|
O fragmento de osso repousa sobre um pequeno pedaço de papel com a inscrição
S. Expeditii m.- traduz-se Santo Expedito Mártir. Mal é percebido por trás do
vidro de um relicário de madeira. Pertenceria a Santo Expedito, o padroeiro das
causas urgentes. A autenticidade da peça, porém, colocou em confronto dois capelões militares
e hoje divide os devotos de um dos mártires mais populares
no Brasil. "O corpo jamais foi encontrado. Logo, não há uma relíquia",
conclui o padre João Benedito Vilani, da Igreja de Santo Expedito, no bairro da
Luz, em São Paulo. "Ela é verdadeira", teima Reni Nogueira dos
Santos, capelão da Cúria Militar, em Brasília.
A discórdia começou há oito meses, quando o arcebispo militar do Brasil,
dom Geraldo do Espírito Santo Ávila, recebeu o relicário em Brasília. A
encomenda veio de Roma, intermediada por uma religiosa da Congregação Cristã
para os Santos. No mês passado, um fiel foi encarregado de trazê-la a São
Paulo para que o padre Vilani a expusesse a milhares de devotos. O capelão
paulista recusou-se a fazê-lo. Como a peça não tem um certificado de que é
genuína, padre Vilani colocou em dúvida seu valor.
A Cúria Militar decidiu guarda- lá. "Esperamos que o Vaticano envie
o documento"diz o padre Reni.
A biografia do santo o associa a embates. Comandante de uma legião
romana, os expeditus ele se tornou cristão e foi esquartejado por abraçar a fé,
no século IV. No Brasil, especialmente em São Paulo, não é tão lembrado como
mártir, mas como protetor dos que vivem aflições materiais. "As pessoas
recorrem ao sato para conseguir emprego" atesta o teólogo Júlio César
Moreno.
Defensor fervoroso da exposição da relíquia, o devoto Renato Geraldes tem
uma tese. "É coisa do santo. Ele gosta mesmo é de divulgação."
Geraldes é dono da Gráfica Santo Expedito, em São Paulo, na qual são
impressos 70 mil folhetos de oração por dia. Todos Vendidos.
Revista Época
|
|