Pais Enlutados
Perda de filhos
A perda de um filho implica num tipo muito particular de luto,
pois solicita adaptações tanto sob os aspectos individuais de cada
um dos pais no enfrentamento desta situação, como em
adaptações na relação com o(a) esposo (a), no
sistema familiar e na sociedade.
Quando perdemos um filho perdemos nossa perspectiva de futuro
pois é neles que garantimos a possibilidade de realizar todos os sonhos e
projetos que não conseguimos em nossas próprias vidas. Um filho
não é apenas uma extensão biológica de seus pais,
mas também psicológica, por isso temos a sensação
que perdemos um pedaço de nós.
- Reações a perda de
filhos
O luto por um filho é marcado por muita culpa e revolta,
e por algum tempo chegamos a "brigar" com Deus, por não
conseguir entender (aceitar) o porque de estar vivendo uma dor tão
intensa.
As reações ligadas à perda de um filho
dependem de alguns fatores como:
- a relação prévia entre pais e filho. Por
exemplo: quando existem conflitos no relacionamento, os pais sentem-se mais
culpados após a perda de seu filho.
- a idade do seu filho: não existe uma idade pior, mas
em cada etapa da vida existem fatores que dificultam a elaboração
da perda, como por exemplo na adolescência, fase em que existe maiores
chances de conflitos entre pais e filhos.
- as circunstâncias da perda: o que aconteceu, como
aconteceu, as causas da perda.
- Um número grande de sintomas fisiológicos podem
acompanhar as reações psicológicas e sociais dos pais, como
por exemplo: anorexia, distúrbios gastrointestinais, perda de peso,
insônia, cansaço excessivo, choro, palpitações,
estresse, perda do desejo sexual ou hipersexualidade, falta de energia e retardo
psicomotor, respiração curta.
- E o que acontece no
casamento?
O casamento sofre um grande impacto com a perda de um filho. As
características do relacionamento obviamente serão afetadas
pela maneira como cada um dos parceiros expressa sua dor. A
comunicação tende a complicar-se pois a mãe pode sentir-se
sozinha em seu luto, enquanto o pai pode ver-se lutando para conter sua dor a
fim de poupar o sofrimento da esposa. Estas tentativas de evitar o sofrimento do
outro, muitas vezes gera um distanciamento tão grande nos casais, que
não é incomum ocorrerem separações após a
perda de um filho.
- Perdas paralelas ou
secundárias
Quando perdemos um filho, perdemos também todas as suas
funções explícitas e implícitas dentro do
funcionamento familiar, por exemplo: companheiro da mãe, o "bode
expiatório", o apaziguador, etc. Neste momento, podem ocorrer outros
tipos de perda, como a separação dos pais, dificuldades
financeiras após os gastos com o funeral.
- Lidando com os filhos que
ficaram
Não é incomum os pais atribuírem
qualidades santificadas ao filho, como "o favorito",
"melhor", "mais sensível", ou "especial".
Isto pode intensificar tanto as experiências de luto dos pais como dos
irmãos. Podem acontecer as comparações entre os filhos
vivos e o filho idealizado que morreu. É bom lembrar que esta
criança também está sofrendo pois perdeu um irmão e
porque vê seus pais sofrerem de forma tão intensa como se ele
não fosse capaz de amenizar dor nenhuma. Isto pode trazer sérias
complicações para o desenvolvimento psicológico deste
irmão. Por outro lado os pais vivem sentimentos ambivalentes em
relação aos filhos que "sobreviveram" pois sentem medo
de investir afetivamente nestes, ou por outro lado, passam a superproteger, com
medo de perder estes também. Isto muitas vezes tem um caráter de
castigo por terem sobrevivido no lugar do irmão morto.
Só você sabe o que esta perda representou para
você, portanto respeite-a. Se você entender o seu ritmo e seus
limites para enfrentar a adaptação a esta perda, você
irá lentamente se organizando diante deste sofrimento. Esta dor é
para sempre? De certa forma sim, porque um vínculo com um filho é
único e para sempre, mesmo que a distância. O que acontece é
que a ferida aberta passa aos poucos a cicatrizar-se, mas nunca se
apagará. Você irá se alimentar desta dor por muito tempo,
mas aos poucos irá perceber-se divertindo-se, produzindo, trabalhando,
enfim, vivendo novamente, mas não será a mesma pessoa de antes,
pois esta experiência fará você rever uma série de
valores, crenças e comportamentos.
Peça ajuda quando perceber-se em algumas das
situações citadas abaixo:
- sente vários dos sintomas fisiológicos citados
acima;
- sente muitas dificuldades em compartilhar o sofrimento com
o(a) parceiro(a);
- não consegue relacionar-se com os filhos que
ficaram;
- não sente vontade de comparecer à eventos
sociais já faz um pelo menos seis meses;
- ninguém consegue ouvir você lembrar tudo o que
aconteceu;
- sente-se culpado por brigar com Deus;
- não conseguiu desvencilhar-se de nenhum objeto ou
roupa do filho, mesmo após um ano de sua perda.
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