu fico na agradável situação de aceitar ou não a
oferta dele. Em outras palavras ... inverti a situação.
NÃO FAÇA ... NUNCA ... DUAS OFERTAS SEGUIDAS!
Treine algumas formas diferentes de fazer com que o
cliente veja-se envolvido no problema da compra e sinta-se obrigado a se expor e
não apenas espremendo, confortavelmente, você. Depois, veja qual foi a forma em
que se sentiu melhor e passe a aplicá-la.
Depois de algumas tentativas cheguei à conclusão
que, para mim, a melhor forma é a seguinte - quando o cliente me diz : "Muito
bem, agora vamos conversar sobre o seu custo", digo a ele: "Perfeitamente,
senhor ..., estou às suas ordens, o senhor me diz quanto quer pagar e eu lhe
digo se me convém ou não, ou então, a partir daí vamos ver se conseguimos chegar
a um BOM ACORDO para nós dois. O que o senhor acha?"
É claro que o BOM ACORDO é dito de maneira muito
mais enfática porque quero que isto fique ressoando na cabeça dele. Tenho sido
surpreendido por outro aspecto importante nesta questão e que é o seguinte: na
imensa maioria das vezes, a diferença entre o que cobrei e o que o cliente quer
é muito pequena, e o acordo se torna muito mais fácil.
Quando, por exemplo, você diz que é dez e na
primeira chiada do cliente já baixa para nove, pode ter certeza que aquela
chiada não será a única que você vai ouvir, pois ele acaba de descobrir uma
maneira muito fácil de continuar tirando o que puder de você.
NÃO FAÇA ... NUNCA ... DUAS OFERTAS SEGUIDAS.
Eduardo Botelho
Consultor e diretor da Treinamento Eficaz